O Massari, a IA stylist e o jornalismo como vetor de ansiedade
Conversamos com o escritor e ex-VJ Fábio Massari, que fez a curadoria de um festival que aterrissa em São Paulo
Tá curtindo esta nova fase da MargeM? Não sei se você viu, mas na segunda-feira estreamos uma nova seção, a 10 Coisas que Amo / 10 Coisas que Odeio. Quem nos deu a honra de assinar essa primeira foi a Vanessa Rozan.
As outras vão sair toda segunda-feira, não apenas aqui na newsletter, mas também no nosso Instagram, que está sendo abastecido diariamente com posts quentinhos.
Ah, e nessa fase MargeM Content, vamos cuidar com carinho das nossas playlists. Já temos várias, como esta mais recente, que tem desde um remix que o Mark Ronson fez para a trilha de um desfile da Gucci a Blood Orange, Suede e os brasileiros Paira e Thiago Oceano, entre várias outras coisas legais.
Mas vamos para esta edição #272, porque a gente começa hoje outra seção.
3 Perguntas Para: Fábio Massari
Bem conhecido como escritor (de 83/92 - Um Álbum Italiano; Mondo Massari; Rumo à Estação Islândia, entre outros), além de radialista e VJ da MTV que apresentou ao Brasil um monte de bandas e nomes esquisitos do rock, Fábio Massari é, também, curador de festival.
Sai da cabeça dele os artistas que se apresentam no Massarifest, evento que chega à segunda edição neste 14 de setembro. No Fabrique, em São Paulo, vão se apresentar A Place to Bury Strangers, Violeta de Outono, Bufo Borealis e Oruã + Retrato.
Em meio aos preparativos para o festival, ele respondeu as nossas 3 perguntas.
1 - Existe alguma característica que une as bandas desta edição do festival? O que as pessoas vão encontrar/ouvir ali?
Fábio Massari - “Considero o festival uma festa de aniversário; até porque foi exatamente nesse contexto que ele surgiu. No ano passado, ele ocorreu exatamente no dia (Massari faz aniversário em 20 de setembro); para este ano, achamos que a margem de erro de alguns dias é aceitável!
O critério para a escolha das atrações do evento é bastante pessoal. Bandas das quais eu gosto muito, as tais prediletas da casa, e que costumam fazer grandes shows.
O que pode unir de fato as bandas, é o fato de que são independentes - estão nessa muito mais (ou exclusivamente!) pela realização artística do que por imperativos mercadológicos. A banda Retrato e o Violeta de Outono representam possibilidades diferentes do rock psicodélico. O Bufo Borealis traz seu jazz peculiar para a festa. E Oruã e APTBS são gigantes de um certo indie rock de autor, já relativamente consagrados nas suas trips muito especiais.”
2 - Como você vê a relação entre a curadoria de um festival como o Massarifest e a sua trajetória pessoal e profissional no jornalismo musical?
Massari - “Quem nunca ‘brincou’ de montar seus festivais? Rabiscar line-ups dos sonhos? De alguma maneira, sempre procurei viajar (pra valer e existencialmente) pelos caminhos mais ‘alternativos’ ao mainstream: garagens, underground, subterrâneos etc.
A curadoria reflete necessariamente algo desses interesses e preferências. Acho legal que um festival tenha a cara dos seus realizadores.”
3 - Quais são os três shows que mais ficam na sua memória, não necessariamente os melhores?
Massari - “Essa é uma daquelas perguntas impossíveis, ainda que seja muito divertido tentar respondê-la de modo objetivo. Meu show predileto foi, é e provavelmente sempre será o do Frank Zappa em Londres, 1984. Mas vou citar três shows de bandas brasileiras muito importantes para mim, verdadeiramente memoráveis.
A Cor do Som, Parque do Ibirapuera (1980). O que eu considero meu primeiro show pra valer. Foi caótico e profundamente impactante. Sessenta mil pessoas (10 vezes a expectativa dos organizadores), gente passando mal, sendo carregada pelo palco e caindo de árvores (meu amigo foi um deles!). Fumacê geral e banda voando alto na sua fase mais pop, pós-Montreux Festival. Beleza pura!
Chico Science & Nação Zumbi, Circo Maluco Beleza, Recife (1994). Meu primeiro show da banda, na segunda edição do Abril Pro Rock. Que privilégio! A energia contagiante daquele público, aquela banda explosiva e um dos maiores frontman que já passaram por aqui. Testemunhei e vi a luz.
