Nós somos o que lembramos de nós mesmos
"O museu esteve no topo da vanguarda artística do país nos 15 anos em que foi comandado pelo crítico Walter Zanini desde a sua abertura, em 1963. Mas acabou trilhando um trajeto mais conservador e acadêmico com o passar dos anos. Com a performance de Von Ha, a instituição demonstra estar aberta a retomar esse caminho mais experimental."
Este trecho de bela reportagem da Folha resume bem o atual estado de muitas das instituições em meio a uma pandemia que forçou o fechamento dos espaços culturais. "Conservador e acadêmico" ajudar a definir a atuação de museus, galerias e centros culturais no ambiente digital: não há mostras pensadas e feitas para o digital; o que há são apenas tentativas de levar exposições e obras físicas à internet por meio de fotos e vídeos.
Voltando à reportagem e à iniciativa do Von Ha. O que rolou é que o MAC-USP está preparando (para setembro, se der) uma expo chamada Lugar Comum.
Gustavo von Ha é um dos artistas participantes. Então, para já ir movimentando a expo, Ana Magalhães, diretora do MAC-USP, decidiu entregar o Instagram da instituição para Von Ha. E ele foi postando fotos, vídeos, gifs, enfim, memes que vão do absurdo ao delirante –coisas que fazem parte do próprio trabalho dele há um bom tempo. Então, de repente, o sisudo MAC-USP passou a exibir imagens como uma Britney Spears chapada e gifs do tipo "manda nudes".|
Claro que no início todo mundo achou que a conta tinha sido hackeada. Depois, o autor foi "descoberto". "Me chamaram de criminoso, mas também disseram que eu estava incrível", conta Von Ha.
E aí vem a discussão. Isso é arte? É algo que cabe no MAC-USP? Memes devem estar em museus? Para todas as perguntas, vai uma outra: por que não? Se o Masp e o Itaú Cultural podem exibir com pompa uns círculos coloridos da Beatriz Milhazes, por que o meme, esse formato tão múltiplo e desafiador, não pode ser encarado como objeto artístico?
"Os memes devem ser entendidos como os descendentes digitais de artistas como Man Ray, Walker Evans e Andy Warhol –cujas práticas envolviam principalmente disrupções informacionais e sociais", já disseram.
"O meme em si é um recipiente aparentemente simples para a comunicação de idéias complexas. Felizmente, como eu uso referências da cultura pop, é fácil entender rapidamente e seguir em frente. Eu vejo isso como uma forma de arte e uma persona", diz a Hilde Lynn Helphenstein, que criou no Instagram o perfil Jerry Gogosian.
À Folha, a Ana Avelar, curadora e professora de história da arte, diz que "não importa" se é ou não arte. "Hoje as imagens são consumidas muito rapidamente, especialmente nessas plataformas. Quando o Von Ha insere um ruído, uma imagem bizarra, ele está provocando a sua perspectiva crítica. É quando você se dá conta de que você não estava pensando no que estava vendo, consumindo."
No fundo, o que importa mesmo é que a iniciativa do MAC-USP e do Von Ha é uma das grandes ações digitalmente relevante feita pelo circuito institucional brasileiro de arte.
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Muitas exposições virtuais se limitam a levar ao digital obras feitas para espaços tradicionais. Já a alemã The Last Museum procura realmente explorar as possibilidades da tecnologia, e isso tanto na produção dos trabalhos como na maneira em que o visitante percorre o site. São seis artistas (incluindo a brasileira Juliana Cerqueira Leite). "The Last Museum é uma exposição que examina as tensões entre o imaginado 'qualquer lugar' do espaço digital e a sua relação com lugares e objetos concretos", diz o curador.
Wings of Desire - Better Late than Never
”Yeah I’m lost in America
Call the police
Cos my body's failing
And I cannot sleep
Yeah I am a criminal
Cos I'm not 23
And there's kids with guitars again
And they’re younger than me
Sometimes I sit down and wonder
Where I thought I’d be
Now I look like my father
And feel like a priest.”
Um assunto bastante discutido na internet nos últimos dias foi o artigo do Adam Grant para o NYT em que ele fala de uma nova condição impulsionada pela pandemia: o languishing (algo como definhar). "Languishing é o vazio entre a depressão e o bem-estar. A pessoa não tem sintomas de doença mental, mas também não é um exemplo de saúde mental. Não está funcionando com capacidade total. Esse sentimento entorpece a motivação, atrapalha a capacidade de se concentrar e triplica as chances de reduzir o trabalho."
Pois o mesmo New York Times soltou outro artigo nesta semana, não como uma resposta ao Adam Grant, mas meio como uma tentativa de mostrar que há saída para esse sentimento. O nome: flourishing (ou florescer), que seria uma combinação de bem-estar físico, emocional e mental.
"O outro lado do languishing é o florescer. Veja como chegar lá", diz o título do artigo.
