Nova música brasileira e resistência
A música e o Brasil de Linn da Quebrada, Filipe Catto e Rennan da Penha. Gravadoras ganham grana no Instagram. Virgil Abloh e as roupas para o metaverso. E mais, nesta MargeM 159.
Como é a atual geração da música brasileira?
Bem, são artistas que não se prendem a um gênero e que procuram escancarar e exaltar quem são e de onde vêm. Musicalmente são diferentes entre si, mas o que une boa parte dessas artistas é a briga constante para serem reconhecidas e ouvidas.
Três bons exemplos: Linn da Quebrada, Rennan da Penha e Filipe Catto, que aparecem no noticiário desta semana.
“Nossa vida é barra pesada, não é glamour”, afirma Filipe Catto ao El País (ela está no IMS paulistano com um show-visual que acompanha a expo de fotos de Madalena Schartz.
"Os conservadores estão tapando o sol com a peneira. Continuaremos aqui. Continuaremos nascendo e vivendo e criando. (...) Acho que vemos o gérmen de uma revolução que já vem fora desses padrões, estamos falando de um mundo onde as pessoas não têm gênero. Essas gerações (mais jovens) abrem caminhos para isso."
Rennan da Penha, DJ que fazia festas para milhares de pessoas na zona norte do Rio antes de ser preso e ficar detido por sete meses sob a acusação de "associação ao tráfico", deu entrevista ao Globo para falar da música Sextou (parceria com Anitta lançada nesta quinta). Ele conta:
"Tenho 25 anos de Complexo da Penha, eu nasci lá, assisti à ocupação da porta da minha casa, vi tanque de guerra entrando. E nada mudou na comunidade. Por que a minha prisão ia mudar alguma coisa, enquanto eu curtia o carnaval? Tem um monte de gente fazendo e soltando conteúdo com arma, a rapaziada do trap mesmo. Então o problema é o funk".
Além do preconceito contra o funk, Rennan aponta para outra questão que afeta os artistas do gênero: a pandemia. "O funk do Rio de Janeiro é movido a baile, se mantém com o baile, e quando não tem baile, a gente não têm novidades. Os DJs de comunidade não têm muitos recursos para gravar um clipe, por exemplo, criar muitos conteúdos... O cara fica esperando o baile para poder soltar os trabalhos dele, divulgar as músicas, é ali que às vezes a pessoa sai do baile, ouve a música e já vai para as plataformas procurar, ou viraliza ali dentro do baile mesmo."
Já Linn da Quebrada, que lança o disco Trava Línguas, argumenta em entrevista à Folha que artistas LGBT+ viraram uma fonte de renda para quem comanda a indústria da música, mas que são vistas como um grupo homogêneo, em que as individualidades são esquecidas:
“O que é ‘música LGBT’? Nossas músicas são muito diferentes umas das outras. Logo, o que está sendo categorizado, mais uma vez, é o meu corpo. Se música for categorizada a partir da identidade, deveria existir uma música cis, heterossexual”.
Continua: "(O mercado) separa um pequeno território e coloca todos os artistas LGBTs para disputar esse espaço entre si. Dizem ‘aqui é o lugar da sua resistência, é aqui que você pode circular com sua música’. Não só LGBT, mas ‘música de resistência’, ou ‘música negra’.”
Fazer música no Brasil é (sempre foi) um ato de resistência.
Chicano Batman - Dark Star
Tem pouca coisa na música parecida com esta banda, em que dá para encontrar psicodelia, tropicalismo, hip hop, punk e sons latinos.
Atualmente, muitas gravadoras ganham mais dinheiro produzindo conteúdo para redes sociais do que com a música propriamente dita. O Instagram já fechou contrato para a produção de vídeos musicais no Reels.
"Os contratos com gravadoras de médio porte variam de R$ 1 milhão a R$ 2,5 milhões. No caso das grandes gravadoras, que reúnem dezenas de artistas de peso, as somas giram na casa da dezena de milhões. Para atender ao contrato de conteúdo do Instagram, a gravadora propõe um cast de seus artistas que vão postar conteúdo semanal no Reels. Normalmente são exigidos de dois a três posts por semana de cada artista aprovado pelo Instagram. Depois, o Instagram valida os posts publicados e a gravadora recebe o pagamento", escreve Guilherme Ravache.
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O Facebook criou uma iniciativa que vai pagar US$ 1 bilhão aos criadores até o final de 2022. A ideia é atrair para Facebook/Instagram influenciadores que têm uma relação estreita com YouTube e TikTok. Por enquanto, estará disponível apenas para convidados. Em todo o mundo, mais de 50 milhões de pessoas se consideram criadoras.
