Grafite, breakdance e a explosão do hip hop
Exposição reúne mais de 3 mil peças para mapear como essa cultura se desenvolveu em São Paulo e em Nova York
Boa parte desta MargeM #266 se desdobra em cima de poucos, mas valiosos, assuntos: o hip hop e séries de TV que estamos vendo.
Se você ainda não ouviu, vale dar uma chance para a nova playlist que montamos aqui na MargeM. Tem de David Byrne a Don L, de Wet Leg a Rico Dalasam.
Agora, sim.
Mais de três mil peças foram selecionadas de coleções pessoais e de acervos históricos para contar uma bela parte da história do hip hop na exposição HIP-HOP 80’SP – São Paulo na Onda do Break, que será aberta ao público a partir desta quinta-feira (dia 24 de julho) no Sesc 24 de Maio, em São Paulo. As fotos desta edição são todas dela.
Fui à mostra no dia 22, em uma visita na qual estavam os curadores, a dupla OSGEMEOS, Rooneyoyo O Guardião, KL Jay, Thaíde, Sharylaine, ALAM Beat e Rose MC, além de três artistas que estão com obras expostas: a fotógrafa Martha Cooper, o fotógrafo e diretor Henry Chalfant e o multi-agitador Michael Holman (ele já foi diretor de filme, escritor, produtor de festa, dono de clube, empresário, idealizador e apresentador do programa de TV e, até, integrante de uma banda junto com o Basquiat).
Holman personifica e transpira hip hop. E não sou eu quem está dizendo – o New York Times começou assim uma reportagem sobre ele (“Quando se fala em pioneiros do hip-hop, anos antes de a MTV entrar na onda do rap, Michael Holman já representava a cultura”. Em inglês, no original: “When it comes to hip-hop pioneers, years before MTV rapped, Michael Holman repped”.)
Em 1984, Holman criou para a TV o Graffiti Rock, programa que teve apenas um episódio, mas que ajudou, à época e depois, a levar o rap e o break para as massas. Pouco antes, ele esteve na banda Gray ao lado do amigo e artista Basquiat.
“Ele participou da direção de cenas importantíssimas de Beat Street, um filme que influenciou toda a nossa geração”, conta Gustavo Pandolfo, uma das metades d’OSGEMEOS e que, nos anos 80, dançava break no centro de São Paulo com o irmão.
Beat Street chegou aos cinemas em 1984. Holman relembra:
“Com o filme, muitos dos caras (dos grupos de break New York City Breakers e Rock Steady Crew) ficaram famosos no mundo todo. Organizamos turnês e até organizamos os caras em duas turmas: enquanto uns se apresentavam em Oslo, por exemplo, outro estava em Barcelona.”
Além de produtor e empresário, Holman era diretor de filmes. E captou cenas dessas turnês, que estão compiladas em um longa que é um dos destaques da Expo no Sesc.
Outro momento marcante da mostra são as imagens feitas por Martha Cooper e Henry Chalfant, com protagonistas da cena de hip hop de Nova York nos anos 70/80.
Chalfant conta que grafiteiros ligavam para ele contando que haviam pintado vagões de determinadas linhas do metrô da cidade, para que ele fosse até a beira dos trilhos para tirar fotos.
“Naquela época, todo mundo, os dançarinos, os DJs, os grafiteiros, os MCs, todos estavam tentando mostrar como eram excelentes no que faziam. Era algo muito poderoso, essa paixão que eles tinham pelo que faziam, independentemente das condições em que estavam. Era isso o que eu buscava captar nas minhas fotos.”
Além dos filmes e dos objetos da coleção de Michael Holman e das imagens produzidas por Martha Cooper e Henry Chalfant, a expo apresenta peças valiosas de arquivos de nomes brasileiros, como Rooneyoyo e Sharylaine, além instalações dos próprios OSGEMEOS e fotos de grafites históricos feitos nas ruas de São Paulo.
Gustavo Pandolfo contextualiza:
“As ruas eram uma extensão do atelier de artistas como Alex Vallauri e Julio Barreto. Eles desbravaram tudo, mostraram a possibilidade de intervenção na cidade.”
