A banda de rock mais falada do mundo; TVs querem creators
Um grupo que é o retrato de uma geração hiperconectada, multitarefa, ousada e intuitiva; e que invadiu o noticiário e o TikTok
Esta é a MargeM #276. Não sei se você já sabe, mas a MargeM agora está maior e em outros lugares. Não apenas aqui, no seu email, mas também no Instagram e no Spotify.
São conteúdos diferentes, mas que, a gente acha, se completam. Boa leitura!
📺 A Netflix divulgou em julho um balanço com as atrações mais vistas por seus assinantes. Entre os dez shows mais populares, está o infantil “Ms. Rachel”.
Diferentemente de todos os outros shows que estão na lista, que foram produzidos pela/para a Netflix como uma atração de streaming, “Ms. Rachel” foi criado originalmente no YouTube.
“Ms. Rachel” é obra de Rachel Accurso, uma youtuber que construiu um mini-império a partir dos vídeos voltados para crianças. Fez tanto sucesso que levou seu programa à Netflix.
Esse movimento não é isolado. Está se intensificando. Diferentes canais de televisão on-demand e plataformas de streaming estão investindo em conteúdos de creators.
Há uma “tendência emergente – e uma grande oportunidade – para os serviços de streaming premium. Alguns criadores estão migrando para além das plataformas de conteúdo gerado por usuários (UGC), como o YouTube, à medida que buscam diversificar suas fontes de receita. E o conteúdo de criadores está começando a ter mais peso nos planos de mídia, já que algumas marcas procuram maneiras de reaproveitar conteúdos das redes sociais em campanhas para TV conectada (CTV)”.
👉 Operadoras de canais/streaming, como Tubi, Samsung TV e Netflix, entre outras, então ampliando o portfólio de conteúdo de creators para, assim, atrair mais receita publicitária.
“A Tubi, por exemplo, expandiu seu programa Tubi for Creators de seis criadores e 500 vídeos para cerca de 60 criadores e 5 mil vídeos, aumentando significativamente a audiência e o engajamento. Samsung TV Plus também ampliou seus canais liderados por criadores de dois para dez, incluindo a produção de séries originais exclusivas. Netflix anunciou a produção de uma série original com o influenciador Mark Rober para 2026. Essas iniciativas marcam a transição dos serviços de streaming de apenas redistribuir conteúdo para investir em produções originais com criadores.”
🤖 O que um casal faz quando rola uma briga ou quando a relação está degringolando?
Vai ao ChatGPPT, claro.
“Para descobrir como são essas separações e divórcios envolvendo IA, conversamos com mais de uma dúzia de pessoas que afirmam que chatbots de IA tiveram um papel fundamental no fim de seus relacionamentos e casamentos de longa duração.”
A IA dá conselhos como se fosse um “amigo” que não tivesse relação com a situação.
“As experiências que ouvimos soam como uma atualização moderna de uma dinâmica antiga: um parceiro se deixando influenciar por um novo amigo questionável, grupo social ou outro intruso que cria um distanciamento entre o casal em um relacionamento que, antes, era seguro. Mas agora esse intruso é uma IA generativa multibilionária que pode oferecer uma fonte de validação profundamente personalizada e disponível a todo momento — que, em muitos casos, deixa um rastro de destruição em seu caminho.”
“O mesmo software de visão computacional algorítmica que ajuda veículos autônomos a identificar objetos na estrada e encontra sinais de câncer de mama em uma mamografia pode detectar instantaneamente o espermatozóide mais robusto entre centenas de milhares que se debatem em movimentos de rotação – cada um com apenas uma fração da largura de um fio de cabelo. É uma capacidade que supera em muito o olhar de qualquer embriologista treinado. Um braço robótico pode coletar esse espermatozoide e misturar os produtos químicos necessários para que um óvulo permaneça viável. E pode fertilizar um óvulo de maneira delicada e reprodutível, iniciando o momento da concepção.”
Como os robôs estão ajudando humanos a fazer bebês. Vinte já nasceram.
🎸 Fazia um tempo considerável que a gente não via ocorrer o que está rolando com a banda Geese.
Porque as bandas, cantoras e cantores que estimulam a conversa nas redes e ganham cobertura no noticiário podem ser de gêneros variados, como k-pop, reggaeton, pop, rap, trap, forró, funk, dance music, novo r&b. Mas não do rock.
