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A cultura está estagnada? A internet ficou chata?
Esta MargeM 225 discute se há uma certa falta de inovação nas artes e se a web deixou de ser divertida. E um surpreendente disco do Sudão. E como as redes estão mudando o cenário dos shows
A internet deixou de ser divertida?
É o que pontua este artigo (em inglês, meio longo, mas muito bem argumentado). Segundo o autor, as redes sociais substituíram blogs e sites que funcionavam como ponto de partida para descobertas, diversão e discussões saudáveis. Por um tempo, as redes cumpriram esse papel. Hoje, não mais. Culpa dos algoritmos (que entregam o conteúdo que a gente vê), da desinformação (que é até estimulada por muitas plataformas) e da virulência de gente que não sabe se comportar em sociedade.
Trecho:
“De acordo com Eleanor Stern, que faz ensaios em vídeo no TikTok, parte do problema é que as redes sociais são mais hierárquicas do que costumavam ser. ‘Há essa divisão que não existia antes, entre quem é audiência e que é criador’, disse Stern. As plataformas que têm mais tração com os jovens hoje em dia - YouTube, TikTok e Twitch - funcionam como estações de transmissão, com um criador postando um vídeo para seus milhões de seguidores; o que os seguidores têm a dizer uns aos outros não importa da mesma forma que costumava importar no antigo Facebook ou Twitter. As redes sociais ‘costumavam ser mais um lugar de conversa e reciprocidade’, disse Stern. Agora, a conversa não é estritamente necessária, apenas assistir e ouvir.”
Vamos continuar discutindo as grandes questões culturais do nosso tempo. Outro excelente artigo (também em inglês e também meio longo) tenta entender “por que a cultura está estagnada”, já que este parece ser o “século menos inovador para as artes em 500 anos”. Mas isso “não precisa ser uma coisa ruim”.
O ponto, basicamente, é que as artes (seja a música, o cinema, a literatura, a pintura...) parecem não estar mais buscando a originalidade, o novo, a ruptura com o passado.
“Por 160 anos, falamos sobre cultura como algo ativo, algo com velocidade, algo em contínua movimentação para a frente. O que acontece com uma cultura quando ela perde essa velocidade ou até mesmo para completamente?”, argumenta o autor.
“Estamos agora quase um quarto do caminho em direção ao que parece ser o século menos inovador, menos transformador, menos pioneiro em termos de cultura desde a invenção da imprensa. Há, é claro, novos conteúdos, muitos conteúdos, e há novos temas; existem novos métodos de produção e distribuição, criadores mais diversos e públicos mais globais; há mais canto no hip-hop e mais samples em faixas pop; existem detetives de TV com smartphones e amantes enfrentando mares em ascensão. No entanto, após 23 anos, chocantemente poucas obras de arte em qualquer meio (...) foram criadas que sejam inassimiláveis aos padrões culturais e críticos que o público aceitou em 1999.”
Diante de tantos produtos culturais e informações à disposição no computador ou celular, passado e presente ficam borrados. Para o autor, um exemplo ótimo desse novo momento cultural é Back to Black, o disco de Amy Winehouse: “A primeira obra cultural importante do século 21 que não era nem nova nem retrô, mas se contentava em flutuar no tempo, soando como se não pertencesse a nenhuma era específica”.
Se a busca pelo novo não é mais o que move os artistas de hoje é porque esses artistas estão descobrindo, usando o presente e o passado, novas formas de interpretar o mundo.
Um cara anuncia que está se separando depois de 12 anos de casamento. Outro revela que tem dificuldade para fazer xixi em banheiros públicos.
Os dois posts seriam encarados com certa normalidade em qualquer rede social. Não no LinkedIn, o destino principal para alimentar o "networking" e para falar sobre assuntos relacionados a trabalho.
Posts desse tipo, em que o autor mostra alguma vulnerabilidade ou abre detalhes da vida pessoal estão mais comuns no LinkedIn. É uma tendência que está "transformando o LinkedIn em uma das redes sociais mais estranhas do mundo".
São duas as razões para isso ocorrer: mudança cultural no ambiente profissional (está mais aberto); os mais jovens basicamente não estão nem aí.
