O TikTok muda a música –e as relações de poder
MargeM 201 na área. O TikTok jogou o poder nas mãos de influenciadores. Saber se vender virou quase uma obrigação para estar online. Crianças milionárias do YouTube. Os 2ManyDJs. O Artelheiro. E mais.
Uma ótima, ótima, ótima reportagem sobre como o TikTok está mudando não apenas como a música é sendo feita, mas também desconstruindo relações de poder.
A matéria é longa (e em inglês), mas vale muito a leitura. Mostra como o TikTok funciona; que virou uma plataforma em que jovens descobrem coisas novas; o poder de seu algoritmo; e como adolescentes estão criando músicas rápidas na esperança de que elas viralizem.
E tem um ponto que diz muito sobre como está mudando a relação entre compositores, gravadoras, músicos e criadores:
"Jacob Pace tinha 19 anos quando, em 2017, assumiu o controle do Flighthouse, um perfil no Musical.ly que ele ajudou a transformar em um estúdio de vídeos curtos para o TikTok. A princípio, ele me disse, as gravadoras e editoras queriam que o Flighthouse pagasse uma taxa para poder usar músicas protegidas por direitos autorais, como é a prática padrão na TV e no cinema. Mas Pace não conseguia acreditar. 'Eles queriam que pagássemos pelo uso de suas músicas!', exclamou para mim recentemente, ainda incrédulo, aos 24 anos."
Ou seja: na cabeça desse cara, por que um influenciador que vai divulgar uma música para milhões de pessoas e fazer essa música se tornar conhecida seria obrigado a pagar por isso?
Mais do que YouTube, Spotify ou qualquer outra plataforma, o TikTok criou uma dinâmica de consumo de entretenimento em que criadores e influenciadores ganharam poder para transformar músicas desconhecidas em hits.
Um exemplo conhecido dessa dinâmica (e que ilustra o espanto do executivo acima) é Old Town Road, a faixa que tomou conta do TikTok em 2019 e fez de Lil Nas X um popstar mundial –e que ganhará, no Lollapalooza SP 2023, espaço semelhante aos de Billie Eilish e Drake.
https://g1.globo.com/pop-arte/musica/lollapalooza/noticia/2022/10/11/lollapalooza-brasil-2023-programacao-tem-drake-billie-eilish-blink-182-rosalia-e-lil-nas-x.ghtml
O responsável por fazer Old Town Road viralizar no TikTok é um jovem chamado Michael Pelchat. À Rolling Stone, Pelchat contou: "Ele (Lil Nas X) disse, tipo, 'Obrigado, cara, por mudar minha vida, aqui estão US$ 500".
Meio que um complemento à reportagem que inicia a newsletter, esta aqui escancara que não são apenas músicos e cantoras como a Halsey usam (e precisam usar) redes como TikTok para se auto-promover, mas todo mundo.
Um trecho que resume a situação: "Saber se vender não é mais apenas um problema de celebridade. É uma condição básica em estar online."
Outro: "Aderir a uma rede social por motivos pessoais para, então, se descobrir usando-a para fins materiais é, de fato, a experiência padrão".
O YouTube ganhou a atenção das crianças, e crianças estão ficando milionárias no YouTube. O Wall Street Journal conta (e a reportagem é replicada aqui) os casos de quatro: Vlad, Niki, Diana e Nastya, que criaram três canais na plataforma: Vlad and Niki; Like Nastya; e Kids Diana Show. Juntos, esses canais têm mais de 300 milhões de inscritos.
São crianças que ganham grana fazendo vídeos banais, mas que as levam a participar de festas de aniversário em iates, a voar pelo mundo e passear em Ferraris.
Ao aproximar, em um mesmo mix, Kylie Minogue, Velvet Underground, Salt-N-Pepa, Stooges, Maurice Fulton, Peaches, Sly and the Family Stone e tantas outras coisas aparentemente indissociáveis, o disco As Heard on Radio Soulwax Pt 2 inspirou muitas pistas a abrir espaço para sets que não se prendiam a apenas um gênero musical.
Hoje, os 2ManyDJs lembram que, logo depois do sucesso do disco, "Algumas gravadoras nos disseram: ‘Aqui está o nosso catálogo. Você pode fazer um mashup?'. E nós: 'Não, não, não, não foi por isso que fizemos isso. E, também, foram vocês que, antes, não liberaram os direitos quando nós pedimos!'. Ia contra o nosso ethos".
E, na mesma linha: "O pop se infiltrou no underground da dance music de uma forma que não se ouvia há muitos anos".
Há um tempo escrevi na MargeM sobre o Artelheiro, o MC autor da espetacular Jesus de Cyclone, que mistura rap, funk e samba.
Ele está lançando disco, e afirma: "O disco representa a minha trajetória, a de ser um mano que queria ter uma Ducati, uma XT. É a história do meu bonde. Ao mesmo tempo, mais velho, saquei a importância da política. Então, eu ainda quero ser essa pessoa, mas com consciência política, racial e social. E se eu tiver de XT, vai ser para trazer de volta o que tomaram de nós".
As imagens desta edição são de uma coleção de NFTs que celebra os 75 anos da Magnum.
"Cinco semanas depois da publicação do meu romance de estreia, meu namorado, que é escritor, terminou comigo porque sou escritora.
Sou escritora há muito tempo. Ele também. Até este verão, ele era inquestionavelmente o mais proeminentemente conhecido. Quando contei aos meus amigos sobre a separação, eles sugeriram que ele se sentia ameaçado por meu sucesso.
Mas isso não fazia sentido. Ele já havia terminado comigo antes, há alguns anos, porque eu não era bem-sucedida e independente o suficiente. Ele queria uma parceira, não uma esposa, disse ele."
São apenas os primeiros parágrafos desta história pessoal.
"Série Encantado's é um manifesto sobre diversidade racial."
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Oi, MargeM!
Essa coisa de crianças fazendo vídeos é assustadora; lembro que meu afilhado, quando mais novo, assistia a vídeos de crianças brincando. Incrível como cada vez mais esse tipo de "conteúdo" ganha espaço. Isso sem nem entrar no mérito da exposição.