As IAs e a música como linha de montagem
As versões em ritmo soul e disco-pop de faixas funk feitas pelo núcleo Blow Records viralizaram nas redes. Mas é tendência musical ou jogada de negócio?
Obrigado por estar aqui com a gente, em mais uma edição da MargeM, a de #265.
Esta é uma newsletter que nasceu em 2019 e se transformou em plataforma de conteúdo. Temos, por exemplo, mais uma playlist quentinha, que reúne David Byrne, Clipse, Don L, Wet Leg, Hot Chip, Rico Dalasam, Four Tet e mais um monte de gente legal.
Com a playlist na cabeça, vamos pros assuntos que estão mexendo com a gente.
Se você passou boa parte das últimas semanas no Tik Tok ou no Instagram ou em grupos do WhatsApp, talvez tenha dado de cara com alguma música da Blow Records.
São, basicamente, faixas funk recriadas em ritmos como soul e disco-pop e com um visual retrô. E, importante, feitas com (muita) ajuda de IA.
A ideia é um sucesso, viralizou nas redes e tá levando grana para o cabeça do projeto, Raul Vinicius. Em poucos meses, o núcleo já tem dezenas de versões na praça, e pela rapidez com que tudo é feito, os lançamentos vão continuar saindo como numa linha de montagem.
Ao G1, ele conta que leva “de uma a quatro horas para produzir um remix. O vídeo demora cerca de trinta minutos”.
O que eu acho disso?
Menos criação estética ou tendência musical, para mim é mais uma sacada de negócio. Parece uma startup que surgiu para preencher um nicho que se abriu com a chegada das IAs.
E o Felipe Vassão lembra neste ótimo vídeo, entre outras coisas, que transformar músicas de um gênero em faixas de outro gênero “é uma coisa já antiga” e as produções artísticas feitas por IAs “precisam ser analisadas com mais espírito crítico”.
Já sabemos que a infraestrutura para alimentar as inteligências artificiais consome uma enormidade de quantidade de água. O que a gente ainda não tinha visto (eu, pelo menos) é como isso já está afetando as pessoas na prática.
Tipo um casal que mora em uma cidade na Geórgia (EUA) e que viu as torneiras de sua casa secarem depois que a Meta começou a construir um data center na região.
“Meses após o início da construção, em 2018, Beverly Morris, de 71 anos, relatou que a lava-louças, a máquina de gelo, a máquina de lavar roupas e o vaso sanitário da residência pararam de funcionar. Em um ano, a pressão da água havia diminuído drasticamente, até que nada mais saía das torneiras do banheiro e da cozinha.”
Segundo a reportagem linkada acima, um data center como esse costuma consumir cerca de 1,89 milhão de litros de água – em apenas um dia.
Mais:
A Meta anunciou que vai inaugurar um data center na Louisiana com 5 GW de potência elétrica (para comparação: 1 GW é o suficiente para alimentar com energia elétrica cerca de 750 mil casas).
Até 2030, os EUA consumirão mais energia para processar dados do que para fabricar alumínio, aço, cimento e produtos químicos juntos.
“Por anos, milhares de casacos de cashmere da Loro Piana foram fabricados em oficinas ilegais nos arredores de Milão, onde trabalhadores migrantes sem documentação eram forçados a trabalhar até 90 horas por semana por apenas € 4 por hora”.
A indústria do turismo está crescendo de forma acentuada: hoje, há cerca de 1,4 bilhão de pessoas que fazem viagens internacionais. Um dos países que mais sente os efeitos desse crescimento é o Japão, em particular, a cidade de Quioto.
No ano passado, Quioto recebeu mais turistas do que Paris, Barcelona e Amsterdã.
Turistas gringos pagam US$ 20 para alugar quimonos e fazer fotos pelas ruas da cidade. Entram em casas de pessoas idosas achando que era um local público.
“Estava em Quioto há apenas alguns dias, mas fiquei surpreso com a quantidade de viajantes que pareciam tratar a cidade como um parque de diversões.”
E inventaram o “cinema privativo”.
É um complexo de cinema com várias salas, em que cabem de quatro a 20 pessoas em cada uma. O grupo paga cerca de US$ 50 por cabeça, mais uma grana para comida (US$ 100/cabeça) e bebida (US$ 50/cabeça).
A ideia (meio absurda, acho, mas vá lá) é do fundador de uma rede de salas de cinema nos EUA. As pessoas vão poder escolher o filme (lançamentos ou produções antigas) e passar até quatro horas no local. O primeiro complexo deve ser inaugurado em Nova York entre agosto e setembro.
As fotos desta edição são da série The Tourist, da canadense Kourtney Roy. O trabalho “reúne todas as marcas registradas de Roy (…): o autorretrato, uma abordagem cinematográfica, sua paleta de cores característica, além de uma tensão constante entre o espirituoso e o sinistro, o convencional e o não convencional, o glamour e a decadência”. Pode ser vista em expo e em livro.
→ A Odisseia, próximo filme do Christopher Nolan, vai estrear apenas em 17 de julho de 2026. Mas os ingressos para as sessões em IMAX nos EUA começam a ser vendidos um ano antes, já nesta quinta.
→ Há 40 anos, o Live Aid foi realizado em Londres e na Filadélfia. Juntou gente como U2, David Bowie, Black Sabbath, Queen, Madonna e The Who (teve ainda uma reunião desastrosa do Led Zeppelin), entre outros. Os shows foram exibidos para mais de 150 países, com audiência de cerca de 1,5 bilhão. Bob Geldof, organizador da coisa toda, diz que o momento em que houve maior número de doações foi durante a apresentação de Bowie e que um evento desse “não seria feito hoje”.
→ O Jack Dorsey lançou dois apps em uma semana. (Spoiler: um deles monitora a quantidade de vitamina D absorvida pelo usuário; o outro possibilita a troca de mensagens por meio de bluetooth.)
→ Ex-CTO da OpenAi, a Mira Murati abriu a própria empresa de IA, a Thinking Machines. De cara, conseguiu US$ 2 bi de investidores. (Detalhe: a startup tem menos de um ano de vida e não se sabe ainda o que vai produzir.)
→ Criadores que roubam e republicam vídeos podem perder a monetização no Facebook.
→ “Visionária escritora japonesa de ficção científica, Izumi Suzuki antecipou décadas atrás o mal-estar contemporâneo, em textos que combinam a melancolia pelo fracasso do radicalismo dos anos 1960 com o ceticismo em relação a um mundo de telas onipresentes”.
→ Jornalista cria experimento para mudar personalidade e ser mais feliz.
→ Restaurantes em época de redes sociais: para chamar a atenção dos clientes, chefs estão usando (muito) sal: “‘Os custos estão subindo, as porções estão ficando menores, todo mundo está distraído tirando fotos, então a forma de chamar a atenção das pessoas é intensificar os sabores’, afirma um chef, que chama isso de era do ‘Máximo Sabor’”.
→ O alimento quiet luxury: pistache.
→ Tem quebra-cabeça que custa R$ 45 mil.
→ E os Labubus? Os lucros dispararam para a fabricante chinesa de bonecos que viralizou no mundo todo. (“As vendas aumentaram 5.000%, lojas em todo o planeta estão com estoque esgotado e Pequim apreendeu 46 mil Labubus falsos em uma operação de repressão.”)
Sensacional, obrigado
Obrigado!