Sobre fãs, influencers e monetização da apatia
O disco novo da Anitta. Os fandoms e a indústria cultural. Artistas falsos no Spotify. A monetização da apatia. A influencer de viagem que esteve (esteve?) em todos os países do mundo. Saiu disco novo do SAULT! A crise da amizade masculina. E mais, nesta MargeM 181.
Na semana em que Anitta lança o disco Versions of Me e se apresenta no Coachella (o festival, que começa nesta sexta, vai ter transmissão pelo YouTube), é muito bem oportuno o especial sobre fãs produzido pela revista Gama. Uma das reportagens pergunta: Os fãs são os novos vilões?
Fãs existem desde sempre, mas as redes sociais aglutinaram essas pessoas obsessivas por um cantor, um filme, um escritor e multiplicaram o alcance e, consequentemente, o poder influenciador desses grupos. A indústria cultural percebeu isso, e de Star Wars a Anitta, todos jogam de olho nos fandoms.
Como diz um pesquisador sobre os fãs nos tempos atuais, "eles foram de um público supostamente divergente e excêntrico para a principal audiência, foco dos marqueteiros, fonte de trabalho voluntário para promover marcas e até mesmo um lugar de onde a nova geração de profissionais criativos pode emergir”.
Não há nada de errado quando os fãs se unem para colocar uma música da Anitta no topo do Spotify, mas é complicado quando eles direcionam ataques coordenados a jornalistas que fazem alguma crítica à cantora. E os artistas, muitas vezes, até estimulam esse tipo de atitude.
Mais um trecho da reportagem da Gama: "O comportamento, na verdade, está alinhado ao fanatismo de forma geral, em que há uma clara tendência a pensar que só você e seu grupo estão certos enquanto o resto do mundo está errado, independentemente do que dizem as evidências, aponta o psicólogo Fabrício Guimarães."
Outro ponto: o fã de hoje pode ser o hater de amanhã.
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“O público, quando quer, vai usar o que tiver em mãos para pressionar a indústria”, diz o jornalista e pesquisador Luís Mauro Sá Martino. "O fã é aquela pessoa que se engaja, que vai atrás, que reveste a vida daquilo que ele gosta. Ele se identifica e cria laços, tanto com a mídia como com outros fãs. (...) Um fã nunca existe sozinho, ele está sempre em grupo. Ele faz o que for necessário para participar daquilo que gosta."
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Sobre Versions of Me:
"Anitta soa sem identidade", Mauro Ferreira, G1.
"Cantora acerta em cheio quando aposta na vasta produção musical latino-americana", Felipe Maia, Folha.
"Uma estrela que sabe exatamente o que quer", Nick Levine, NME.
"Versions of Me é o Brasil diante do espelho", Pedro Alexandre Sanches, Farofafá.
A imagem acima e a que abre esta newsletter foram premiadas no Sony World Photography Awards. A que está no alto é do brasileiro Ricardo Teles e ficou com o primeiro lugar na categoria esporte. Esta acima e do húngaro Milan Radisics e ganhou em natureza.
A monetização da apatia. Bom artigo que tem como ponto de partida os vários artistas fakes que proliferam nas plataformas de streaming.
"O Spotify não inventou a escuta passiva. O streaming, no entanto, acelerou a ascensão da escuta passiva e, no processo, expôs (e capitalizou) uma verdade indigesta que os obstinados fãs de música provavelmente acharão difícil de engolir: a maioria das pessoas realmente não dá a mínima para o que eles estão ouvindo."
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Aqui outro caso de "artistas falsos no Spotify".
É a história de "Ekfat, um 'Artista Verificado' no Spotify, cuja música Polar Circle foi ouvida 3,5 milhões de vezes depois de ser colocada em algumas playlists selecionadas pelo Spotify com centenas de milhares de ouvintes".
Em bio no Spotify, Ekfat se apresenta assim: "Ekfat é o apelido de Guðmundur Gunnarsson, beatmaker islandês que faz parte da lendária equipe Smekkleysa Lo-Fi Rockers desde 2017."
O ponto: "O coletivo musical Smekkleysa Lo-Fi Rockers não existe, parece ser apenas uma fantasia que leva o nome da (real) gravadora islandesa Smekkleysa. Também não há um músico chamado Guðmundur Gunnarsson que se chama Ekfat. O verdadeiro Guðmundur Gunnarsson é eletricista, líder sindical e pai da cantora Björk.”
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Ainda meio que sobre escuta passiva e tal, mas num tom mais leve e agradável: “A música ambiente não é um pano de fundo. É um convite para suspender o tempo."
Saiu Air, disco novo da tão misteriosa quanTo ótima banda SAULT.
Nunca tinha ouvido falar no Goose Group até ler esta espetacular reportagem.
Era um fórum online que chegou a ter mais de 700 mil integrantes que se dedicavam a divulgar fofocas de celebridades do país. Uma espécie de TMZ chinês hospedado na plataforma Douban, que é como "uma mistura de IMDb, Goodreads, Spotify, Pinterest, Medium, Twitter e Reddit" (só isso nos dá uma ideia de como a arquitetura digital chinesa é diferente da que conhecemos por aqui).
