Eu, Minhas Selfies e Eu
Por que muita gente está fazendo terapia em chatbots. As selfies e o envelhecimento. A excelente série Um Dia. Os 20 anos de Cidade de Deus. E mais, nesta MargeM 231
Que as inteligências artificiais estão mudando pra sempre as relações de trabalho e causando impacto sem precedentes em quase todos os mercados (do agro à medicina, do direito ao jornalismo) a gente já sabe. Mas e quando as IAs ocupam o espaço de profissionais cuja função essencial é compreender e interpretar pensamentos e relações entre indivíduos?
Esta reportagem (em inglês) é a mais completa que li sobre aplicativos de chatbots que funcionam como terapeutas.
O assunto não é exatamente novo. Desde o ano passado começaram a pipocar apps que prometem ajudar as pessoas a melhorar a saúde mental. Mas o negócio virou uma indústria. Esta outra recente reportagem (em português), por exemplo, revela que apenas um site recebe 3,5 milhões de pessoas por dia.
Os motivos são vários: são "terapeutas" baratos; estão sempre à disposição, 24/7; podem ser acessados de qualquer lugar; e, talvez mais importante: podem ser programados para dizer exatamente o que o usuário deseja.
“A terapia tradicional requer que eu fisicamente vá a um lugar, dirija, coma, me vista, lide com pessoas. Às vezes, só a ideia de fazer tudo isso é avassaladora. A inteligência artificial me permite fazer isso no meu próprio tempo, do conforto da minha casa”, argumenta uma usuária desses apps.
Outras aspas de gente que usa chatbots e que estão na matéria linkada acima:
“Ele verifica como estou mais do que meus amigos e família”;
“Este aplicativo me tratou mais como uma pessoa do que minha família já havia me tratado”;
“Eu posso falar e falar e falar repetidas vezes, sem estar desperdiçando o tempo de alguém”;
“(Com a IA) Sinto que estou falando em um espaço verdadeiro sem julgamentos. Posso chorar sem sentir o estigma que vem de chorar na frente de uma pessoa”.
A matéria contextualiza os desejos de quem baixa esses apps e por que é um mercado em crescimento. e nem tudo são flores:
“Criar um vínculo com um chatbot pode estar relacionado a um tipo de autoengano. Ao analisar, em 2023, as avaliações de consumidores de chatbots, pesquisadores detectaram sinais de um apego prejudicial. Alguns usuários compararam os bots de forma favorável com pessoas reais em suas vidas”.
Terapeutas de carne e osso alertam para os diversos problemas que essa abordagem digital pode causar.
“Ao acostumar os usuários a uma relação em que a reciprocidade é opcional e o desconforto é inexistente, os chatbots podem distorcer as expectativas, ensinando os usuários a confiar em uma IA ideal em vez de tolerar as complexidades humanas.”
Uma das razões pelas quais esses chatbots – e as IAs no geral – são tão atrativos é que, bem ou mal, oferecem uma conexão (real ou não, imaginária ou não) que muita gente acredita que não construiria em uma relação com outra pessoa. Mas não é uma relação sem riscos.
“Eu, Minhas Selfies e Eu.”
Este ensaio (em inglês) tenta entender “como tirar e compartilhar selfies ao longo de décadas afeta a percepção de envelhecimento de uma pessoa ou do tempo em si”.
Trecho:
“Mulheres da minha idade estão observando nossas identidades mudarem em tempo real de uma maneira que nenhuma geração anterior experimentou massivamente.”
“Um vídeo recente no qual ele e seu grupo de melhores amigos saem de férias e gastam de US$ 1 a US$ 250 mil por dia atraiu 52 milhões de visualizações em 24 horas. Isso é 20 vezes o número de pessoas que assistiram ao final de Succession e mais do que o dobro das pessoas que viram Barbie ou Oppenheimer durante o fim de semana de estreia. Seu vídeo mais popular, uma versão do programa de TV coreano Round 6, foi visto meio bilhão de vezes. Embora poucas pessoas com mais de 30 anos tenham ouvido falar dele - a menos que tenham filhos -, Donaldson é provavelmente a pessoa mais vista na Terra.”
Donaldson, no caso, é o youtuber MrBeast. E o trecho acima, tirado desta matéria, desenha bem o que é realmente ser popular em 2024. Succession é uma delícia? Também acho, mas uma série bancada com toda a estrutura da HBO não faz nem cócegas no alcance dos vídeos de alguém como MrBEast.
Dois estudantes que, logo após a festa de formatura da faculdade, passam a noite juntos. O dia: 15 de julho de 1988.
Na manhã seguinte, ela segue um caminho e ele, outro. Pelas próximas duas décadas, vamos conhecer a história deles sempre a partir do dia 15 de julho de cada ano.
A premissa é até simples, mas é desenvolvida deliciosamente no romance Um Dia, do David Nicholls.
Adorei o livro quando li, há muitos anos. Algum tempo depois, saiu uma versão em filme (com Anne Hathaway) em 2011. Mas no longa a história de Emma e Dexter foi transformada em uma comédia romântica boba, com ritmo apressado que limava as nuances que enriqueciam o livro.
Ainda bem que Um Dia foi transformado em série. Em 14 episódios (cada um com cerca de 30 minutos; dá pra ver fácil), a relação entre Emma e Dexter, como eles vão amadurecendo, como as expectativas de um e de outro se desencontram, enfim, tudo é costurado de um jeito mais tranquilo, sem a pressa do filme.
Uma série leve, bem escrita, que diverte e emociona.
O que você acha de Cidade de Deus? Um dos mais premiados e cultuados filmes feitos no Brasil está completando 20 anos.
Fernando Meirelles, nesta entrevista em inglês, afirma: “O filme de alguma forma revelou o Brasil aos brasileiros”.
E aqui, em português, os “bastidores da única vez em que o Brasil recebeu quatro indicações ao Oscar”.
As imagens desta edição pertencem à série Style in Life, em que Daniele Tamagni se propôs a “capturar o orgulho e a alegria de comunidades urbanas de todo o mundo, para quem a moda é uma forma de se posicionar em uma sociedade reimaginada”.
Mais sobre Daniele. Style in Life está em livro e em uma expo em Milão.
→ Os influencers têm um problema: os anti-fãs.
→ Aparentemente os millennials acabaram com o TikTok.
→ Instagram ultrapassa o TikTok como o aplicativo mais baixado do mundo.
→ A cidade francesa que baniu o uso de celular em lugares públicos.
→ O OnlyFans também é feito por gente acima dos 60 anos.
→ Mais uma classe ameaçada pelas IAs: estrelas pornôs.
→ A história da plataforma que, na África, é maior do que a Netflix.
→ Gigante mundial de royalties de música investe na brasileira Nas Nuvens, dona dos catálogos de nomes como Carlinhos Brown e Vanessa da Mata.
→ Segundo os jovens, andar com carteiras é coisa de velho.
acho triste que a gente esteja substituindo a interação entre pessoas por uma interação com a máquina.
Eu não conhecia esse mr.Beast até minha filha me apresentar e fiquei incrédula com a produção. 🫠