A série Adolescência é tudo isso mesmo?
Por que tanta gente está falando tanto sobre essa atração em que cada episódio é filmado em um plano-sequência. Os novos números da indústria da música. Esta é a MargeM 255
Os quatro episódios chegaram ao streaming na quinta-feira (dia 13). Vi todos eles na sequência. Na sexta, postamos um texto com as nossas (ótimas) impressões na nossa rede.
Tô falando aqui, claro, de Adolescência, a minissérie da Netflix que virou assunto quente (ainda bem) ao abordar temas tão espinhosos quanto muito atuais: masculinidade, bullying e choque geracional entre pais e filhos.
Um triunfo audiovisual no conteúdo e na forma. Foi isso o que escrevemos sobre a minissérie na sexta-feira. E, acredite, não estou exagerando.
E por que Adolescência é tudo isso? Por que é um dos melhores, se não o melhor, lançamento do streaming no momento?
Basicamente, por dois motivos.
1: A história.
Adolescência gira em torno da prisão de um jovem de 13 anos (Jamie), acusado de ter matado uma colega da escola (Katie). Ele realmente é o culpado? Por que a menina foi morta? Como é a relação dos alunos na escola?
Não é baseado em uma história real, mas um dos criadores disse ter se inspirado em episódios relacionados à “manosfera” e aos “red pills”.
Bullying, isolamento, o universo incel e a parentalidade são algumas das questões que são muito bem discutidas.2: O formato.
Cada um dos quatro episódios de Adolescência é filmado em um plano-sequência, ou seja, em um take sem cortes.
O formato não é usado como exibicionismo técnico: aqui, empresa tensão e angústia ao roteiro. Os personagens vão se revelando como se fosse em tempo real.
Esse formato funciona especialmente bem no terceiro episódio, em que temos basicamente a interação entre Jamie e uma psicóloga, dentro de um ambiente fechado, com a câmera se movendo apenas o necessário para captar as reações e os gestos dos dois personagens. É de roer as unhas.
Não é uma série, digamos, “fácil” de assistir, por tudo aquilo que discute. Mas, mesmo abordando tanta coisa, é uma narrativa com tensão e ritmo, além de contar com excelentes diálogos e atuações primorosas.
Muita gente tem falado muita coisa sobre Adolescência. Por exemplo: uma crítica da New Yorker sentiu falta de um certo aprofundamento psicológico de alguns dos personagens (não concordo), mas elogiou a forma como a série mostra o abismo geracional entre pais e filhos (concordo):
“Quando o filho de Bascombe (o policial) lhe explica que corações vermelhos, amarelos, roxos e laranjas têm significados diferentes entre seus colegas de escola no Instagram — uma revelação que invalida a teoria do detetive sobre o que Katie significava para Jamie e vice-versa — é quase possível enxergar o abismo se alargando. Nas mãos dos adolescentes, cada emoji poderia muito bem ser um hieróglifo; só com a boa vontade de um intérprete da Geração Z é que um avanço pode ser alcançado. O crime é resolvido no final, mas a infância moderna masculina continua sendo um mistério”.
No Guardian vi dois ótimos textos.
Um é este, que tem título meio caça-cliques (“Será este o programa de TV mais assustador da atualidade? Adolescência, o drama que promete aterrorizar os pais”), mas que traz boas entrevistas com atores (como Stephen Graham, que interpreta o pai de Jamie e é um dos co-criadores) e equipe (como o diretor, Philip Barantini, o mesmo do longa O Chef).
Graham afirma que não queria que a série se concentrasse em certos problemas familiares para justificar qualquer atitude dos jovens:
“Eu não queria que o pai fosse um homem violento. Eu não queria que a mãe fosse uma alcoólatra. Eu não queria que nosso jovem garoto fosse abusado pelo tio Tony. Eu queria eliminar todas essas possibilidades para que pudéssemos dizer: ‘Ah, é por isso que ele fez isso’.”
Já Barantini diz que o recurso de filmar cada episódio inteiramente em plano-sequëncia não surgiu por exibicionismo técnico:
“Eu nunca quis que o elemento de ser filmado em um único take fosse o foco principal. Queria que fosse algo fluido, não um espetáculo.”
O outro texto legal do Guardian é este em que o título já resume o teor: “A coisa mais próxima da perfeição na TV em décadas”.
Já esta reportagem explica como as filmagens foram realizadas. O primeiro episódio, por exemplo, foi filmado em cinco dias, e a versão que foi ao ar foi a da segunda filmagem. Já o segundo episódio, com 370 figurantes, teve 13 filmagens.
Criador de Freaks & Geeks e diretor de episódios de The Office e Mad Men, entre outros, Paul Feig disse: “O primeiro episódio de Adolescência é uma das melhores horas de televisão que já vi. Uma obra-prima emocional e tecnológica, a série funciona em todos os níveis”.
A Rolling Stone cravou: “Adolescência é angustiante, comovente e imperdível. A minissérie da Netflix combina atuações brilhantes e uma abordagem cinematográfica audaciosa para contar uma história complexa sobre o mundo em que crianças — e pais — vivem hoje”.
O argentino Página 12 descreve a série como sendo “fundamentalmente e acima de tudo uma imersão profunda na desconexão empática e um drama familiar que surge a partir dos atos mais inesperados”.
O Rodrigo Salem chamou de “a melhor série da década”.
E, para a Variety, Adolescência é “devastadora, intensa e tem atuações impressionantes”.
***
O fato de todos os episódios terem sido filmados em plano-sequência faz a gente assistir a certas cenas (como a do final do segundo ep) e se perguntar: como, COMO eles conseguiram? Um desses momentos é o final do segundo ep, e aqui eles contam como fizeram.
E, quanto à pergunta do título desta edição da MargeM, já deu pra sacar qual é a resposta, né?
Como está o mercado da música no Brasil? Segundo relatório elaborado pela Pro-Música divulgado nesta quarta (19), não está nada mal.
A indústria da música no Brasil faturou R$ 3,48 bilhões em 2024 (o nono maior do planeta). O crescimento foi de 21,7% em relação ao ano anterior.
E o principal responsável por esses números superlativos foi o streaming, que gerou 87,6% das receitas do setor.
O crescimento da indústria da música no Brasil foi bem superior ao do restante do mundo. Relatório da IFPI (Federação Internacional da Indústria Fonográfica) mostra que o setor subiu 4,8% em 2024. O faturamento total foi de US$ 29,6 bilhões (cerca de R$ 168 bi).
No mundo, o streaming também é o principal agente gerador de receitas na música. As plataformas somam 752 milhões de usuários de assinaturas pagas.
Uma curiosidade: o mercado de vinil no Brasil movimentou R$ 16 milhões em 2024, enquanto o de CD arrecadou R$ 5 milhões.
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Já vou assistir essa série!