Sepultura, Roskilde Festival, Dinamarca (1996). O público de um dos maiores festivais do planeta, representando a nação global dos sons de peso, se entregando de corpo e alma ao ritual brutal proposto pelo quarteto brasileiro - naquele momento a caminho de se tornar a maior banda de metal do mundo. Avassalador e lindo demais.”
“Houve vezes em que eu ficava acordada até as 2h ou 3h da manhã, preocupada com alguma coisa que estava acontecendo no mundo, sobre a qual eu não tinha muito controle. Agora que eu não assisto mais notícias, simplesmente não tenho aquela ansiedade. Não tenho aquela angústia.”
As aspas acima são de uma aposentada que afirma ter deixado de acompanhar o noticiário há oito anos.
Ela foi entrevistada para esta reportagem que mostra que, no mundo, mais e mais gente está simplesmente desistindo de ver notícias. O motivo? Saúde mental.
“Globalmente, chegou a um nível recorde o número de pessoas que evitam notícias, segundo pesquisa anual do Reuters Institute for the Study of Journalism publicada em junho. Neste ano, 40% dos entrevistados, de quase 50 países, disseram que às vezes ou frequentemente evitam as notícias, um aumento em relação aos 29% registrados em 2017, igualando o maior índice já registrado.”
O principal motivo apontado pelas pessoas para evitar ativamente as notícias é o impacto negativo delas no humor. Os entrevistados também afirmaram estar exaustos com o volume de notícias, reclamaram de excesso de cobertura sobre guerras e conflitos e disseram que não há nada que possam fazer com as informações recebidas.”
🗣️ E a gente achando que os problemas do jornalismo se resumiam à distribuição gratuita de informações pelas redes sociais e à concorrência pela atenção.
📺 O magnata David Ellison comprou recentemente o grupo Paramount. Uma de suas vontades é turbinar os canais da companhia, entre eles, a MTV.
Ele se reuniu com vários ex-executivos da MTV e pediu ideias para recuperar a relevância da marca.
Algumas sugestões: focar em eventos ao vivo; transformar o site da marca em um streaming de música para certos fandoms; tentar capitalizar o arquivo de entrevistas, filmes e músicas dos anos 80 e 90.
Um dado: o espectador atual da MTV dos EUA tem, em média, 56 anos.
“Este filme é politicamente carregado, mas acredito que também fala muito sobre como todos nós nos tornamos tribais. Trata de como definimos quem amamos ou toleramos.”
Este é Leonardo DiCaprio, protagonista de Uma Batalha Após a Outra, novo filme de Paul Thomas Anderson. Ele, Sean Penn, Regina Hall e Benicio Del Toro falaram sobre o longa.
E a Ralph Lauren apareceu com uma IA stylist.
O Ask Ralph é um “estilista virtual dentro do app da marca. A grife de 58 anos se uniu à Microsoft para criar um agente de IA que simula a experiência de conversar com um consultor humano de estilo”.
“A dinâmica é simples: o cliente descreve o que procura. Pode ser algo específico ('quero um cardigã preto para o outono') ou mais aberto ('vou moderar um painel em uma grande conferência e não sei o que vestir'). Em vez de navegar por intermináveis páginas de produtos, o app faz a seleção. Ele entrega sugestões de looks completos, dentro da coleção atual da grife, que podem ser comprados imediatamente.”
Por que empregar vendedores especializados, não é mesmo? (contém ironia.)
🔊 🎧 Faça um favor a você mesmo e ouça este mix que o Ross One fez pra loja Aimé Leon Dore. O cara faz um passeio espetacular por rock, new wave e pop. Tem Stone Roses, Depeche Mode, When in Rome (!!), Strokes, New Order, The Cure e +++. 🎧 🔊
Festival criado em 2012, o Vertentes terá nesta edição, que começa agora em 11 de setembro em Tiradentes (MG), atrações como uma montagem inédirta de Ópera Poeira, de Jean d’Amérique (protagonizada por Juçara Marçal, com videomapping de Éder Santos e trilha ao vivo por Kiko Dinucci), o espetáculo Satie encontra Monk (em que André Mehmari recria músicas de Erik Satie e Thelonious Monk) e a expo Entre as Margens do Atlântico, com obas de Caetano Dias, Wendie Zahibo e Nádia Taquary, entre outros.
Esta MargeM estará lá para acompanhar parte da programação.
As imagens desta edição são de Gabz 404, “artista visual, fotógrafo e pesquisador que investiga como as imagens moldam nossa percepção da realidade”. Aqui, mais sobre os seus trabalhos.
📷 A fotografia sempre fez parte da MargeM. Se você é fotógrafo(a) ou conhece alguém que seja e quer ter o trabalho exibido aqui na newsletter, envie um email para margemnewsletter@gmail.com. 📷
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