O site que cria música em 10 minutos
Esta é a MargeM 150. Cultuado e pouco conhecido músico brasileiro, José Mauro reaparece. A excelente girl in red. Site ajuda a criar uma música –em 10 minutos. A reavaliação dos psicodélicos. E mais.
"José Mauro está vivo."
O título da extensa reportagem do Bandcamp meio que sintetiza como esse músico brasileiro ainda é assustadoramente pouco conhecido e ouvido.
José Mauro ressuscitou graças ao relançamento de A Viagem das Horas pelo selo inglês Far Out –o disco saiu originalmente em 1976. O primeiro álbum do cantor e compositor, Obnoxious, é de 1970 e foi reeditado em 2016.
Nas últimas décadas, José Mauro era um nome que estava na cabeça apenas de poucos entusiastas da música brasileira dos anos 1970. Havia o rumor de que ele tinha morrido. "Eu não morri nada, estou vivinho. Não sei quem inventou isso”, disse José Mauro, hoje com 72 anos, ao repórter Silvio Essinger, que descobriu que o músico mora em Vargem Pequena, bairro no extremo oeste do Rio.
No final dos anos 1960, José Mauro (munido de letras feitas em parceria com a jornalista Ana Maria Bahiana), foi ao estúdio da Odeon com uma banda formada "apenas" por músicos como Dom Salvador, Mamão (do Azymuth), Wilson das Neves e Altamiro Carrilho. Gravou canções suficientes para dois discos.
Descontente com a indústria e com a pouca repercussão dos dois álbuns, José Mauro afastou-se da música. Essinger conta na reportagem que "com um princípio de mal de Parkinson, que o impede de tocar violão, e algumas dificuldades para se movimentar, o músico hoje vive sozinho, com uma parca aposentadoria e o apoio da família".
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Passou da hora de José Mauro ser redescoberto. A revista The Wire também foi atrás da história, e lembra que o brasileiro tem fãs como Flying Lotus, Floating Points e Madlib. "Psicodelia, soul, música orquestral e folk se misturam com MPB, Música Popular Brasileira, o estilo mais difundido no Brasil na época. Os resultados são algo totalmente único. Os gostos onívoros do próprio Mauro informaram a sua abordagem", escreve a revista britânica.
"A maior parte da minha música é triste, e tentei aplicar beleza a ela", José Mauro diz à Wire.
Já ao Bandcamp, ele resume o aparente desaparecimento assim: "Não. Eu não desapareci. O mundo me desapareceu".
Sophia Kennedy - I'm Looking Up
Espetacular faixa meio épica, meio tensa, em que a alternância de sensações parece a coisa mais natural do mundo. Me lembrou PJ Harvey e Arcade Fire.
Mais recente música da Anitta, Girl from Rio não está indo bem nas paradas. E, conta o G1, os fãs da cantora culpam a gravadora Warner, que não estaria promovendo direito a canção. E o que seria promover direito? Colocá-la em playlists como a Today's Top Hits, do Spotify, que tem mais de 27 milhões de seguidores. O Spotify diz que o processo de escolha das faixas que entram na playlist é "totalmente editorial".
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Quem está bem nas paradas é o forró. A pisadinha, "estilo de forró eletrônico em que a base é feita só com um teclado, é um grande celeiro de hits e artistas", afirma reportagem do UOL. "Fenômenos como Barões da Pisadinha, Tarcísio do Acordeon, Zé Vaqueiro, o próprio Ivis e muitos outros emplacam sucessos sozinhos e em parcerias com nomes já consagrados, como Wesley Safadão e Xand Avião."
O forró voltou a ser um dos mais ouvidos depois de 20 anos –época do Falamansa.
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Mas, veja só, você não precisa ser a Anitta ou o Barões da Pisadinha para criar uma música e colocá-la no Spotify. A startup Boomy é uma plataforma que oferece uma inteligência artificial para ajudar qualquer pessoa a criar uma música.
A pessoa escolhe qual será o estilo instrumental da canção (rap beats, lo-fi, global grooves etc.). Se escolheu "global grooves", em seguida opta por algumas características (super suave, sunset vibes, tropical taste etc.). Se quiser, dá para colocar vocais ou editar o que a máquina "compôs". E é isso. Você tem uma música –em menos de 10 minutos.
