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Quando a ironia guia a música e o comportamento online
MargeM 156 na área. O ofensivo (mas irônico) shittrap. O novo da Pabllo Vittar. Millennials, geração Z, cringe, Ana Maria Braga, o KKKKKKKK e os alphas. Mais: coisas legais como o disco do SAULT, This Is Pop, Rojst e In-Edit.
"É a união flasco
RJ até o sul
e se me chamar de gaúcho
eu vou mandar tomar no **
nois forçar união flasco até virar caneta azul
e se vier encher o meu saco
eu vou flooda o vampeta nu".
São versos de É a União Flasco, música do rapper LUCKHAOS que já tem mais de 10 milhões de visualizações no YouTube.
A faixa é um bom exemplo do shittrap, subgênero que mistura batidas e climas do trap com letras agressivas, provocadoras, que muitas vezes resvalam no mau gosto.
"O que difere o shittrap (...) é que o movimento opera na lógica do shitposting, termo utilizado na internet para definir um comportamento provocativo e chocante de postagens online", escreve Daniel Vila Nova na Gama.
É uma música que tem ligação direta com um comportamento online: o de fazer shitpostings.
"Viktor Chagas, professor e pesquisador da Universidade Federal Fluminense (UFF) e autor do livro A Cultura dos Memes: aspectos sociológicos e dimensões políticas de um fenômeno do mundo digital, define shiposting como 'uma ação empreendida no âmbito das comunidades online em que um indivíduo publica um conjunto de gracejos, memes e provocações com o objetivo de incitar os ânimos dos presentes nas comunidades'", continua a reportagem da Gama.
Aos 19 anos, Gabriel Alexandre, que assina produções sob o nome Haku, explica:
“O shittrap faz bastante sucesso entre jovens porque os jovens são o público que mais compreende que a letra é irônica. Pessoas mais velhas têm dificuldade de entender e acabam levando a música a sério, o que nunca deve ser feito. O shittrap é completamente irônico, nada falado nas músicas do LUCKHAOS deve ser levado a sério”.
Absolutely Free - How to Paint Clouds
É tipo uma mistura de Arcade Fire, Yes e Jean-Michel Jarre num filme do Darren Aronofsky.
Pabllo Vittar acaba de lançar o quarto disco, Batidão Tropical. São faixas bastante influenciadas por gêneros como forró e tecnobrega e há versões de músicas de Ravelly e Companhia do Calypso.
"É como se eu pegasse o Norte e Nordeste, colocasse em um pedestal e mostrasse para o Brasil e o mundo verem o tanto que é rico e plural", ela explica em vídeo ao G1.
Ao El País, Pabllo diz: “Acho incrível essa cultura musical tão interligada. Você tem uma banda, eu tenho outra, mas você regrava minha música, eu faço a sua também... Fico muito feliz quando lanço uma música e alguma banda já regrava em forró. Para mim, isso é como ganhar na Mega Sena!”.
"Disco da Pabllo representa mais o Brasil do que o vira-lata caramelo."
E "o que saber de Pabllo Vittar para não passar vergonha ao ouvir o novo disco da cantora".
A jovem cantora de folk-pop Lucy Dacus acaba de lançar o terceiro disco, Home Video. Ela deu entrevista ao Independent: "A cantora e compositora norte-americana é uma das novas queridinhas do indie e retorna com um álbum que confronta a sua infância, a educação cristã e 'queerness'. Ela fala a respeito da nova fama, abordando a sexualidade pela primeira vez, e de como Phoebe Bridgers e Julien Baker a ajudaram a se abrir".
No primeiro post desta newsletter, o sobre shittrap, um produtor de 19 anos diz que as pessoas mais velhas muitas vezes ficam ofendidas com as músicas do gênero porque não entendem ironia. Para os Gen Z, na música e na vida, não compreender uma ironia é algo muito cringe.
Se você frequenta as redes sociais, encontrou memes ou posts a respeito de cringe e de uma certa "briga" entre millennials e Gen Z (e nem precisa ter redes sociais: nesta sexta, a Ana Maria Braga dedicou bom espaço do programa ao tema. "Você é cringe? Como saber se você se encaixa no perfil", enunciava o programa ).
Tudo meio que começou com este tuíte, que perguntava aos Gen Z o que eles achavam mico nos millennials. Aparentemente, para esses jovens tomar café da manhã, pagar boletos e tomar cerveja são coisas "cringe" (algo como vergonha alheia).
De minha parte, acho que é a "polêmica" boba e divertida que estávamos precisando em meio a tanta desgraça que ocorre no país.
Esta reportagem resume bem toda a discussão.
Na mesma linha, a repórter Juliana Gragnani escreve na BBC "como nasceu o KKKKKKKK da geração Z e por que emoji de risada é coisa de gente velha".
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Matheus Pichonelli: "A geração Z te deixou 'cringe'? Pois espere a ascensão dos alpha".
"Com os alpha, muitos hábitos milenares estarão com os dias contados. Aí sim haverá choro e ranger de dentes."
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É uma decisão tomada por muitos millennials, mas gente mais velha também tem preferido ficar solteira a se envolver mais seriamente com alguém. O BuzzFeed EUA ouviu várias pessoas que gostam de estar solteiras, de diversas idades, e os motivos variam bastante –há aquelas que passaram por traumáticos rompimentos amorosos às que carregam a sensação de que têm uma vida completa sem a necessidade de adicionar um(a) parceiro(a).
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"Os Gen Z estão reimaginando a masculinidade. As marcas também."
(Mas, como lembra o Sylvain Justum no Twitter: "Parece que a Gen Z descobriu a pólvora e que seus ídolos 'gender fluid' são pioneiros em alguma coisa. Alguém apresenta David Bowie, Prince, Boy George, Depeche Mode, Freddie Mercury, os new romantics etc pra essa galera faz favor".)
