Sobre tábuas de corte, séries e músicas
Um objeto de desejo na cozinha + coisas legais que estamos vendo e ouvindo.
Hoje, nesta MargeM #256, o assunto é tábua de corte. Porque tábua de corte também é cultura.
Não?
Picar cebola não é uma arte? Então.
O ponto é que já faz um tempo (tipo desde o finalzinho do ano passado) que venho notando que as tábuas de corte, parece, deixaram de ser aqueles itens ordinários, chinfrins, para virarem valiosos objetos de desejo.
Essa onda teve início, pelo menos aqui para mim, em dezembro, quando o Notorious Foodie (um dos perfis mais legais de gastronomia no Instagram) começou a vender uma tábua toda estilosa, bonitona, parruda. É feita de madeira, com desenhos retangulares – lembra o chão de taco de uma casa em Santa Cecília.
No site, a tábua é descrita assim:
“Esta tábua de corte de madeira maciça é feita com acácia, sapele, bordo e carvalho de alta qualidade, oferecendo durabilidade e beleza incomparáveis. Seu peso robusto e superfície lisa a tornam um item essencial na cozinha, projetado para durar e elevar a sua experiência culinária”.
Em pouco tempo, o cara viu que o negócio tinha dado certo. A tábua, hoje, está esgotada (mas já há uma lista de espera).
Aí alguns dias atrás, lendo a newsletter One Thing, escrita pelo Kyle Chayka (repórter de cultura digital da New Yorker), vi o post “Minha jornada com tábuas de corte sofisticadas”.
O texto é bem legal. Ele conta que a tábua foi o primeiro produto que ele comprou atraído por algo que viu no TikTok. No caso, vídeos de um chef de Nova York que, depois do trampo no restaurante, cozinhava coisas boas quando chegava em casa. Ele conta:
“Notei que Musashi estava usando uma tábua de corte densa, preta e intrigantemente lisa. Eu não fui o único – os comentários estavam cheios de pessoas perguntando onde ele a conseguiu.”
A tábua é feita pela centenária marca japonesa Kama-Asa.
Chayka continua:
“Nunca imaginei que apreciaria tanto uma tábua de corte. (...) A cor preta é extremamente estética. Ingredientes, como uma recente mise-en-place de cebolinha, raspas de limão, salsa e bottarga para uma massa, se destacam como pinceladas de tinta em uma tela”.
Bem, não sei se dá para comparar com uma pintura a posição de alguns alimentos coloridos em cima de uma tábua de corte, mas o fato é que esse objeto já não é mais um mero coadjuvante na cozinha: atrai olhares tanto quanto uma geladeira, um fogão ou um jogo de panelas classudos.
Feitas com materiais, formatos e tamanhos diversos, as tábuas de corte estão sendo desejadas, discutidas e ranqueadas. A Rita Lobo, inclusive, fez um post recente a respeito.
Estes dois sites gringos testaram alguns modelos. E, no Eater, dentro da matéria “a melhor coisa que nossa equipe comprou neste mês”, está uma “tábua de corte que parece uma festa”.
Três coisas legais para ouvir:
Te Quero Perto - primeira faixa produzida pelo Millos Kaiser, que já foi uma das metades do núcleo Selvagem e hoje visita o mundo com sets divertidos que unem disco, house, coisas novas, coisas esquecidas, músicas em versões que ele edita especialmente para as pistas. Te Quero Perto é um resumo do que ele construiu até aqui: dançante, leve, perfeita para ouvir tanto num fim de tarde na praia como numa festa urbana. No link acima, dá pra ouvir a original e cinco remixes.
USD, É USD - Dupla das mais quentes da nova música dançante brasileira, o rapper Kyan e o DJ/produtor MU540 engatam uma nova faixa que será parte do disco “Dois Quebrada Inteligente”. Este primeiro single é a cara da dupla: um rap-funk com um beat grave e pesado e uma letra que descreve sem eufemismos o cotidiano duro das ruas (“todos carregando algo na cintura / Dizendo somente é pra proteção”.
Twende - EP com quatro faixas deste que é um dos mais empolgantes DJs que tenho ouvido nos últimos meses. Travella é natural de Dar Es Salaam, a capital da Tanzânia, e sua música parte do singeli, popular gênero de sua terra natal, e se envolve em ritmos frenéticos e originais, sempre dançantes. Em seu Instagram, dá para ver como a pista deste jovem e talentosíssimo DJ é bem-humorada e festiva. E este Boiler Room gravado no Primavera Sound há dois anos ainda é uma joia.
Três coisas legais para ver:
Desconhecidos - Temos uma surpreendente (e muito bem-vinda) estreia nos cinemas. Vi este aqui no ano passado, no Stremio, depois de ler uma crítica bastante elogiosa a essa produção dirigida por J.T. Mollner e com fotografia em 35 mm do Giovanni Ribisi.
A história, de uma mulher que foge de um serial killer, é contada em capítulos, cada um de uma situação diferente, de forma não linear. Tenso e cheio de surpresas.O Estúdio - Uma das melhores séries da Apple neste ano (e olha que a plataforma soltou Ruptura e Silo). É quase um Woody Allen (de Dirigindo no Escuro) x Robert Altman (O Jogador).
Seth Rogen, criador da série, interpreta um executivo de um grande estúdio de cinema que de um lado quer agradar o chefe que só pensa em resultado financeiro e, de outro, não consegue esconder a bajulação em cima de estrelas e diretores. O segundo episódio é excelente.The White Lotus - Tenho lido várias críticas a esta terceira temporada. “Nada acontece!”; “A história não vai a lugar algum!”. Discordo. É, até o sétimo e penúltimo episódio (o encerramento será no domingo, dia 6), a mais bem engenhosa da franquia.
Entre os vários núcleos que são desenvolvidos na história, o da família com o pai à beira de um colapso por estar sendo investigado e os dois irmãos que se relacionam é um caos delicioso; o das três amigas brinca com vaidade e inveja; o do maluco que quer vingar a morte do pai rendeu um dos melhores momentos do ano (o monólogo do Sam Rockwell); e trazer o personagem Greg de volta foi uma sacada brilhante.
Quando a gente pensa em influenciadores ganhando grana, normalmente vêm à cabeça redes como Instagram, Tik Tok e YouTube, certo?
Vamos adicionar mais uma a essa lista: LinkedIn.
Cada vez mais marcas estão indo atrás de influencers do LinkedIn para protagonizarem ações e campanhas.
A matéria linkada acima é do Wall Street Journal, que tem um paywall pesado, mas basicamente afirma que os valores pagos estão entre 500 e 3 mil dólares por postagem e que uma das razões pelas quais o LinkedIn está sendo atraente é porque as postagens ali “tendem a ter uma vida útil mais longa (em relação às outras redes), por causa da maneira com que posts comentados ou curtidos reaparecem nos feeds”.
As imagens desta edição da MargeM são de uma expo do paraense Luiz Braga em comemoração aos seus 50 anos de carreira. A mostra terá cerca de 250 fotografias (sendo 190 inéditas), clicadas dos anos 1970 até 2024, e será aberta no próximo dia 12 no IMS de São Paulo.
Iggy Pop em uma versão incrível de The Passenger. Franz Ferdinand. The Weeknd. Sharon Van Etten. O mineiro FBC. Little Simz.
Toda essa gente e mais outras estão nesta nova playlist da MargeM.
Quinze músicas para você ter 60 minutos deliciosos.
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Newsletter ótima como sempre. Acho faltou apenas o local da exposição do Luiz Braga, ou não?