“Nós somos o que lembramos de nós mesmos”, afirma um professor de neurociência neste artigo que discute uma questão que, em um mundo guiado por Google e redes sociais, tornou-se bem contemporânea: dá para intencionalmente esquecermos de coisas que não queremos lembrar? Dá. “Você esculpe as suas memórias.”
Que as redes sociais estão pautando boa parte do jornalismo não é novidade. Mas esta reportagem do NYT sobre a capa da Vogue britânica com a Billie Eilish exagerou: a repórter pegou um único tuíte e o usou para dizer que "fãs estavam se sentindo traídos". Um repórter tuitou: "A coisa toda está baseada em uma pessoa (bot?) que não gostou: um usuário do Twitter com 3 seguidores que entrou na plataforma em dezembro e só tuitou em inglês uma vez".
Mushrooms & Friends é o nome do livro recém-lançado pela fotógrafa Phyllis Ma. Mais imagens (e texto) aqui.
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A Gama fez um belo especial sobre maconha.É um mercado que está crescendo e movimentando bilhões no mundo, mas, pra variar, o Brasil está ficando pra trás. Tem ainda histórias de profissionais brasileiros que, frente aos entraves legais no país, foram se dedicar à cannabis no exterior.
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O estado de Nova York legalizou a maconha há pouco mais de um mês. Apenas ali, naquela região, estima-se que esse mercado vá movimentar US$ 4,6 bilhões em 2023. E o mercado imobiliário já está agitado.
Coisas legais por aí
Tempo de Caça. Ótimo exemplar do novo cinema coreano: um roteiro engenhoso e uma direção vibrante esquentam o clima deste thriller sobre quatro amigos que decidem roubar um cassino clandestino.
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This Thing of Ours. O Alchemist tem um currículo extenso de produções de rap –uma das melhores e mais recentes é o disco Alfredo, colaboração com Freddie Gibbs. Neste novo EP de quatro faixas (mais as versões instrumentais), ele constrói um sinuoso painel instrumental que serve de cama para rimas de nomes como Earl Sweatshirt. Espetáculo.
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Bright Green Field. O espírito do pós-punk está guiando muitas bandas boas: Dry Cleaning, Fontaines D.C., Black MIDI, Shame. O Squid é outra. Este primeiro disco da banda tem faixas (como Paddling; Boy Racers) que passeiam por trilhas intrincadas, mas o destino final são paisagens fortes e autorais.
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Herança Russa. Dica que peguei do André Barcinski. Documentário em que Yamandu Costa vai à Rússia para explicar as origens do violão de sete cordas.
Isaiah Rashad - Lay Wit Ya
Rashad não lançava disco há uns cinco anos. Mas tem álbum novo no horizonte, e esta espetacular faixa é o primeiro single.
O TikTok foi o app mais baixado no mundo em abril. E o país que mais contribuiu para isso foi o Brasil, com 13%.
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"Do nada, a internet descobriu uma música dos anos 70 e foi esse pipoco!”, diz Alceu Valença sobre a faixa Belle De Jour. O cantor conta que compôs três discos durante a pandemia, mas confessa: "“Sempre tive muito mais intimidade com a estrada e com os hotéis do que com minha própria em casa”.
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Enquanto EUA e Europa já começam a programar o circuito de shows e festivais, produtores brasileiros descartam qualquer coisa antes de maio de 2022.
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Se você viu Tenet e não entendeu nada, não está sozinho. Este artigo tenta explicar a história, ponto a ponto.
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Como os tempos estão mudando: Estúdios de Hollywood estão contratando coachs para ajudar alguns figurões a controlar a raiva. "Como ser um chefe melhor virou uma questão que está sendo analisada em Hollywood graças a alguns exemplos notórios de outros (chefes) espetacularmente ruins."
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A Rolling Stone lista as 100 melhores sitcoms da história. (Spoiler: Fleabag é a 21ª.)
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Nunca me empolguei em ver Line of Duty, série britânica sobre uma unidade de polícia anticorrupção. Mas o episódio final da sexta temporada teve 12,8 milhões de espectadores e, segundo a BBC, foi a maior audiência de qualquer episódio da TV britânica desde 2001 (sem incluir novelas). O que atrai tanto em Line of Duty? Nesta série, os vilões são os policiais.
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"Pesquisadores estão revelando como uma criança pode moldar o coração e a mente de uma mãe –literalmente." Apesar de estar em inglês e ser meio extenso, o texto é fascinante.
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"Recuperação da Cavalera revela erros que mercado de moda procura corrigir."
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Cinco cozinhas regionais do Brasil que resgatam cheiros e sabores.
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O Jalapão tenta se adaptar aos novos tempos para manter o turismo na pandemia.
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Pequenas tarefas e procrastinação: como lidar.
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Uma empresa em que os seus colegas decidem o valor do seu salário.
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Um site que permite fazer o download e imprimir em 3D objetos artísticos históricos.
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Entre as coisas com as quais a Susan Miller não pode viver sem estão um canivete suiço, um Chanel Coromandel, um travesseiro de US$ 830 e CINCO Macbook Pro.
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Ilusão óptica: qual é a cor das esferas?
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