Jornalismo e influência
Como diversos outros profissionais, jornalistas estão dedicando cada vez mais tempo aos vídeos e à construção do nome como marca
MargeM 269 na área. Esta newsletter está deixando de ser “apenas” uma newsletter para virar uma plataforma de conteúdo. Sempre com o foco na cultura digital e no entretenimento, com análises, entrevistas e uma curadoria do que de mais legal esteja rolando no mundo.
🎶 No Spotify, por exemplo, já temos uma seleção de várias playlists que vão de nomes mais novos do rap a veteranos do rock, com muita coisa ali no meio. A mais recente é esta aqui.
Pode ser uma atriz, um cantor, um DJ, uma médica, um nutricionista: não importa muito a área de atuação, todo mundo está virando influencers. Ou, ao menos, está se esforçando para criar uma persona nas redes sociais.
Muitos jornalistas estão tentando transformar os seus nomes em marcas. Estão se transformando em influencers.
Isso está rolando há algum tempo, e parece que é um caminho sem volta.
Este texto de T.M. Brown me fez voltar a pensar nisso. O autor escreve sobre como muitos jornalistas estão correndo para se adaptar em um mundo em que o vídeo (e não o texto) é o principal meio.
Gostei especialmente de algumas perguntas que ele formula.
Estas, para os veículos de comunicação:
“O que acontece quando uma instituição de mídia consegue criar uma celebridade de mídia? Ela consegue controlar como essa pessoa vai usar a fama? Como fica a relação entre instituição e indivíduo?”.
Estas, para os próprios jornalistas:
“Quando repórteres se tornam personalidades, isso muda a forma como trabalham? Quando o seu rosto vira a sua marca, você começa a evitar histórias que possam te prejudicar (ou manchar a sua imagem)? Preciso postar o meu rosto na internet para me tornar um jornalista bem-sucedido?”.
Todas as perguntas são boas, mas duas delas me pegam mais: se um veículo teria como “controlar” de alguma maneira o que o jornalista-influencer publica; se o fato de se tornarem personalidades muda como o jornalista vai trabalhar.
Quando um repórter se posiciona também como influencer, ele provavelmente deixará de apenas reportar histórias para comentá-las. Como as empresas vão “controlar” isso? Como evitar que as opiniões influenciem as reportagens?
E será que o jornalista-influencer deixará de cobrir alguma história para evitar problemas com certas pessoas ou marcas?
Para se aprofundar:
LatAm Journalism Review - “À medida que as mídias sociais transformam a distribuição de notícias, mais jornalistas estão construindo marcas pessoais”;
NiemanReports - “O que os tradicionais veículos de mídia podem aprender com os creators; À medida que as redes sociais se tornam fonte de notícias, os jornalistas recorrem ao manual dos influenciadores”;
NPR - “Como os influencers estão causando impacto no jornalismo”;
Teen Vogue - “Influenciadores de notícias estão conquistando os jovens, e a mídia está tentando acompanhar”.
Tubefilter - “A ESPN está contratando criadores. Eles serão exibidos em um feed no aplicativo, no estilo TikTok”.
Hologramas hiper-realistas. Telões 3D. Telas de LED flexíveis. Realidade aumentada. Som surround até mesmo em grandes festivais.
O Globo publicou uma boa reportagem que tenta antecipar como serão os shows no futuro. Segundo o texto, tudo isso que está aí acima deverá fazer parte das apresentações musicais.
A matéria mostra que esse futuro, em alguns casos, já chegou. Cita os shows do U2 na Sphere (local com um megatelão imersivo, em Las Vegas) e o projeto ABBA Voyage, em que hologramas representavam os integrantes do grupo sueco.
Na reportagem, Roberto Medina, do Rock in Rio, diz o seguinte:
“O único modelo possível para festivais daqui para a frente é ampliar ainda mais a oferta de diversão para o público, trabalhar a mágica do evento”.
O Luiz Guilherme Niemeyer (sócio da produtora que fez shows de Madonna e Lady Gaga) afirma:
“Os festivais serão cada vez menos o line-up fortíssimo e cada vez mais o propósito, conforto, experiências personalizadas”.
O André Barcinski fez um vídeo em que critica essas novas possibilidades e a transformação de um festival de música em um festival de experiências. Diz ele:
“Como pode falarmos sobre o futuro dos shows em que os principais nomes do mercado de shows no Brasil dizem que o artista vai importar cada vez menos? Querem que o público fique cada vez mais anestesiado, em uma experiência individual, em vez de se conectar com as pessoas que estão ao seu lado”.