👉 O que está ocorrendo com o Geese é mais ou menos parecido com o que tivemos no início dos 00, quando Strokes, White Stripes, Yeah Yeah Yeahs e LCD Soundsystem nos lembraram que o rock poderia ser, sim, sexy, fresh, carregado de energia e relevante para o agora.
Essa é a sensação que aflora com o Geese. E a banda nem é tão nova assim. O quarteto (formado pelo geniozinho Cameron Winter (vocal, guitarra e teclado), Emily Green (guitarra), Dominic DiGesu (baixo) e Max Bassin (bateria) já está no quarto disco – o último, “Getting Killed”, acaba de sair. E Winter tem ainda um disco solo, Heavy Metal (que é bem bom).
“Getting Killed” revela uma banda que é um retrato de uma geração: hiperconectada, multitarefa, ousada e intuitiva. Não sou só eu quem está falando.
“Finalmente, uma ideia nova no rock and roll”, escreveu a Atlantic, comparando Geese com Pixies, Rolling Stones, Frank Zappa e até Radiohead.
É por aí.
Em uma época em que jovens músicos cresceram com o caos informativo da internet e com praticamente toda a discografia pop à disposição com um ou dois cliques, não se apegar a gêneros estilísticos e beber na fonte de artistas tão díspares quanto Funkadelic, Van Morrison e Strokes é a coisa mais natural do mundo.
A GQ passou cinco dias com os integrantes da “a mais empolgante banda jovem dos EUA”.
É a banda indie “mais quente do país”, afirmou a Interview. O disco “Getting Killed”, para o Guardian, “pode parecer opaco, mas o seu brilho é óbvio: a criatividade, a irreverência, o talento melódico, a atitude – tudo o que se exige das grandes bandas”.
O veterano (e ainda ótimo) Jon Pareles escreveu no New York Times que o Geese “se diverte ao subverter expectativas. Suas músicas transitam pelo post-punk, psicodelia, country, funk e math-rock; o vocalista, alegremente abrasivo, oscila entre o sarcástico e o sincero, cantando de forma suave ou berrando”.
Até o sisudo Wall Street Journal abriu espaço para falar sobre o novo disco deste “animado grupo que mantém as excentricidades com um charme atraente em um gratificante quarto álbum”.
O Cillian Murphy (de Peaky Blinders, Oppenheimer) disse que foi apresentado ao Geese pelo filho e que agora os dois estão “obcecados”.
Não são apenas a imprensa e celebridades que estão falando sobre o Geese. A banda “está dominando o TikTok”.
“Navegue pelo TikTok e você encontrará pessoas postando sobre o Geese, fazendo fancams do Geese, compartilhando edições de memes do Geese e circulando imagens do show pop-up que a banda fez em um telhado do Brooklyn”.
Bom ver uma banda fazer o rock ser novamente bem relevante.
As imagens desta edição estão em “Gordon Parks: a América Sou Eu”, retrospectiva com cerca de 200 fotografias que entra em cartaz no IMS Paulista (av. Paulista, 2424) a partir de 4 de outubro. Parks retratou tanto o cotidiano dos negros nos EUA como a luta de movimentos organizados pelos direitos civis.
→ Um ranking com as 20 melhores músicas do Pink Floyd.
→ Os Viagra Boys (a banda é atração do Lollapalooza Brasil 2026) soltaram uma collab com a Adidas para o lançamento de agasalho e tênis.
→ Música que está no imaginário pop brasileiro, “Muito Estranho” foi lançada por Dalto em 1982. O cantor volta a ela no projeto “Muito Estranho 4.0”, com novo disco, turnê e especial para a TV. O projeto vem com uma faixa inédita, que pode ser ouvida aqui e aqui.
→ A BBC e a Netflix vão lançar uma continuação de Peaky Blinders.
→ Você assiste a filmes ou programas de TV com a legenda ligada, mesmo se o áudio estiver em português? Porque, nos EUA, há uma onda entre os jovens adultos de ver TV com legenda.
→ Acabou de sair lá fora o livro “No Lesson Learned: The Making of Curb Your Enthusiasm”, uma biografia oral da série comandada pelo Larry David. “O que a gente aprendeu com o livro” e um “trecho que revela como foram os batidores da temporada que reuniu os astros de Seinfeld”.
→ “Massageadores de seios, orgias com esqueletos e pênis de cinco metros de altura: Marina Abramović fala sobre sua mostra mais audaciosa até agora.”