Cinco YouTubers bem-sucedidos revelam o que é preciso e como fazem para ganhar grana na plataforma.
"Tem vídeo que eu me mato para produzir, com uma equipe de 10 pessoas, e dá 50 mil views. É uma semiloteria", diz Paulo Biacchi. "Virava noite editando. Não tinha tripé. Pegava a tábua de passar e levava para tudo quanto é lugar na moto. Gravava todos os fins de semana para lançar um ou dois vídeos por mês", conta Wiris Viana.
Coisas legais por aí
Nine. Saiu ontem o quinto disco do SAULT, banda tão misteriosa quanto ótima, que em 2020 lançou não apenas um, mas dois dos melhores discos daquele ano: Untitled (Black Is) e Untitled (Rise). Bases de hip hop, vocais neo-soul, rock, ruídos, funk –tudo isso apenas na faixa London Gangs; Trap Life se divide em duas, com uma primeira parte psicodelicamente percussiva e, ao final, vira quase uma sinfonia de beats graves; outra ótima é You From London, com participação da Little Simz. Uma obra-prima.
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In-Edit. O festival de documentários musicais segue até 27 de junho. Ainda dá tempo de ver filmes como Aquilo que Eu Nunca Perdi (sobre Alzira E), Deixa que Digam (sobre Jair Rodrigues), Secos & Molhados, All I Can Say (com Shannon Hoon, vocalista já morto do Blind Melon), Don't Go Gentle (da banda IDLES) e It's Yours: a Story of Hip Hop and the Internet, entre outros.
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This Is Pop. Na linha de programas de TV/podcasts que tentam destrinchar uma música, um disco ou mesmo um gênero da música pop (como Switched on Pop e Por Trás Daquele Som), chega esta série com oito irregulares episódios. Um trata de auto-tune; outro, do crescimento dos festivais, enquanto um dos melhores é o que aborda a influência do pop sueco.
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Rojst. Série polonesa sobre dois jornalistas (um mais velho, outro relativamente jovem) que investigam um assassinato ocorrido em uma floresta (e, também, o suicídio de dois jovens). O roteiro não é nada previsível (e também não se apoia em reviravoltas malucas), a fotografia transmite uma secura que também guia diálogos e o andamento da série. A segunda temporada estreia em 7 de julho.
Koleżanka - In a Meeting
"You wait all night/ You wait for the right line/ If you don’t let those things lies/ You’ll wait for a long time/ And I’m always on time."
A hashtag #fabric é um sucesso no TikTok, com mais de 930 milhões de visualizações. A maioria dos vídeos mostra trabalhadores revelando como produtos são fabricados. Mas o ponto é que muito desse negócio é turbinado por empresas como a Bioa Mall, que tem uma equipe de 30 pessoas que opera 200 contas na rede. Os vídeos no TikTok servem também como canais de venda.
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Estima-se que perdemos um idioma a cada duas semanas –metade de nossos 7 mil idiomas serão extintos até o final do século. Em qual lugar algumas línguas pouco faladas estão sendo preservadas? No Twitch.
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Entre 1 e 22 de junho, 80% dos downloads do Clubhouse foram feitos na Índia. Os passos do app no país vão mostrar se o Clubhouse será o próximo Facebook ou o próximo Foursquare.
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Segundo o YouTube, "a pandemia fez com que as pessoas pegassem gosto pela criação de conteúdo".
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Há algumas semanas, uma edição da MargeM linkava para um texto da newsletter de Matt Stoller que dizia: "Amazon Prime é uma mentira que distorce a economia". Agora a Atlantic publica artigo parecido: "Cancele o Amazon Prime; o serviço de assinatura é a maior –e mais assustadora– invenção da Amazon".
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"Tem que pegar o leitor pelo braço." Como editoras pequenas estão resistindo –uma delas fez de uma Kombi vermelha a sua sede.
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Tem um "renascimento musical" rolando na Argentina. Motivo: computadores baratos que o governo colocou em escolas.
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João Gilberto tinha uma relação próxima e carinhosa com os Novos Baianos (João passava dias e noites com a banda, primeiro num apartamento e depois num sítio na zona oeste do Rio). Luiz Galvão, fundador e compositor dos NB, está lançando uma biografia de João Gilberto.
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O Lit Hub lista 50 grandes romances clássicos com menos de 200 páginas. (Eu colocaria um livro que, acho, já é um clássico: Fup, de Jim Dodge, um espetáculo bem amarrado com (muito) humor e (alguma) melancolia, em apenas 98 páginas.)
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Um dos mais dinâmicos bairros de São Paulo, o Tatuapé está trocando as casinhas por prédios com frente recuada e portarias espalhafatosas. Além disso, "as decorações de bares e restaurantes, os nomes em inglês —qualquer quilo vira 'grill and salad'— e as luzinhas nas árvores dão um ar cafona de Campos do Jordão".
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A síndrome do impostor também tem um lado positivo.
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Em uma arte: uma breve história dos dinossauros.
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O rooibos, um arbusto sul-africano que faz um excelente chá, tornou-se o primeiro alimento da África a receber aprovação para registro de status de proteção internacional (como ocorre com a champagne e o queijo feta, por exemplo).
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No Reino Unido, além dos canais da BBC, o Channel 4 também é uma rede de TV estatal. Mas muitos políticos (principalmente conservadores) estão pressionando pela privatização.
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"Eu engoli um dos meus AirPods."
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Um perfil no Instagram dedicado a casas abandonadas.
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Pet Tube: a comunidade de gente que filma seus animais exóticos.