Os virais estão sumindo, e os hypes ficando mais efêmeros
E cantoras como SZA e Kehlani reclamam da popularização dos artistas criados por IA, que já estão assinando contrato com gravadoras
Talvez você já saiba, estamos também no Instagram. Ali colocamos vídeo sobre a espetacular série de livros “Sobre o Cálculo do Volume), de Solvej Balle, mini-entrevista com o Ronaldo Lemos e dicas de livro, expo, filme e disco. E, no Spotify, tem playlists como esta aqui, com músicas do Primal Scream e de artistas que influenciaram e foram influenciados pela banda escocesa.
Mas vamos a esta MargeM #277. Boa leitura!
“Isso está muito além do nosso controle, e nada, ninguém neste planeta será capaz de justificar a IA para mim.” A autora desta frase é a Kehlani.
“Por que desvalorizar a nossa música? (...) Pessoas e crianças estão morrendo por causa do dano e da poluição que os data centers de IA estão criando. (Tirar) Uma foto idiota não justifica poluir e prejudicar comunidades vulneráveis (referência a um data center que Elon Musk está construindo em Memphis). Por favor, saibam que, toda vez que vocês usam ou pedem algo à IA, alguém em uma comunidade esquecida está sofrendo. Eventualmente, os efeitos vão atingir a todos e, quando isso acontecer, será tarde demais.” Esta é a SZA.
As duas reclamam não apenas da IA, mas dos desdobramentos recentes da IA no mundo da música. Wxemplo: a Xania Monet, uma cantora criada por IA que já ultrapassou 17 milhões de audições no streaming e assinou contrato de US$ 3 milhões com uma gravadora.
Monet foi desenvolvida por Talisha Jones, uma poeta e designer de 31 anos que mora no Mississippi. Ela faz as músicas com a ajuda da Suno, uma plataforma que gera músicas a partir de prompts.
E qual foi a grande sacada (ou esperteza) de Talisha? Ela soube recriar com a IA faixas que soam como o “novo r&b” de Kehlani, SZA, Tinashe, H.E.R. e tantas outras. Se eu gosto? Nem um pouco, mas com a popularização das ferramentas de IA e o sucesso de Xania Monet, Vinih Pray e Velvet Sundown, esse caminho tem volta?
Mais:
The Verge: “O que acontece quando um artista gerado por IA consegue um contrato de gravadora? Uma confusão com direitos autorais”.
Techcrunch: “Agora dá para conectar o seu Spotify ao ChatGPT”.
Global News: “Qual é o futuro da IA e da música? As coisas estão começando a ficar claras”.
The Guardian: “Sou compositor. Estou encarando a extinção?”.
“Com o avanço das plataformas de mídia movidas por algoritmos, como o TikTok, os momentos que fazem as pessoas ao redor do mundo comentarem o mesmo assunto, na TV a cabo ou à mesa do jantar, estão se tornando menos comuns. O feed de cada usuário é hiperpersonalizado, o que significa que ninguém vê a mesma versão da internet.”
Este trecho resume bem o tema deste artigo: por que os conteúdos virais parecem estar diminuindo.
Outro ponto: um dos motivos que faziam um conteúdo viralizar era a surpresa com algo que ocorreu mas não era para ter ocorrido, o amadorismo da captação de som e imagem, o absurdo de uma situação.
Hoje todo mundo quer criar conteúdo, todo mundo virou creator. Todo mundo faz carrossel com arte bonitinha e texto fofo. Ou vídeos ensaiados. Os feeds ficaram chatos.
Labubu é coisa do passado?
A partir da febre de consumo desses bonecos, a Gama discute por que as trends aparecem e somem de forma cada vez mais rápida.
Especialistas afirmam na reportagem que uma das diferenças entre “uma tendência verdadeira de um hype” é que:
“Enquanto a primeira tem ideias mais fortes por trás, e por isso acaba permanecendo, o hype é uma onda que em algum momento deve se chocar contra a areia. ‘Ele não é uma tendência porque não corresponde a nenhum modelo mental disruptivo ou inovador, que vai gerar novos comportamentos’.”
Tem outro ponto. As redes sociais são, hoje, os principais agentes que turbinam ondas e tendências. Este artigo, escrito do ponto de vista de uma agência de comunicação, afirma que os algoritmos do TikTok e Instagram aceleram o surgimento das trends, mas também levam a uma rápida queda, dificultando que as marcas acompanhem esses movimentos.
Na última newsletter falamos bastante sobre o Geese, a banda que voltou a colocar o rock no centro das conversas ao lado de pop, eletrônica, trap e outros gêneros que são a cara deste século.
E continua. Dois bons artigos tentam entender por que parece que todo mundo tá falando no Geese:
Hard of Hearing: “O Geese faz música desorientadora para tempos desorientadores”.
DIY: “Provam que valem todo o hype”.
Há pouco, a banda foi ao programa do Jimmy Kimmel para tocar a espetacular “Taxes” e soltou um vídeo para “Au Pays du Cocaine”.
As imagens desta newsletter são de Alejandro Cegarra e Serghei Duve, os dois ganhadores do Leica Oskar Barnack Award.
→ Um ranking com TODAS as 274 músicas da Taylor Swift.
→ E aqui um ranking não tão extenso: os melhores filmes da Marion Cotillard.
→ Cameron Crowe relembra os anos intensos como jornalista musical adolescente.
→ A Netflix vai colocar games no seu app para TV.
→ Como os videogames estão moldando uma geração de meninos, para o bem e para o mal.
→ As marcas querem se conectar com os Gen Z. Para fazer essa ponte, estão pipocando agências e startups que tentam decodificar as preferências e os hábitos desses jovens.
→ Por dentro da biblioteca de 20 mil livros de Cormac McCarthy.
→ A estranha e perigosa intimidade do compartilhamento de localização em tempo real.