Quando as coisas iam bem – no jornalismo
Em livro de memórias, ex-editor da Vanity Fair relembra uma "era de ouro" em que jornalistas ganhavam 500 mil dólares para escrever três artigos por ano
Esta MargeM #258 está na área.
A MargeM é uma newsletter que nasceu em 2019 e se transformou em uma plataforma de conteúdo. Será um prazer te receber no nosso Instagram, com posts quentinhos, e no Spotify, em que montamos playlists com músicas que estão fazendo a nossa cabeça (e o coração).
Nesta edição, você encontra, entre outros assuntos, a Samara Cyn, que (a gente aposta) será um dos grandes nomes do pop neste 2025.
“Você nunca sabe quando está vivendo uma era de ouro. Só percebe que era uma era de ouro quando ela já acabou.”
As aspas acima são do Graydon Carter, ex-todo poderoso da Vanity Fair (ele comandou a revista por 25 anos, entre 1992 e 2017). Hoje ele é o todo poderoso da Air Mail, uma bem-sucedida newsletter/site criada em 2019.
Sabe o que é estar em uma era de ouro? É ser um jornalista que recebe 500 mil dólares para escrever apenas três artigos por ano.
Daqui a pouco a gente chega nessa parte.
O trecho em questão, em que Carter lembra com carinho da época na Vanity Fair, está em When the Going Was Good (em tradução livre: Quando as coisas iam bem), livro de memórias que ele acaba de lançar lá fora.
Com uma equipe estrelada, recheada de grandes repórteres (como Maureen Orth e Michael Lewis) e grandes fotógrafas (como Annie Leibovitz), a Vanity Fair cobria assuntos sérios e o glamour do mundo do entretenimento.
A era de ouro das revistas (e, por tabela, do jornalismo como um todo) se estendeu entre meados dos anos 1980 e o final dos anos 00. Revistas e jornais atraíam todo o tipo de anunciantes e ganhavam grana não apenas com assinaturas e vendas em bancas, como com seções tipo classificados e produtos vinculados (como CDs, atlas etc.).
A internet e as redes sociais devastaram essa paisagem.
O mundo mudou, o jornalismo foi junto. Se antes editar a Vanity Fair era o emprego dos sonhos de qualquer jornalista, hoje temos o New York Times publicando a reportagem “Quem quer comandar a Vanity Fair? Todo mundo? Alguém?”, motivada pelo anúncio de que a sucessora de Carter, Radhika Jones, vai deixar a revista.
O David Granger, um dos grandes editores de revista da história (liderou a Esquire em sua era de ouro, entre 1997 e 2016), crava que, sim, editar uma revista como a Vanity Fair ainda é um “ótimo emprego”.
Já Emma Rosenblum, ex-diretora de conteúdo do Bustle Group, argumentou:
“(A realidade do cargo seria) lidar com um orçamento cada vez menor, com a política complicada da Condé Nast, além de uma internet que não vai dar visibilidade para nenhuma das suas matérias — muito obrigado, Google — e um público jovem que não lê textos longos — muito obrigado, TikTok”.
A era de ouro, agora, é dos influencers.
Para ilustrar como era o ambiente dessa era de ouro das revistas: o jornalista e escritor Bryan Burrough relembra aqui que:
“Nunca houve um lar mais luxuoso para escritores do que a Vanity Fair durante os 25 anos de Graydon Carter como editor”.
Sobre o quanto ele ganhava, deixo ele mesmo contar:
“Nunca falei muito sobre como era escrever para a Vanity Fair, porque sempre tive receio de como isso soaria. Digo, só o dinheiro já era algo impressionante. Provavelmente estou quebrando alguma lei não escrita do mercado editorial, mas aqui está: durante 25 anos, eu tinha um contrato para produzir três artigos por ano, geralmente com dez mil palavras cada um. Para isso, meu salário chegava a US$ 498.141. Não é erro de digitação: US$ 498.141, ou mais de US$ 166 mil por artigo. Naquela época, como agora, US$ 166 mil era um ótimo adiantamento para um livro inteiro. Sim, eu sabia que era obsceno. E aceitava com um sorriso”.
Sucessos inesquecíveis compostos por artistas esquecidos.
Esse é o alvo de Baseado em Hits Reais, livro escrito pelo jornalista Braulio Lorentz que está em processo de crowdfunding aqui.
