O WhatsApp virou uma força cultural; e a lição de Julia Roberts
Atriz breca sequência de Notting Hill. Willem Dafoe e as plataformas de streaming. A newsletter da Laura marling. O WhatsApp abocanha o mundo. E mais, nesta MargeM 247
Entre os artistas da cultura pop, as tentações para seguir com algo que deu certo são enormes. Ganhar mais grana, reafirmar poder, alimentar a vaidade, tentar mostrar que a criatividade e o talento ainda estão lá em cima.
A volta do Oasis. O novo Trainspotting, que acaba de ser anunciado pelo Irvine Welsh. O retorno (anos depois de um primeiro retorno) dos Sex Pistols. O Gladiador ressuscitado no corpo de Paul Mescal.
São apenas quatro exemplos de gente da música, da literatura e do cinema que decidem reviver uma banda, um livro, um filme que marcaram muita gente.
Não fica apenas aí: algumas sequências surgem até a contragosto do dono da obra, como a “continuação” de O Apanhador no Campo de Centeio.
Mas temos aqueles que teimam em ir em outra direção. Como a Julia Roberts e o Hugh Grant. Os dois, a gente lembra bem, são os protagonistas de Um Lugar Chamado Notting Hill, certamente umas das três mais conhecidas comédias românticas da história do cinema.
Tentaram emplacar uma continuação do filme, mas Roberts barrou a proposta. “É uma péssima ideia”, disse a atriz, acho, sabiamente.
Grant até toparia fazer um novo Notting Hill, mas apenas para desconstruir toda a, digamos, mensagem que o filme projeta.
“Gostaria de fazer uma sequência de uma das minhas comédias românticas que mostre o que aconteceu depois que o filme terminou. Para provar a grande mentira de que era um final feliz. Queria mostrar eu e Julia enfrentando o divórcio horrível que se seguiu, com advogados caríssimos, crianças envolvidas em uma disputa de guarda, rios de lágrimas. Psicologicamente marcados para sempre. Adoraria fazer esse filme.”
Algumas coisas deveriam ser intocadas. Em 1974, tentaram colocar de pé Casablanca 2. Ofereceram ao Truffaut, que habilmente recusou o projeto. O texto linkado ao lado relembra também que Madonna queria fazer um remake de Casablanca – com ela e Ashton Kutcher nos papeis principais.
Este outro artigo lista diversos filmes (além de Casablanca, Forrest Gump, E.T., Se7en etc.) que tiveram sequências que ficaram pelo caminho.
E na música, que banda relevante dos últimos 40 anos ainda ousa dizer não para uma volta aos palcos? Os Smiths (apesar das tentativas do Morrissey)? Mais alguém?
Um dos atores de Nosferatu (estreia no Brasil no início de janeiro), Willem Dafoe fala sobre o relacionamento das pessoas com os filmes, as salas de cinema e as plataformas de streaming:
”Elas preferem ir para casa, ligar a TV e assistir a um filme dessa forma. (...) Há coisas boas sobre essas plataformas. Elas produzem muitos filmes, criam muitos empregos. Mas há tantas distrações que você não consegue se aprofundar no conteúdo. As pessoas assistem cinco minutos de algo e dizem: ‘Não estou muito a fim disso’, e pulam para outra coisa. ‘Não estou muito a fim disso.’ Depois outra coisa. ‘Não estou muito a fim disso.’ E então vão dormir.
Se você não se esforçar, não vai receber muito em troca. E o nível do discurso cai, tudo fica um pouco mais simplificado, e é aí que os bárbaros entram, com sua energia e estupidez, e acabam esmagando as pessoas que refletem. Isso não é bom para a cultura e não é bom para a humanidade. Vemos os resultados disso o tempo todo.”
Baseado no livro homônimo do William S. Burroughs, Queer acaba de chegar aos cinemas brasileiros. É a história da paixão de William Lee, alter-ego de Burroughs, por um jovem na Cidade do México nos anos 1950.