E então dá para colocar a faixa que o usuário, hã, compôs, no Spotify e em outras plataformas de streaming. A pessoa ganha 80% dos royalties que a faixa gerar, a Boomy fica com o restante.
Há uma série de discussões que podem (e devem) ser feitas (sobre valor artístico; autoria e direito autoral etc.), além de uma questão prática: qualquer um que precise de uma trilha para um conteúdo e não quer pagar pode recorrer a essa plataforma em vez de pagar a terceiros (se a música vai ficar boa é outra história).
A música pop consome a si própria e se reinventa. A norueguesa girl in red, 22 anos, pinça referências como as letras confessionais da Taylor Swift, a melancolia colorida de Lana Del Rey e o atrevimento estético da Lorde para criar faixas que transpiram inconformismo, inadequação, ironia (claro) e uma certa angústia pós-adolescente.
Há pouco, lançou o primeiro disco, If I Could Make It Go Quiet, que tem músicas com títulos como You Stupid Bitch, Serotonin e hornylovesickness.
Ao site brasileiro Monkeybuzz, ela conta: "O título do álbum é meio essa voz alta que aparece na minha mente, provavelmente aparece na mente de todo mundo. Os sentimentos e pensamentos que ocupam vários espaços e falam mais alto, sabe? Talvez seja eu querendo lidar com isso de uma forma melhor, é talvez um desejo de que fique tudo bem".
Um artigo no site Valkirias diz que "o som de girl in red foi feito para pessoas que sentem demais e que gostam de tratar tais sentimentos sem reviravoltas ou enfeites".
Já a New Yorker acha que, no disco, a norueguesa "salta entre as perspectivas, da franqueza sexual e luxúria ao desafio ou culpa".
Que as drogas e os seus efeitos estão sendo reavaliados pela medicina não é uma novidade. Mas, os psicodélicos e algumas substâncias sintéticas, como o MDMA, ganharam recentemente um espaço relevante entre pesquisadores de diferentes áreas. (Um bom ponto de partida: o livro Como Mudar Sua Mente, do Michael Pollan.)
"A medicina psicodélica está prestes a explodir", diz a Fast Company. "Novos dados clínicos mostram que a terapia assistida por MDMA pode ter um impacto significativo no Transtorno de Estresse Pós-Traumático, abrindo caminho para a aprovação e comercialização do FDA (o órgão regulador dos EUA)."
O New York Times não economiza na empolgação: "A revolução psicodélica está chegando. A psiquiatria pode nunca ser a mesma". Um trecho: "Depois de décadas de demonização e criminalização, as drogas psicodélicas estão à beira de entrar na psiquiatria convencional, com profundas implicações para um campo que nas últimas décadas viu poucos avanços farmacológicos para o tratamento de transtornos mentais e dependência química".
"Se você sempre faz o que te interessa, pelo menos uma pessoa ficará satisfeita."
Katharine Hepburn
Efeito colateral da pandemia: o aumento nos conflitos entre pais e escolas particulares a respeito das aulas presenciais.
"Em uma reunião virtual de pais de uma escola, uma mãe berra ao microfone que todos os pais que querem o retorno das aulas presenciais são negacionistas", conta este artigo. "Outra, de uma escola diferente, disse que as brigas de WhatsApp que tinham como tema o retorno das aulas se multiplicaram, e beiraram a baixaria."
Não são casos isolados. Professoras de escolas "de elite" relatam "assédio moral de pais e escolas por aula presencial".
O YouTube separou US$ 100 milhões para pagar diretamente os criadores da plataforma Shorts, de vídeos curtos (concorrente do TikTok já em operação nos EUA e na Índia). O YouTube afirma que "milhares" de criadores poderão ser pagos –mas isso ainda não está claro. "Exatamente quanto os criadores podem ganhar ainda está em aberto", diz reportagem da Verge. "O YouTube afirma que vai se conectar mensalmente aos criadores de conteúdo, em busca de pessoas com mais engajamento e visualizações."
The Nextmen & Eva Lazarus - Rudegyal
Faz sentido misturar reggae, hip hop e dub com toques de pop e eletrônica? Faz.
Coisas legais por aí
New York City Ballet Spring Gala. A companhia nova-iorquina chamou a Sofia Coppola para dirigir um curta com cinco coreografias. Lindo demais. Importante: ica disponível até 20 de maio.
