É o fim da indústria editorial como a conhecemos?
As IAs estão acabando com o acesso aos sites e aos livros. O casamento do Jeff Bezos. O empurrão que o Tik Tok deu para uma música do Coldplay. As melhores músicas da Lorde
Estamos aqui, eu e você, com a MargeM #264, uma newsletter que nasceu em 2019 e se transformou em plataforma de conteúdo. Estamos no Instagram, com posts sobre assuntos quentes, e no Spotify, em que montamos playlists com músicas que estão fazendo a nossa cabeça (e o coração).
Então vamos lá.
“Os veículos de comunicação criam valor, mas as empresas de IA estão interceptando suas audiências, taxas de assinatura e receitas publicitárias.”
“Editoras de livros, especialmente as de não ficção e livros didáticos, esperam uma queda imensa nas vendas, já que os chatbots podem tanto resumir os seus livros quanto fornecer explicações detalhadas sobre os conteúdos.”
Esses são trechos desta matéria, que tem o alarmante título “O fim da indústria editorial como a conhecemos; os bastidores do ataque do Vale do Silício à mídia”.
Basicamente é o seguinte: até a chegada das IAs, quando queríamos encontrar ou descobrir algo, íamos a um site de busca, digitávamos palavras-chave e clicávamos nos links que achávamos mais apropriados para a nossa busca. Assim, gerávamos tráfego para os sites.
Com as IAs, o clique em links, e o tráfego aos sites, pode deixar de existir. Porque as máquinas já fornecem a resposta àquilo que procuramos. “De acordo com um estudo abrangente, o AI Overviews do Google já reduziu o tráfego para sites externos em mais de 34%.”
No mercado de livros, acontece coisa semelhante: em vez de comprar uma obra, as máquinas resumem o texto com os pontos (que ela acha) mais importantes. Para que alguém vai gastar grana (e tempo) com o livro?
A New Yorker tenta entender como as IAs estão influenciando a maneira como vivemos neste texto em que pergunta: “O que está acontecendo com o hábito de leitura?”.
“O antigo e idealizado tipo de leitura —intenso, prolongado, do início ao fim, com textos cuidadosamente elaborados— tornou-se quase anacrônico. Esses leitores podem começar um livro em um e-reader e depois continuar a leitura por meio de narração em áudio enquanto estão em movimento. Ou podem simplesmente deixar os livros de lado, passando as noites navegando pelo Apple News e Substack antes de se perderem no fluxo interminável do Reddit. Há algo tanto difuso quanto concentrado na leitura hoje em dia; envolve muitas palavras aleatórias passando pela tela, enquanto a presença constante de YouTube, Fortnite, Netflix e similares garante que, uma vez que começamos a ler, precisamos escolher continuamente não parar.”
Neste outro, a revista afirma que a “IA está homogeneizando os nossos pensamentos”, com base em estudos já realizados nos EUA.
“Sugestões de IA ‘atuam de forma discreta, às vezes de maneira muito poderosa, para influenciar não apenas o que você escreve, mas também o que você pensa’. O resultado, com o tempo, pode ser uma mudança no que ‘as pessoas consideram normal, desejável e apropriado’.”
Ainda no tema:
→ Um grupo de escritores acusa a Microsoft de usar quase 200 mil livros pirateados para criar um modelo de inteligência artificial.
→ “A morte dos ensaios estudantis –e o futuro da cognição”.
→ “A IA não está apenas impactando a maneira como escrevemos —ela está mudando a maneira como falamos e interagimos com os outros.”
A Netflix está, cada vez mais, se aproximando de ser uma TV a cabo.
Primeiro, criou uma opção de assinatura sustentada por anúncios. Depois, passou a investir em eventos esportivos ao vivo.
Agora, armou uma parceria com a francesa TV1 para exibir programas da emissora.
“A TF1 usará a plataforma da Netflix para transmitir programas como Brocéliande e The Voice, além de grandes eventos esportivos ao vivo no país. A maior emissora comercial da França exibirá todos os seus cinco canais lineares na Netflix, além de mais de 30 mil horas de programas de TV disponíveis sob demanda.”
E, “embora este seja apenas um acordo com uma emissora na França, a iniciativa pode ter implicações mais amplas. A Netflix está determinada a expandir seu negócio de publicidade —daí os investimentos da empresa em transmissões ao vivo, como os jogos da NFL no dia de Natal. O objetivo é que os anúncios deixem de ser uma pequena parte do negócio e passem a contribuir de forma significativa —pelo menos 10%— para a receita total da empresa, que no ano passado somou US$ 39 bilhões”.