Editor de cultura do G1, o Braulio entrevistou mais de 40 ex-hitmakers, gringos e brasileiros, responsáveis por hits como Tubthumping (banda Chumbawamba), Mambo Number 5 (Lou Bega), A Thousand Miles (Vanessa Carlton), MMMBop (Hanson), Torn (Natalie Imbruglia), Closing Time (Semisonic), All That She Wants (Ace of Base), Barbie Girl (Aqua) e vários outros.
Todos os capítulos foram escritos com o apoio de entrevistas com alguém que ajudou aquele hit a se tornar um hit.
“Fiz questão de que este projeto tivesse apenas textos escritos a partir de bate-papos com as vozes e os cérebros responsáveis por estes hits”, conta Braulio em uma pré-edição da obra.
Li a pré-edição de Baseado em Hits Reais e o livro é tão divertido quanto informativo. Para ajudar a fazer com que ele ganhe vida, basta entrar na campanha.
Produtora de cinema que, por meio de filmes meio esquisitos, arrojados e diferentes do que se fazia nos grandes estúdios de Hollywood, conseguiu se transformar em uma marca que é, também, um selo de qualidade, a A24 agora estende seus tentáculos para a música.
A companhia responsável por filmes como Joias Brutas, Lady Bird, Aftersun, Midsommar, Sob a Pele e tantos outros, postou um vídeo curto no Instagram com a legenda: “A24 Music. Stay tuned”.
Ninguém sabe ainda o que vem por aí, mas especula-se que pode ser desde uma gravadora dedicada a artistas médios e inovadores até um estúdio de experiências musicais imersivas.
Depois de a Doechii dominar o rap no ano passado, este 2025 pode ser a vez da Samara Cyn.
No final de 2024, ela soltou o EP The Drive Home, que é uma pequena pérola. E já está chamando (muito) a atenção.
Recentemente, participou de show com a Lauryn Hill e ganhou elogios de Erykah Badu. Aos 26 anos, ela diz que “não há um gênero específico pelo qual eu sinto que me inclino. Me deixa aberta para experimentações”.
A Netflix está de olho no Brasil (e na Índia) para alavancar sua receita.
Em uma recente reunião estratégica, executivos da plataforma de streaming disseram que pretendem dobrar a receita anual (para US$ 80 bilhões) em 2030. Esperam faturar US$ 9 bi com anúncios (hoje, está em US$ 2,1 bi).
Para isso, vão investir em mercados com alta penetração de banda larga, como Brasil e Índia).
Ainda sobre Netflix: a companhia está testando um novo mecanismo de busca feito por IA, com tecnologia da OpenAI.
As imagens desta MargeM, como esta acima, feita pelo brasileiro Gui Christ com a praticante de Candomblé Samara Souza, que faz parte de seu projeto M’kumba, estão entre as premiadas no Sony World Photography.
Temos mais uma playlist no ar. Com Lana Del Rey, Fontaines DC, as incríveis Folk Bitch Trio, uma versão delícia de Sexy Boy (o clááássico do Air), duas da Samara Cyn e ++.
⚡️⚡️⚡️A MargeM é uma newsletter sobre cultura digital e entretenimento que, toda semana, alcança milhares de pessoas com análises, entrevistas e links relevantes. Para ações e parcerias, entre em contato pelo email margemnewsletter@gmail.com. ⚡️⚡️⚡️
→ Qual é o segredo de Dancing on my Own, o hino indie da Robyn que influenciou de Charlie XCX a Taylor Swift?
→ Ritmo que surgiu em Porto Velho (Rondônia), o noiadance ganha as redes.
→ A OpenAI quer criar uma rede social semelhante ao X (ex-Twitter).
→ 14 frases de Mark Zuckerberg no processo da Meta.
→ O MrBeast quer construir a “Disney da próxima geração”. (“O youtuber, dono da Beast Industries, fez essa comparação de forma explícita ao apresentar a proposta a potenciais investidores.”)
→ Um menino de 12 anos desenvolveu uma tecnologia de drones para detectar tornados.
→ Peças raras de Lego viraram alvos de ladrões.
Gostei bastante do texto sobre o livro do ex-editor da Vanity Fair e o projeto de livro que reúne entrevistas sobre cantores esquecidos. Muito boa curadoria!
Lembro qdo surgiu a internet e todos os jornalistas (eu era do JB) comemoraram explicando uns aos outros q "finalmente iríamos ganhar dinheiro". Doce ilusão