A nova nostalgia
MargeM 169 na área. PinkPantheress e a música para os “extremamente online”. O autoritarismo e o corpo das mulheres. Only Murders in the Building. E mais.
Música para os "extremamente online".
É o que faz a PinkPantheress, cantora/produtora inglesa de 20 anos que tem mais de 1 milhão de seguidores no TikTok e mais de 10 milhões de streamings/mês de suas faixas no Spotify.
Há poucos dias, ela soltou o primeiro lançamento "oficial": a mixtape To Hell With It, que tem músicas como Just for Me e Break it Off, superhits no TikTok, e a espetacular I Must Apologise, que já aparecei aqui na MargeM e é tipo um drum'n'pop'n'bass que sampleia a clássica Gypsy Woman, da Crystal Waters.
Que tipo de música faz PinkPantheress? Um pop que é a cara de 2021: lembra muita coisa e muita coisa diferente, principalmente dos anos 90 e 00, e tudo é retrabalhado de forma a transmitir sensações que pegam imediatamente o ouvinte. E formatado pra ser consumido rapidamente, músicas de dois minutos de duração. É a economia da atenção também no pop.
De certa maneira, PinkPantheress se encaixa no que o Ronaldo Lemos chama de Grande Ruptura: uma produção que se faz a partir das redes sociais e ferramentas digitais e para a qual o “objetivo final não é transmitir informação, mas modular experiências imediatas, especialmente estados emocionais; é muito mais experiência do que conteúdo”.
Segundo a própria PinkPantheress, dá pra chamar de "new nostalgic".
Ela é bem jovem, mas dá pra perceber que sabe muito bem o que está fazendo. Nesta ótima entrevista, ela diz sobre as faixas que produz: "Você está ouvindo muitas músicas que costumava ouvir em apenas uma, ao mesmo tempo. É essencialmente por isso que parece nostálgica".
Abaixo, uma faixa que é a cara da PinkPantheress e de To Hell With It.
"O autoritarismo começa com o controle sobre o corpo das mulheres", diz a sempre afiada Gloria Steinem, 87 anos.
Nesta entrevista ela fala, claro, sobre feminismo, mas vai além:
"Tanto o gênero quanto a raça são completas construções culturais, e o patriarcado é um sistema muito forte e muito normalizador [dessa construção]. Mesmo assim, acredito que as mulheres se sentem mais livres do que antes. Também tem a ver com a idade. Em algumas mulheres, os anos centrais da sua vida estão muito marcados pelo gênero, mas a infância e a velhice, não. Primeiro, porque o gênero está na cultura, e essa cultura ainda não chegou a uma menina de oito ou nove anos, já que não está na idade reprodutiva. É nessa idade que sobem em árvores e dizem que sabem o que querem. Na adolescência isso muda. E, depois, as mulheres mais velhas se tornam incrivelmente livres, voltam a essa menina pequena que faz o que quer."
Depois que o TikTok foi banido da Índia, o Instagram está tomando o lugar que estava ocupado pela rede chinesa. Mas não é a mesma coisa. “O TikTok era um espaço mais democrático, mais aceitável para mudanças”, diz uma jovem de 24 anos. “O Instagram tem sido o lugar para uma… fantasia de uma vida melhor; da moda e melhor estética.”
Antes de ser proibido no país, dos 15 mais bem pagos tiktokers do mundo, quatro eram da Índia. “O TikTok era uma cantina; o Instagram é um café. Mas a cantina tem comida melhor, e o café serve um espresso caro que nem todo mundo bebe”, disse a jovem.
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Maria Bopp: "As redes sociais estão adoecendo a gente. Estamos reproduzindo a lógica binária de 'ou você é isso ou você é aquilo'. Se não se posiciona, automaticamente é fascista, sendo que a gente não sabe qual é a cruz que cada um carrega. Existe um custo enorme em se posicionar."
Adoro histórias da música pop e este artigo sobre a cena musical da Iugoslávia nas décadas de 70 e 80 é uma delícia: “Antes da guerra civil, os músicos iugoslavos desafiaram as limitações da tecnologia para fazer um excelente electro-pop em uma aparente utopia socialista”.
Coisas legais por aí
Only Murders in the Building. Comédia com um toque de thriller estrelada por Steve Martin e Selene Gomez. Três moradores de um prédio tentam descobrir quem matou um cara que também residia ali. E transformam a investigação num podcast tipo true crime. No cardápio do Star+.
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Val. Emocionante documentário sobre Val Kilmer, ator de filmes comoTop Gun e que recentemente sofreu com um câncer na garganta.
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Calls. Seriado em nove episódios (bem curtos) com uma história que envolve desaparecimentos misteriosos. Mas aqui temos apenas os diálogos na tela –os personagens conversam por telefone, e vemos as falas de cada um na tela. Só isso –além de algumas imagens digitalmente abstratas. É como ouvir um podcast pela TV.
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Na Batida da Procura Perfeita. Nova faixa do ótimo rapper Don L –mas aqui o rap abre espaço para uma atmosfera anos 70, meio soul-funk. Muito boa. E o vídeo saiu em parceria com o Kwai –por isso, foi filmado na vertical.
Wet - Bound (com Blood Orange)
Parece que o Blood Orange não erra. Aqui ele aparece em uma deliciosa viagem perfumada por disco-funk-acid.
Chegou o Selo Igual, iniciativa do Women's Music Event que pretende estimular festivais, festas, clubes, casas de shows, gravadoras, editoras e distribuidoras a terem pelo menos metade de suas equipes composta por mulheres, pessoas não-binárias ou trans.
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Consórcio que tem como um dos integrantes a Live Nation vai construir arena para show no Anhembi, em São Paulo.
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Nesta entrevista, Dave Gahan (Depeche Mode) conta que o melhor show que viu na vida foi um do Sigur Rós e diz: "Arrependimento é uma palavra estranha. Eu não olho mais para trás na minha vida desse jeito, não uso desculpas para as escolhas que fiz".
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Margot Tenenbaum: 20 anos depois, o estilo da personagem permanece ótimo.
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Prêmio milionário revela que escritora ‘best-seller’ espanhola, na verdade, eram três homens.
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Após “ataque” na Bienal, Cripta Djan escala a arte e põe seu pixo em telas.
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Mural de Keith Haring em São Paulo tem restauro concluído.
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O IMS inaugura neste sábado (23) a expo Constelação Clarice (no ano que vem vai pro RJ). São 11 núcleos temáticos distribuídos em dois andares, com objetos pessoais e manuscritos da escritora autora. E há a relação de seus trabalhos com obras de artistas de sua época. Visitas com agendamento por aqui.
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Apps como Headspace e Calm ficaram bastante populares ao oferecerem sessões de meditação. Mas funcionam realmente ou são apenas "remendos"? Tem gente que chama de "fast-food espiritual".
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O Spotify está abrindo acesso para que podcasters postem seus programas também em vídeo.
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Frustração e depressão na volta ao escritório. "Os distúrbios psicológicos se multiplicam após a covid-19 e se tornam mais visíveis no mundo do trabalho."
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A felicidade eudaimônica explica por que muitas pessoas só se sentem satisfeitas por meio do trabalho.
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O Tom Morello começou a escrever uma newsletter pro NYT.
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Em vídeo: desistir de algo pode ser uma atitude corajosa.
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Museus de Viena começaram a colocar imagens de nus no OnlyFans.
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Alguns dos bares nos locais mais remotos do planeta.