Não é apenas o apetite pelo poder o traço de personalidade que une os barões das big tech. É, também, a cafonice.
Jeff Bezos está se casando pela segunda vez. Com Lauren Sánchez, neste final de semana, em Veneza. Mas, claro que o comandante da Amazon não faria qualquer cerimônia.
O casamento tem números e dados superlativos: duração de três dias; custo de cerca de US$ 50 milhões; lista de convidados com mais de 200 celebridades e gente da elite dos negócios, que se hospedam em hoteis como Cipriani e Aman; 95 jatos fazem o transporte dessa galera.
Em um mundo tomado pela desigualdade e ameaçado pelas mudanças climáticas, temos um bilionário que decide fazer uma festa ostentatória acessada por um dos meios de transporte mais poluentes que existem.
Bilionário que fez fortuna com uma empresa, entre outra coisas, acusada de limitar a ida ao banheiro de seus funcionários (sem falar na questão tributária, em que a empresa é, há tempos, acusada de pagar menos do que deveria). E que faz esse tipo de festa em uma cidade que está afundando muito por culpa das mudanças climáticas.
Os italianos estão protestando. Criaram um grupo chamado No Space for Bezos e ameaçaram colocar crocodilos infláveis nos canais à beira de uma das festas do casamento (o que fez Bezos mudar o local).
O Rutger Bregman, autor de Humanidade: Uma História Otimista dos Homens, escreveu um ótimo fio no X, em que afirma que a escolha de Veneza para a festa foi “apropriada”:
“O local é bastante apropriado. A queda da República de Veneza é um dos exemplos mais reveladores da história de como grandes civilizações podem apodrecer por dentro —não por uma conquista externa, mas pela decadência e corrupção das elites”.
Ainda no tema:
→ “Como os segundos casamentos deixaram de ser discretos para se tornarem luxuosos”.
Até o Coldplay ganha um empurrãozinho do Tik Tok.
Presente no primeiro disco da banda, Sparks é uma música linda sobre um cara que tenta se reconciliar com seu amor.
A faixa nunca foi um hit, mas é boa, tanto que costuma ser tocada nos shows. Como em um recente que o Coldplay fez em Las Vegas –pouco depois de Chris Martin, o vocalista da banda, ter se separado da atriz Dakota Johnson.
Aí um fã que foi ao show fez um vídeo de Sparks na apresentação e colocou no Tik Tok com a legenda “Quando você não quer acreditar nos rumores de separação, mas esse foi o Chris durante "Sparks" hoje à noite 😭 💔”.
O vídeo viralizou, e Sparks, desde então, já foi usado em mais de 500 mil vídeos só no Tik Tok. E finalmente entrou na parada de mais ouvidas dos EUA.
Pra maratonar:
Podcast - O Maníaco do Cassino
Um serial killer que atacou casais na praia do Cassino, no Rio Grande do Sul, entre dezembro de 1998 e março de 1999, até ser capturado. O caso é o tema deste podcast narrado em ritmo de thriller. Os dois primeiros episódios já podem ser ouvidos nas plataformas. Quem assina a Zero Hora tem acesso a todos os eps.
Série - MobLand
Uma família de mafiosos em guerra com outro mafioso em Londres. A premissa é meio batida, mas com uma história bem amarrada, suspense nervoso e ótimas atuações, MobLand prende muito a atenção do primeiro ao décimo episódio.
Pra ouvir:
Princess Nokia - Drop Dead Gorgeous
Letra esperta, beats divertidos, dançante, super bem produzida. Talvez a melhor música de 2025.
Blood Orange - The Field
Adoro o Dev Hynes (que encabeça o Blood Orange) e ele retorna aqui em meio a uma música de melodia tão simples quanto sofisticada. Tem várias participações (como da Caroline Polachek) e sample de uma faixa do Durutti Column.
As imagens desta edição são do franco-argelino Mohamed Bourouissa e exploram a “complexidade das relações entre indivíduos e sociedade em uma era de profundas mudanças”. A expo Communautés. Projets 2005-2025 está em cartaz na Fondazione MAST, em Bolonha.
→ Um ranking com as 20 melhores músicas da Lorde.
→ Influenciadores perdem força em vendas de produtos de beleza.
→ Até 70% dos streamings de música gerada por IA no Deezer são fraudulentos. ("Fraudadores usam bots para ouvir música com IA e ficar com os royalties.")
→ “Por que agora todos os caras na academia estão focando nos glúteos?”.
→ “Vinte anos do melhor filme de super-herói já feito.”
→ Como a música pop introduziu a cultura queer no mainstream.
→ O Rick Owens está vendendo fotos dos pés no OnlyFans.