O Spotify e os podcasts; consumidores como fãs
Será que está dando errado a aposta bilionária do Spotify em podcasts? Marcas e o marketing de comunidades. A Christina Ricci se encontrou em Yellowjackets. Ottessa Moshfegh. E mais, nesta MargeM 184.
"A aposta bilionária do Spotify em podcasts ainda não deu certo", diz artigo na Bloomberg.
O argumento principal é o de que a plataforma torrou, nos últimos quatro anos, US$ 1 bi no formato (comprando produtoras, licenciando programas etc.) e até agora essa grana não gerou nenhum hit novo (alguns dos podcasts mais famosos do Spotify, como o de Joe Rogan, são antigos). Além disso, os podcasts representaram "apenas 7% do total de horas de audição no primeiro trimestre de 2022, e 2% da receita no ano passado".
O artigo é bem crítico em relação a essa estratégia do Spotify, mas o ponto é que o próprio texto, sem querer, mostra que esse caminho pode, sim, estar dando resultado: "Com mais de 420 milhões de usuários e cerca de 182 milhões de assinantes pagos, o Spotify é o maior serviço de áudio do mundo".
É o maior serviço de áudio do mundo mesmo com a concorrência forte de Apple, Amazon, Deezer etc. Justamente porque todas essas plataformas possuem basicamente o mesmo catálogo musical (discos e músicas são colocadas em todas elas), mas é a oferta de podcasts que diferencia cada uma.
"Historicamente, a relação entre consumidores e empresas era mais transacional e direta. Você procurava um item que precisava em uma loja. Poderia ser colocado em uma lista de espera e receber catálogos ou cupons promocionais, mas a comunicação permanecia relativamente escassa. Hoje, a era do consumismo passivo parece ter acabado. A expectativa é manter os clientes ativos, entusiasmados e engajados além dos parâmetros do produto que estão oferecendo. As marcas querem que os consumidores sejam fãs e os sigam nas mídias sociais, marque-as em postagens, contribuam para canais de bate-papo privados e participem de eventos pessoais."
Excelente artigo sobre como muitas marcas (e veículos) estão fazendo tudo para criar comunidades em torno de si. Um ambiente em que as pessoas (clientes) permanecem conectados, a atenção não se esvai, o produto segue sendo falado – e, claro, tudo isso gera dinheiro.
Meme também é cultura (e ciência): lembra 2015, quando estourou nas redes uma foto de um vestido que para alguns era preto e azul e, para outros, branco e dourado? Bem, aquele meme inspirou neurocientistas, que agora buscam explicar por que as pessoas enxergam o mundo de maneiras diferentes.
A Christina Ricci deu extensa entrevista ao New York Times para falar de seu papel na excelente Yellowjackets, já bem falada aqui na MargeM. É o personagem que ela procurou a vida toda, segundo a autora do texto, que relembra o início da carreira, aos 10 anos, a decisão de fazer uma cirurgia plástica aos 19 e problemas envolvendo ansiedade e desordem alimentar. E conta que a virada em sua carreira (e vida) rolou com Monster, em que atuou ao lado da Charlize Theron.
Algo que diz muito sobre a nossa relação com obras de arte e ficção.
Ottessa Moshfegh acaba de lançar (primeiro no exterior) o livro Lapvona. Ela é autora de Meu Ano de Descanso e Relaxamento, em que brilhantemente narra o período em que uma jovem decide "hibernar" com a ajuda de toneladas de medicamentos. (E o livro vai virar uma série.)
Ela conversou com a também escritora Carmem Maria Machado. O que mais me interessou nesse papo foi o que Ottessa diz sobre a percepção que muita gente tem sobre a história ficcional de Meu Ano...:
"Uma coisa que notei sobre o novo interesse no Meu Ano de Descanso e Relaxamento é que parece que há um grupo de fãs de pessoas que se dizem garotas tristes. E isso me preocupa, como alguém que era uma mulher mais jovem com depressão. Quando minha irmã mais velha leu, ela disse que deveria vir com um sinal de aviso. Talvez devesse. Porque, gente, aquilo é uma sátira, não é real. E vivemos em uma época em que tudo é tão distorcido que não quero que ninguém tome uma overdose de Ambien porque leu o meu livro.”
O Substack, plataforma que hospeda esta newsletter, demitiu 14% dos seus funcionários.
"Os cortes são um golpe para uma empresa que disse estar abrindo uma nova era na mídia, na qual as pessoas que escrevem histórias e fazem vídeos seriam mais empoderadas, recebendo pagamentos diretos dos leitores pelo que produzem em vez de serem pagos pelas publicações ou sites onde seu trabalho aparece", escreveu o NYT.
E algo que diz muito sobre o ecossistema de startups: o Substack é uma empresa que teve US$ 9 milhões de receita no ano passado e que se vende como uma companhia que vale cerca de US$ 1 bilhão.
A imagem acima e as outras duas que ilustram esta newsletter estão no livro A World History of Women Photographers.
A obra, que saiu originalmente na França, em 2020, reúne imagens de 300 fotógrafas de diversos países, do século 19 até hoje. É organizada por Luce Lebart e Marie Robert e está saindo agora em língua inglesa.
E aqui tem uma entrevista com uma das organizadoras do livro feita pela Zum no ano passado.
E depois de muuuuuito tempo tem playlist nova aqui da MargeM.
"Como os 'Adultos Disney' se tornaram o grupo mais odiado da internet."
Segundo a Vogue britânica, a hora é dos looks Barbie.
O NYT publica nova reportagem para tentar entender por que o TikTok tornou-se tão vital para a indústria dos livros. (E o TikTok admite que funcionários na China podem acessar dados dos EUA.)
Companhia aérea da Nova Zelândia lançará beliches para a classe econômica.
Como e quando fazer carta de despedida de emprego.
Alluder. (Um banco de dados online com infos das mais variadas sobre filmes e como eles se conectam com a história e a cultura pop.)
É como um Spotify, mas para sons da natureza.
Um site que mostra imagens que foram censuradas pelo Instagram e outras plataformas.
Escreva uma mensagem para você mesmo (ou para alguém) e ela será entregue por email daqui a dez anos.