Mas o governo chinês fechou (talvez pra sempre) o Goose Group.
Que o mercado de influenciadores é uma terra de ninguém em que ética é uma palavra ainda a ser inventada a gente já sabia. Mais um exemplo:
Cassie De Pecol abocanhou centenas de milhares de seguidores nas redes atuando como influenciadora de viagem. Ela celebrou ter sido a primeira mulher a visitar todos os países do planeta e, por isso, deu entrevistas na TV, participou de um TedTalk e costurou contratos com diversas marcas. Mas era mentira.
"A verdade é que De Pecol não é a primeira mulher a viajar para todos os países. Ela também não é a primeira mulher a viajar sozinha para todos os países. Ela é a primeira, no entanto, a afirmar tal coisa nas redes sociais."
Um dado: a influência de viagens “é um dos setores mais lucrativos do marketing de influenciadores, um mercado que deve ultrapassar US$ 16,4 bilhões somente neste ano”.
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A ascensão dos influenciadores da indústria farmacêutica.
"Se você está no Instagram ou no TikTok, provavelmente conhece os influenciadores que vendem todo tipo de droga que existe. Agora, pesquisadores estão examinando como as empresas farmacêuticas fazem parcerias com pacientes que estão dispostos a compartilhar suas experiências com seus seguidores para dar mais credibilidade aos medicamentos."
Que história. A única rede social mutltinacional liberada na Rússia atualmente é o TikTok. Aí dois noruegueses decidiram criar dois bots: um russo e um ucraniano, para ver como cada um navegava pela rede. O resultado não é nada óbvio (ou talvez até seja). O caso está todo aqui.
"Durante anos, terapeutas e pesquisadores estudam a 'crise de amizade' masculina, uma tendência que se percebe mais agudamente com homens cisgêneros e heterossexuais. Esse grupo tende a ter muito poucos amigos; perde muitos à medida que envelhecem e formam famílias; tem problemas para fazer novos; e muitas vezes confiam em 'casais de amigos' para manter alguma noção de vida social fora do trabalho."
E qual é a solução para essa "crise"? Mensagens de texto.
Que achado: em 1986, uns caras de uma TV holandesa foram a Nova York com a ideia de filmar dois documentários: um sobre Iggy Pop e outro sobre a nascente cena de hip-hop da cidade. O de Iggy Pop está aqui, com imagens de show e entrevista ótima com o próprio. E aqui o de hip hop, que é impressionante e tem até o Grandmaster Flash dando rolê pelo Bronx vestindo um colete roxo.
Outro ACHADO. Se você curte música eletrônica, este Old Skool Mixes vai te deixar ocupado por um bom tempo. Alguém subiu num Google Drive sets de um monte de DJ das antigas: do Derrick May ao Andrew Weatherall, do Grooverider ao Carl Cox. Tem até uma pasta Hacienda Classics.
Phoebe Bridgers - Sidelines
Saiu esta faixa nova da PB, que estará na trilha da série Conversation with Friends, baseada no livro homônimo da Sally Rooney.
Primeiro excelente site desta semana: Recommend Me a Book. Leia a primeira página de um livro. Se gostou, clique pra ver o nome do livro e o autor.
O uso das redes sociais, nos EUA de acordo com a idade.
Criaram um jogo de tabuleiro chamado Secret Hitler. A descrição: "Secret Hitler é um jogo de intriga política e traição ambientado na Alemanha dos anos 1930. Os jogadores são secretamente divididos em duas equipes – liberais e fascistas. Os fascistas se unem para semear a desconfiança e instalar seu líder. Os liberais devem encontrar e parar o Hitler Secreto antes que seja tarde demais."
O cara que pagou US$ 2,9 milhões pelo NFT de um tweet do Jack Dorsey colocou o mesmo NFT novamente à venda, em um leilão. Ele esperava arrecadar uns US$ 48 milhões. A maior oferta que recebeu foi de US$ 6.800.
"Como o Jack Dorsey deixou o Twitter para se tornar o líder espiritual do Bitcoin."
Preta e trans, Valentina Luz é a "DJ da vez" em São Paulo. "As festas é que precisam de mim."
Dois críticos conversam sobre a série Diários de Andy Warhol.
Não contentes em ouvir incessantemente podcasts sobre crimes, muita gente agora passou a colocar dinheiro em iniciativas que tentam solucionar crimes antigos. Uma mulher chegou a doar mais de US$ 100 mil a uma empresa que trabalha com material genético e que fez crowdfunding pra resolver um homicídio.
Pergunte a qualquer esportista de alto rendimento: se não estiver confiante, o resultado não vem. Confiança conta muito, até no trabalho: "Um chef, um físico, uma jornalista, uma empreendedora e outros falam sobre a importância de ser confiante no trabalho, e como desenvolveram essa aptidão em suas carreiras."
Uma extensão do Chrome que detecta se uma foto de perfil no LinkedIn é verdadeira ou falsa.
Sabe o que está ficando cool? Fazer planilhas.
Eat my art: Faça um desenho e o site transforma numa animação stop-motion.
Segundo excelente site desta semana: Persepolis. Ideia do museu Getty: um passeio imersivo pela histórica cidade no Irã.