"Dinheiro de verdade, looks falsos." Como as roupas criadas para ambientes virtuais estão mudando a moda como a conhecemos.
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O Virgil Abloh está criando uma marca de roupas virtual para usar no metaverso. "Quero fazer roupas virtuais para pintar imagens que as roupas físicas não podem e permitir que os compradores acessem uma nova dimensão de seu estilo pessoal", diz o estilista neste artigo extenso sobre a vida no mundo virtual.
A fotógrafa Niu Weiyu com sua câmera, em clique de Shu Ye. A imagem acima está na expo The New Woman Behind the Camera, no Metropolitan de NY.
A Netflix tirou a ultrapopular atração infantil CoComelon Lane do YouTube. Motivo: o canal tem mais de 2 bilhões de visualizações por mês no YouTube e 60% dos assinantes da Netflix assistem a conteúdo infantil ou familiar.
Coisas legais por aí
The Men's Room: Música e Amizade. Documentário sobre um coral de homens de meia idade que ensaia para fazer a abertura de um show do Black Sabbath na Noruega. Por vários motivos, é tocante. Passou pelo festival brasileiro In-Edit em 2020 e agora estreia na Globoplay.
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Vince Staples. São dez músicas em apenas 22 minutos. Passa rápido, dá vontade de ouvir de novo. Dos melhores rappers de sua geração (nascidos no início dos anos 1990), Staples aparece com o vocal quase falado, meio devagar, monocórdico, mas que se desenrola com suavidade em meio a rimas bem construídas. Sundown Town e Take me Home são especialmente boas.
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Alpha. Charlotte Day Wilson tem uma voz potente, mas que, neste primeiro disco, divide o protagonismo com a melodia das canções, que passam por r&b, neo-soul e um pop que lembra de Adele a Sade. Take Care of You, com a Syd, é de derreter.
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Playlist Jorge Ben e as mulheres. A jornalista Kamille Viola (que escreveu o livro África Brasil: Um Dia Jorge Ben Voou para Toda a Gente Ver) fez uma playlist com músicas que Jorge Ben compôs para mulheres famosas.
Gaivotas - Antonia Morais
Vale ouvir o disco Luzia 20.20, que saiu no ano passado. Este vídeo lindo, com participação do produtor Zopelar, foi tirado de um show virtual que a cantora fez nesta semana.
Saiu a playlist #23 da MargeM. Tem muita coisa nova e delícia, como a Wallice e um remix ótimo da Dom La Nena.
Dos mesmos criadores do Rock in Rio: novo festival de música chegará a São Paulo em 2023. Chama-se The Town e será montado no autódromo de Interlagos.
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“A calmaria sempre existiu no meu som, mas se tornou mais explícita nesse momento tão triste”, conta L_cio, um dos principais produtores de eletrônica do Brasil, que lança EP.
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A HBO pagou R$ 15 milhões ao James Gandolfini para ele recusar papel em The Office. (E Gandolfini iria substituir o Steve Carrell!)
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A Netflix vai lançar produções brasileiras mensalmente a partir deste mês.
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Antologia brasileira reúne 50 contos e poemas de autoras lésbicas e bissexuais.
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Na Coreia do Sul, as academias não poderão tocar músicas com mais de 120 BPMs (batidas por minuto) durante aulas de atividades em grupo, como aeróbica e spinning. Motivo: evitar que as pessoas respirem rápido demais e respinguem suor.
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Nos anos 1980, Farida Khelfa foi uma top pioneira entre as árabes. Agora, ela quer mostrar outras perspectivas das mulheres do Oriente Médio.
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Além do Vale do Silício: seis cidades que competem para se tornarem os próximos centros globais de tecnologia. (Spoiler: Recife está na lista.)
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Como exercitar o pensamento elástico (também chamada flexibilidade cognitiva, é a capacidade de adaptar comportamentos, pensamentos e sentimentos de acordo com as circunstâncias).
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A técnica cognitiva que ajuda a não pensar demais nos problemas.
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Fazer amigos mais velhos ou mais novos torna a vida mais rica, desenvolve a empatia e ajuda a mitigar preconceitos.
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Pesquisadores identificam 14 parentes vivos de Leonardo da Vinci.
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A semana de trabalho de cinco dias deve morrer.
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Como muda um rosto ao longo de 7.777 dias (em vídeo).
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Uma pizzaria em Paris é operada inteiramente por robôs (em vídeo).
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