E tem gente perguntando: "Por que o Linkedin agora virou uma rede cool?".
As redes sociais estão mudando como os grandes shows são pensados e montados. Já falamos um pouco disso em uma MargeM de janeiro deste ano. O assunto só cresceu.
O CEO da Stufish, empresa que faz a cenografia para shows de nomes como Beyoncé, Elton John e Blackpink, conta que o desenho dos palcos é criado para ser visto não apenas por quem vai ao estádio ou ao ginásio, mas para quem vai ver pelo TikTok ou pelo Instagram, através da tela de um celular.
Se a ideia é colocar um cavalo inflável no palco, o desafio é fazer com que esse cavalo inflável seja "instagramável" para os fãs que estiverem em diversos lugares do show. No Brasil, Ludmilla fez um pouco disso em seu show no The Town.
O executivo diz: "Cada pessoa num estádio tem um ponto de vista um pouco diferente e cada uma delas é a curadora do conteúdo que está prestes a compartilhar com o resto do mundo. Basicamente, qualquer show será julgado pelo momento em que alguém apertou o botão 'enviar' na foto tirada um milissegundo antes disso. Portanto, você precisa ter certeza de que aquilo para o qual eles apontarão a câmera, ficará bem - na câmera.”
Synthesised Sudan – Astro-Nubian Electronic Jaglara Sounds From The Fashaga Underground é o nome de um dos discos mais musicalmente surpreendentes que ouvi neste ano.
São oito músicas (mais duas vinhetas) de Jantra, um sudanês que é desconhecido até mesmo na capital de seu país. Ele mora em Fashaga, cidade no extremo leste, perto da Etiópia e da Eritreia.
É música feita por meio de sintetizador. Futurista, com raízes bem fincadas na música sudanesa, como podemos ler nesta entrevista. Jantra, como outros músicos sudaneses, modifica os instrumentos para que as notas soem de um jeito único.
Ele não costuma gravar as músicas – nos casamentos e festas em que toca, vai sempre improvisando. O dono de um pequeno selo do sudeste da Ásia, Ostinato Records, foi ao Sudão para gravar individualmente elementos das faixas de Jantra. Depois, em um estúdio, montou tudo em canções organizadas em um disco. Sem celular e sem conexão estável com a internet, Jantra ainda não havia ouvido as músicas.
As fotos desta edição da MargeM são da retrospectiva Encounters, de Mary Ellen Mark.
→ Para brigar contra as gigantes do streaming, oito emissoras públicas da Europa se uniram para produzir e distribuir séries.
→ O Google estaria pagando à Apple US$ 18 bi/ano para ser o sistema de busca dos aparelhos da marca.
→ Vai sair uma biografia da Madonna, e a Vanity Fair publicou um trecho: “Madonna, Pepsi, Like a Prayer e o vídeo musical que reconfigurou o capitalismo pop.”
→ O problema dos blurbs (os elogios escritos por autores famosos em capas de livros).
→ “Por que você deveria dividir sua vida em semestres.”
→ OneStop Radio. (Plataforma com mais de 65 mil emissoras de rádio de 230 países.)
→ O astronauta veste Prada: grife italiana vai desenhar uniformes da Nasa.
→ “Depressed but Make It Hot”: Saúde mental virou inspiração para camisetas e blusas.
→ As melhores comidas de rua do mundo.
→ Kagi. Novo sistema de buscas que promete privacidade total aos usuários. Como? Diferentemente do Google, que fatura com anúncios, ele é baseado em assinatura. (A empresa perguntou ao Google Bard que descrevesse as desvantagens de um sistema de busca baseada por anúncios.)
→ Online Safari. (Câmeras registram animais em lugares selvagens)
A cultura está estagnada? A internet ficou chata?
https://open.substack.com/pub/tedgioia/p/why-do-i-keep-saying-the-culture?r=222vz6&utm_medium=ios&utm_campaign=post
Que falta fazem os blogs ! Principalmente os de música. Quanta coisa boa eu aprendi e descobri com eles, lá nos idos de 2006, 2007 !