“E, em Nova York, o Henry e a Martha foram muito importantes para o crescimento do hip hop. Eles documentaram algo que ninguém estava documentando. Mostram que era uma manifestação artística que precisava ser reconhecida.”
Além da mostra, haverá duas sessões de conversas com artistas: nesta quinta, com Martha Cooper e Henry Chalfant, e, na sexta, com Michael Holman. Ambas serão das 19h às 21h, mediadas por Rodrigo Brandão.
A expo HIP-HOP 80’SP – São Paulo na Onda do Break funciona de ter. a sáb., das 9h às 21h; dom. e fer., das 9h às 18h; até março de 2026.
📺 Séries que estamos vendo
Too Much (Netflix) - uma das grandes surpresas do ano até aqui. Série criada, roteirizada e com muitos episódios dirigidos pela Lena Dunham, a mesma que nos deu Girls, uma belezura que em seis temporadas examinou com humor, sarcasmo e sensibilidade a vida de quatro amigas de 20 e poucos anos, de classe média, moradoras de Nova York. (E revelou Adam Driver.)
Agora, em Too Much, temos Jessica, uma produtora que decide morar em Londres após o término nada tranquilo de seu relacionamento. Na Inglaterra, ela conhece um músico indie (Felix) e os dois começam a namorar.
Se a história parece com a da própria Dunham (que se separou do produtor musical Jack Antonoff, mudou-se para Londres e casou-se com um músico indie), é porque é para parecer mesmo. Dunham usa a vida como ponto de partida da série.
(E o novo namorado de Dunham não é qualquer um: é um dos co-fundadores do selo Young Turks, que lança bandas como The xx, FKA Twigs e Kamasi Washington.)
Dunham, em Too Much, desenrola o novelo que tem em mãos com habilidade, usando 1) personagens bem pensados (como o patrão e a mulher dele, interpretados por Richard E. Grant e Naomi Watts) e 2) situações espertas (como a relação entre Felix e as amigas, especialmente uma antiga ficante, interpretada por Adèle Exarchopoulos).
Vale ver? Muito.
Mais:
Too Much pode finalmente ser a nossa sucessora para Girls;
Todos os convidados famosos e estrelas coadjuvantes da série de Lena Dunham;
Como as mulheres de Too Much fizeram a comédia romântica perfeita;
A série faz com que o ato de se apaixonar pareça quase utilitário;
The Bear (Disney) - As duas primeiras temporadas desta série que surgiu como um a-vida-como-ela-é-do-mundo-dos-restaurantes são das coisas mais legais que vi recentemente. A terceira temporada decepcionou bem.
Esta quarta que estreou há pouco melhora um pouco as coisas, mas não muito – justamente porque The Bear deixou de se apoiar nas dinâmicas e na tensão que dominam a vida em um restaurante para discutir os traumas e os problemas internos de seus personagens.
Ficou chato. Porque muitos desses problemas internos são meio forçados, empurrados pelo roteiro para dar sustentação a um arco narrativo.
É bom ver cenas como as de Thomas Keller, um dos principais chefs do mundo, ensinando Carmy a assar um frango, mas são momentos que ficam perdidos em meio aos mergulhos psicológicos que não vão a lugar nenhum.
Vale ver? 🤔
Mais:
The Bear está finalmente se tornando a série que estava destinada a ser.
Uma quarta temporada ambígua deixa você com fome de mais.
A quarta temporada de The Bear serve a mesma refeição cansativa.
→ Todo mundo quer um pedaço do Pedro Pascal.
→ Executivo do Festival de Veneza fala por que os filmes estão ficando mais longos.
→ O Instagram quer que as postagens dos usuários apareçam nos resultados de pesquisa de servidores de busca para tentar gerar mais engajamento.
→ A Free Press começou como newsletter há três anos. Hoje a sua fundadora quer vendê-la por US$ 200 milhões.
→ Quanto os podcasters nos EUA realmente ganham? O “Howard Stearn do hip hop”abre o jogo.
→ Proteja a sua rave. (“O poder transformador da cultura rave não é ilimitado, mas deve ser defendido da apropriação por forças reacionárias.”)