Aos prantos com um livro
Esta MargeM 193 vem meio curta, mas tem o espetacular livro da Michelle Zauner, que é também vocalista da banda Japanese Breakfast. O ótimo disco da Deize Tigrona. E mais.
Uma história que envolve pertencimento, descobertas, perdas e amadurecimento, desenrolada de um jeito esperto, sensível, tocante, divertido e irresistivelmente franco. Este é Aos Prantos no Mercado, livro de memórias da coreana-americana Michelle Zauner, que sai em 17 de outubro aqui no Brasil.
Recebi há poucos dias por meio do Bússola, um dos clubes de assinatura da Dois Pontos. Passei voando pelas 282 páginas. Fácil um dos melhores livros que li nos últimos anos.
Além de escritora talentosa, Zauner é vocalista e guitarrista (e cérebro) da Japanese Breakfast, uma banda que faz músicas que vão de um rock bem pop a estruturas mais experimentais. O quarteto já lançou três discos (o meu preferido é Soft Sounds from Another Planet, o segundo, de 2017). Zauner & co estarão no Brasil no início de novembro, no festival Primavera Sound.
No livro, Zauner escreve bastante sobre a relação com a mãe, Chongmi, uma coreana que emigrou aos EUA quando Zauner tinha oito meses de vida. Chongmi morreu em 2018, vítima de um câncer que a atacou rápida e violentamente. (O pai, Joel, é descrito de maneira nada elogiosa, principalmente pela ausência.)
Mas não é um livro apenas sobre o luto (ou sobre como o luto ajudou a moldar a artista que se tornou). É, também, uma emocionante afirmação da identidade coreana de Zauner. E ela demonstra isso muito por meio da comida. Dá para perceber logo que ela adora comer, e assim deliciosas descrições de pratos coreanos temperam trechos em que Zauner rememora passagens da vida.
"Em um intervalo de cinco anos, perdi minha mãe e minha tia para o câncer. Então, quando vou ao H Mart [um supermercado nos EUA especializado em produtos orientais], não estou apenas em busca de frutos do mar e três ramos de cebolinha por um dólar; estou à procura de memórias. Estou colhendo evidências de que a metade coreana da minha identidade não morreu quando elas morreram. O H Mart é a ponte que me guia para longe das lembranças que me assombram, de cabeças de quimioterapia e de corpos esqueléticos e anotações de miligramas de hidrocodona. Faz com que eu me lembre de quem elas eram: lindas e cheias de vida, colocando anéis de biscoito com mel Chang Gu nos dez dedos, mostrando para mim como chupar uma uva coreana da casca e cuspir as sementes."
Este é o último parágrafo do primeiro capítulo de Aos Prantos no Mercado. Esse capítulo foi publicado, como um ensaio, na revista New Yorker em agosto de 2018. Zauner ainda não era tão conhecida pela música e nunca tinha pensado em escrever um livro. Mas era um ensaio tão bem escrito e tão emocionante, que muitas editoras perceberam que aquele material poderia virar um ótimo livro. Virou mesmo.
Michelle Zauner é excelente em livro e em música. Aqui, uma que adoro.
Muito legal que Deize Tigrona esteja lançando Foi Eu Que Fiz, disco com sete faixas produzidas por gente como BadSista, JLZ e Fred Chernobyl, entre outros, pouco depois de um Rock in Rio que motivou tanta falação a respeito de quem apareceu antes no funk.
Deize é, sim, uma pioneira do funk brasileiro. Desde o início dos anos 2000, lançou músicas que hoje são clássicas (tipo Injeção). Teve ótimos anos, mas na última década sofreu bastante, principalmente por causa de uma depressão que a tirou do estúdio. Nos últimos anos, trabalhou como gari no Rio.
Foi Eu Que Fiz tem letras explícitas e divertidas (como em Sururu das Meninas e Ibiza) e musicalmente é rápido e agressivo. Pode ser o reencontro de Deize com uma bem-sucedida carreira na música.
Se havia uma sensação de que Big Techs como Meta (Facebook) e Google estariam acima de crises ela está sendo arranhada: as duas empresas vão cortar custos (e, por tabela, demitir funcionários).
A torneira que jorrava dinheiro vem secando há um tempo: recuo em contratações, redução de benefícios e reorganização interna. Como contextualiza esta reportagem, essas companhias estavam há anos dançando em cima de grana forte. Agora, diz uma fonte à matéria: "A festa acabou".
Um trecho da reportagem: "Os preços das ações da Meta caíram cerca de 60% no ano passado, e a Alphabet, controladora do Google, caiu cerca de 30% no mesmo período. Tanto o Google quanto o Facebook avisaram abertamente aos funcionários que, para aqueles que permanecerem, a empresa começará a exigir mais deles."
E aí, vamos aumentar o fim de semana em mais um dia? Mais um estudo afirma que a produtividade não cai com uma semana de trabalho de quatro dias (em relação à tradicional, de segunda a sexta).
"Quase na metade do teste de seis meses, no qual funcionários de 73 empresas recebem um dia de folga remunerado semanalmente, 35 das 41 empresas que responderam à pesquisa disseram 'provável' ou 'extremamente provável' a respeito de continuar o período de quatro dias (mesmo depois do período de testes). Das 41 empresas, 39 disseram que a produtividade permaneceu a mesma ou melhorou. Notavelmente, seis empresas disseram que a produtividade melhorou significativamente."
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Livro foi pra lista.
Lembro muito quando a Deise Tigrona começou a tocar em algumas casas eletrônicas em São Paulo e foi parar até no Skol Beats.
To louca pra ler esse livro, que demais que estão lançando traduzido pra português.