Nesta entrevista, Daniel Craig, que interpreta Lee, diz:
“A jornada emocional dessas pessoas continua extremamente atual. Todos podemos nos identificar com temas como solidão, desejo, luxúria, amor. Eles continuam os mesmos, como nos anos 1950.”
Ainda sobre o filme, este artigo argumenta: “Queer vê o amor gay entre a pornografia e o surrealismo sensível”.
Não sabia que a ótima cantora Laura Marling tinha uma newsletter.
Neste post, ela escreve sobre cartas e redes sociais:
“Também criei o hábito de escrever cartas para pessoas que eu admirava, mas que já estavam mortas ou que eu não conhecia pessoalmente – escritores, artistas ou qualquer outra pessoa –, cartas que guardei em uma caixa em algum lugar. isso me foi sugerido como um exercício de escrita, com o objetivo de entender o que exatamente você admira naquela pessoa e, acho, assimilar algo dessas qualidades ao reconhecê-las. Por ser ao mesmo tempo um pouco místico e um tanto escapista, achei o exercício simplesmente brilhante.”
O WhatsApp está abocanhando o mundo.
O app não é apenas uma plataforma de mensagens, mas uma força cultural dominante em diversas partes do planeta. É usado tanto por uma popular atriz nigeriana para promover um recente filme para os mais de 200 mil seguidores de seu canal quanto por uma clériga muçulmana da Indonésia para transmitir mensagens para seus mais de 104 mil seguidores.
“Com mais de 2 bilhões de usuários, o WhatsApp não é apenas o aplicativo de mensagens mais popular do mundo — é uma tábua de salvação digital. Seus concorrentes mais próximos, WeChat (1,3 bi de usuários) e Facebook Messenger (1 bi de usuários), ficam muito atrás. Em muitas partes do mundo, o WhatsApp é praticamente sinônimo de internet.”
No Brasil, 25% das vendas do e-commerce da gigante L’Oréal passam pelo WhatsApp. O maior mercado do WhatsApp é a Índia (400 milhões de usuários), seguido pelo Brasil (120 milhões).
Mas a Meta quer mais:
A ideia da companhia é colocar “todas as empresas do mundo no WhatsApp”. A empresa anunciou que vai começar a visitar fisicamente pequenas cidades em toda a Índia para “integrar negócios locais ao aplicativo”.
Das mais solares e criativas plataformas de conteúdo que conheço, o Summer Hunter não está apenas em site, Instagram, podcast ou em eventos físicos como a Casa Summer Hunter, que já aportou no Rio e em São Paulo. É, também, uma newsletter semanal (disparada toda sexta) que chega a cerca de 40 mil assinantes.
“A nossa news é uma capa de Superinteressante por semana. Ou seja, um mergulho em temas do momento, normalmente ligados a saúde mental, bem-estar ou viagem”, conta o Ricardo Moreno, fundador do Summer Hunter. Pra assinar, siga por aqui.
As imagens desta edição estão em uma mostra com algumas das melhores fotos de 2024 publicadas pela plataforma Africa Foto Fair.
A MargeM está também no Spotify, com playlists que reúnem as músicas novas e legais que a gente tem ouvido. Não só músicas novas – nesta última, tem até um classicaça “If You Could Read My Mind”, lembra dela?
→ Um ranking com as 20 melhores músicas do White Stripes. (E Seven Nation Army não está no topo.)
→ Suspeito de golpe milionário em múscios sertanejos é preso após reportagem.
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→ “Adaptar Cem Anos de Solidão parecia impossível. Não era.”
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→ Os campeões de tecnologia mais surpreendentes de 2024.
→ Bancos estão se tornando um lugar atrativo para desenvolvedores e outros profissionais que trabalham em tech.
Que conteúdo fantástico. Obrigada pela curadoria, por concatenar tantas ideias.