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Fatma. Série turca em que uma faxineira sai à procura do marido, que misteriosamente desaparece depois de sair da prisão. Ao se envolver com agiotas, traficantes e ladrões, ela mostra que, diferentemente do que aparenta, não é tão indefesa.
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Oxigênio. Ficção científica com uma história bem desenvolvida e que mantém a tensão o tempo todo. Uma mulher acorda dentro de uma câmara criogênica e tem de arrumar um jeito de sair de lá antes que acabe o oxigênio.
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The Pirate Bay. O Darknet Diaries é um podcast dedicado a contar histórias e a explicar como funciona uma parte da internet meio invisível: aquela ocupada por hackers, cyber-ativistas etc. Este episódio conta a história de uma das principais fontes de arquivos de torrent do mundo (em inglês, mas tem a transcrição).
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Kemistry and Storm – Metalheadz 1997. Kemistry, Storm e Goldie formavam o núcleo de drum’n’bass Metalheadz. Quando a Kemistry morreu em um acidente de carro, em 1999, o grupo foi desfeito. Para lembrar a colega, o Storm colocou na rede esse set que eles fizeram em 1997, em uma em que o drum’n’bass comandava. A segunda parte do set está aqui.
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Monsters. Disco da Sophia Kennedy, do vídeo que está no início desta newsletter. Álbum feito de letras bem lapidadas e musicalmente cheio de referências.
Já está rolando a segunda edição do 150 Fotos pra SP, iniciativa em que 150 fotógrafos doaram uma imagem para o projeto. Cada foto custa R$ 200 e o dinheiro será doado para a organização Treino na Laje.
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Uma ótima lista com as 50 melhores músicas do Jay-Z.
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Aos 27 anos, a MC Carol vai lançar o disco Borogodó. Ao site Elastica, ela diz: "As pessoas acham que eu me aceito 100%, mas me amar assim é impossível em um país onde vejo cirurgias plásticas o tempo todo. O processo de aceitação é muito longo".
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Que maravilha: uma experiência em 3D com o coral de uma igreja do Harlem.
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Na MargeM passada, escrevi sobre Bright Green Field, excelente disco da banda Squid. Para a New Yorker, "as canções evocam tensão. Há uma intensidade nas partes fortemente rítmicas que parece insustentável –e muitas vezes qualquer senso de regularidade é corroído, até que as músicas se quebram e se reformam".
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Baseada num premiado livro do Colson Whitehead, a série The Underground Railroad estreou no Amazon Prime nesta sexta. É a história de uma escrava que tenta fugir de uma plantação de algodão; para isso, conta com a ajuda de gente que opera uma rede de túneis subterrâneos. O diretor, Barry Jenkins, conta que tentou não glamourizar a violência: “Precisava ler a bússola ética e moral do limite aceitável e ser direto sobre a verdade que estava contando. Não para tentar caminhar nesse limite, mas para ter consciência sobre o que estávamos tentando comunicar”.
O autor da trilha é Nicholas Britell, que fez a espetacular música de Succession. O compositor conta (ao lado de Jenkins), como criou o novo trabalho.
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"Bela Vingança apresenta anti-heroína perfeita para tempos de MeToo."
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Estilistas e empresários discutem como será o futuro dos desfiles de moda.
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O modelo de trabalho híbrido provavelmente não vai durar muito, argumenta este artigo. (Spoiler: o artigo enumera quatro fatores; um deles: precisamos dos deslocamentos.)
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Para saber se você está com síndrome de burnout.
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Os robôs do futuro já estão entre nós. "Capazes de interpretar o mundo ao seu redor usando sensores e 'machine learning', esses robôs têm funções muito específicas a desempenhar em processos industriais, trabalhando lado a lado com seus colegas humanos."
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Se você for adotar um cachorro: os cães que aparentam ser mal humorados tendem a aprender tarefas mais facilmente do que os que têm jeito de serem mais amigáveis.
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Pessoas que trocam coisas: começam por pequenos objetos, chegam a viagens e casas.
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A Condé Nast Traveler lista os melhores novos restaurantes do mundo.
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Rastreie tubarões pelos oceanos em tempo (quase) real.
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Melhor thread-remix do TikTok?