Concordo com o André. E um trecho da reportagem me chamou especialmente a atenção:
“Com um celular na mão e óculos inteligentes na cabeça, cada um poderá escolher como ver o show. ‘A gente vai ter óculos conectados ao celular e um cardápio de possibilidades: eu quero o filtro X, quero o cenário tal. Uma realidade aumentada em muitas camadas’, prevê o designer Zavareze. O público também poderá ter a palavra em relação ao som, aposta Zé Ricardo: ‘Através do celular, e usando fones, você poderá fazer a sua mixagem, aumentar um pouco a voz ou o solo do guitarrista...’, imagina ele”.
Ou seja, a “experiência” de ir a um grande show ou festival será cada vez mais personalizada. Individualizada. A comunhão entre público e artista que temos nos shows (e que é uma das razões de existir de um show) deixará de existir, porque o que vai importar é a experiência de cada um.
E se a experiência vai ser cada vez mais individualizada, por que fazer um show no autódromo de Interlagos ou na Cidade do Rock, em que o público perde tempo no trânsito, corre o risco de tomar chuva ou ser assaltado?
Por que não montar logo um show inteiramente virtual, com interações digitais entre fãs e artistas e em que o público assiste a tudo do conforto de casa?
Seria o caminho natural, certo? Para mim, esse seria um futuro nada agradável.
“Sem turnê, sem álbum, sem problemas: como Bruno Mars se tornou discretamente o astro pop mais inesperado de 2025.”
Segundo a reportagem que tem o título acima, Mars está nos créditos da primeira E da segunda músicas mais ouvidas em streaming no primeiro semestre de 2025: Die with a Smile (collab com Lady Gaga) e APT (esta última, com Rosé, da banda Blackpink).
Além disso, em janeiro ele se tornou o primeiro artista a ultrapassar 150 milhões de ouvintes mensais no Spotify.
A reportagem é baseada em cima de um curioso estudo realizado pela Luminate, empresa que faz análise de dados para a indústria do entretenimento.
Se você se interessa por música e por dados, vale dar uma olhada. Mostra, entre outras coisas, que o Brasil foi, no período, o país com o quarto maior número de acessos ao streaming.
“Pensei em dividir em dois filmes. Inicialmente, queria fazer o mesmo filme sob dois pontos de vista e meio que contradizer, com o segundo filme, o que você tinha visto no primeiro. Mas decidi que seria muito melhor ter um filme onde há um momento crucial logo após a criação, quando a perspectiva muda e você passa a acompanhar a criatura em suas jornadas, depois de acompanhar Victor na primeira parte.”
Este é Guillermo del Toro falando sobre Frankenstein, que vai estrear em Veneza no próximo dia 30.
As fotos desta edição são da série Before It’s Gone, em que M’hammed Kilito registra a escassez de água no Marrocos e a degradação de diversos oásis.
📷 A fotografia sempre fez parte da MargeM. Se você é fotógrafo(a) ou conhece alguém que seja e quer ter o trabalho exibido aqui na newsletter, envie um email para margemnewsletter@gmail.com. 📷
→ Música ao vivo bombando: A Grand National Tour, de Kendrick Lamar e SZA, arrecadou US$ 256,4 milhões apenas na América do Norte. É a turnê conjunta que mais faturou na história. (link sem paywall)
→ Um ranking com as principais esquisitices de David Lynch.
→ Gary Oldman: “Não é coincidência que o mundo foi para o lixo desde que David Bowie morreu”.
→ Denzel Washington: “No meu tempo, você tinha de ser bom no que fazia. Hoje você só precisa fazer com que as pessoas te sigam, fazendo algo excêntrico ou estúpido”.
→ “Se ninguém sabe, ninguém estraga”: por que jovens não postam vida a dois.
→ O personagem assassino e sádico de Psicopata Americano virou um ícone de estilo e é a inspiração para um novo perfume e um bar.
→ Microapartamentos sem elevador e com pouca ventilação: os brasileiros que decidem morar em cubículos em Paris.
muito curiosa essa questão dos shows perderem justamente aquilo que - na minha opinião - é o que torna mais legal
Que lindo o Gary Oldman falando do Bowie, concordo com ele 🥲