Mitski; TikTok e moda; a história de uma cama
MargeM 177 na área. O disco novo da Mitski. O TikTok e a moda. Uma cama e o fim de um relacionamento. Escritor fazendo playlists. A série Vosso Reino. E mais.
Se antigamente eram as ruas que apontavam tendências de moda, hoje isso está no TikTok. A Vox chega a cravar: "a moda agora é apenas o TikTok".
"O app de vídeo domina absolutamente as tendências de estilo e a discussão sobre moda."
"Nenhuma faixa etária jamais teve tanto conhecimento histórico de moda e fontes primárias como os jovens de hoje, com tudo dos últimos 20 anos documentado online."
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Na moda, o TikTok é uma máquina de fabricação de tendências. Se você quiser entender como a música jovem é feita hoje e para onde ela está indo, não dá para fugir do SoundCloud. "Bolhas da internet profunda: como os microgêneros estão dominando o SoundCloud."
Se você quer uma história esquisita e saborosamente bem escrita, leia isto aqui. O escritor galês Joe Dunthorme conta como descobriu que um cara estava se fazendo passar por ele no Instagram pra aplicar golpes de criptomoeda.
Não sei se a Mitski é a "melhor compositora jovem norte-americana", como afirma o Guardian nesta boa entrevista com a cantora, mas o disco novo, Laurel Hell, passa longe dos beats histéricos e dos refrães pegajosos que impregnam muito do pop atual. É um disco gostoso de ouvir e que sai da mesmice.
"Quando foi um momento em que todos se sentiam esperançosos, em que tudo estava acontecendo e tudo estava bem? A bolha dos anos 80! Aquela sensação de possibilidade, ter muito dinheiro. Eu queria canalizar esse sentimento, apenas para sair do nevoeiro da pandemia", diz ela na entrevista.
Também sobre música pop que sai um pouco do convencional: como o Daniel Lopatin (mais conhecido como Oneohtrix Point Never) ajudou o Weeknd a costurar diversas referências no disco Dawn FM.
Pop, neo r&b, eletrônica, novo jazz: tem tudo na música da compositora, multi-instrumentalista e cantora L’Rain.
Ainda quero ouvir direito o mais recente disco do Baco Exu do Blues (até porque ele abre com a excelente frase "Eu sinto tanta raiva que amar parece errado"). Em entrevista ao Globo, o rapper diz:
"Eu me sinto num dos melhores momentos da minha vida. E é isso que o álbum reflete. Me perguntaram se com isso eu não estava diminuindo as pautas revolucionárias. Respondi que enquanto o negro não tiver autoestima será muito difícil lutar. Primeiro a gente tem que estar forte, amar o nosso próximo, e aí a gente consegue reagir às agressões do dia a dia. Não quero ser cachorro morto para ser chutado".
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Bom o primeiro disco solo do Fernando Catatau, líder e vocalista da banda Cidadão Instigado. Duas que curti bem: Nada Acontece e Completamente Apaixonado (esta com a YMA).
Em uma MargeM de janeiro, escrevi sobre as deliciosas playlists feitas pelo escritor Teju Cole. Pois me passaram que o Kalaf Epalanga, autor de Também os Brancos Sabem Dançar, montou uma espetacular playlist de rumba congolesa. (E outra bem boa é esta, chamada Stepping Into 2021.)
E a incomparável artista Kara Walker foi à rádio online NTS pra tocar uma hora de música –com a filha dela. Tem de Led Zeppelin a Solange, de Police a Moodymann.
A foto acima, de Esther Bubley, e a que abre esta newsletter (de Jodi Bieber) são parte da mostra A Female Gaze: Seven Decades of (12) Women Street Photographers.
Vi cinco dos oito episódios, e até aqui a serie argentina Vosso Reino surpreende bem com uma história que envolve política, crime e pastores evangélicos.
Se você gosta de ler sobre música, recomendo este site/projeto 68 to 05 (ou de 1968 a 2005). É comandado pelo escritor e poeta Hanif Abdurraqib e compila ensaios sobre discos que saíram entre, bem, 1968 e 2005. O cardápio é variado: Nina Simone, Black Sabbath, Gang of Four, Mariah Carey, Yeah Yeah Yeahs, Jay Z etc.
Adorei este artigo sobre o Ted Talks.
"O acervo do TED é um cemitério de ideias. É um índice aparentemente interminável de histórias sobre o futuro –o futuro da ciência, o futuro do meio ambiente, o futuro do trabalho, o futuro do amor e do sexo, o futuro do que significa ser humano– que nunca se materializou. Somente por essa medida, o TED e suas coincidentes formas de pensar deveriam ter sido abandonados."
"A cama que construí me segurou quando terminei esse relacionamento. Consolou-me quando me deitei e me virei, incapaz de dormir no dia anterior ao meu primeiro dia como professora. Me ajudou a fingir que dormia quando estava cansada demais para falar com meu roommate. Me mantinha aquecida quando eu sentia saudade e amaldiçoava o clima gelado inglês. Era a minha segurança, o meu consolo no final do dia.
E eu a montei com as minhas próprias mãos."
Um pequeno texto pessoal sobre uma cama e o fim de um relacionamento.
Para ter um controle maior sobre o conteúdo, por causa da saúde mental, frustrados com o algoritmo: alguns influenciadores estão abandonando o Instagram.
"Sou um influenciador e acho que mídias sociais são tóxicas."
Um depoimento sobre a difícil decisão entre tomar atitudes individuais frente a problemas (e empresas) globais.
Um ensaio legal sobre a internet e suas cores.
A meta (ex-Facebook) criou um recurso de "distanciamento social" no metaverso para tentar evitar o assédio.
Sobre a compra do Wordle pelo New York Times: "O NYT está virando a Amazon".
E a Peloton sonda compradores –inclusive a Amazon.
A cidade mais importante dos EUA? Miami. Quem diz isso não é o Rodrigo Constantino, mas o Financial Times. Por quê? Está recebendo empresas de tech e capital de risco. E também por causa das criptomoedas.
Como as mulheres são descritas em manchetes e títulos noticiosos?
Dois turnos de sono: "A forma esquecida como nossos antepassados dormiam".
A artista tetracromata que consegue enxergar 100 milhões de cores.
Se a moda pega: restaurantes estão deixando de usar telefone.
David Lynch vai atuar em filme de Steven Spielberg.
Revivendo os anos 90 no Instagram. (Uma reportagem a respeito: "O que começou como uma espécie de reunião de classe visual para Atkatz e alguns amigos evoluiu para um projeto de arte que explora as maneiras pelas quais jovens artistas narravam suas vidas e aspirações através da fotografia em uma era anterior às mídias sociais.")