Succession - O fim e tudo o que valeu a pena
O episódio final, personagens mais odiáveis, a espetacular música-tema, Kendall, Shiv, Roman - e outros 27 coadjuvantes que ficaram na cabeça
*****Esta newsletter contém spoilers*****
Quem vai comandar um conglomerado de mídia que é controlado pelo patriarca de uma família bilionária?
Esta é a premissa que alimenta Succession e a pergunta é respondida nos minutos finais do décimo e último episódio da quarta temporada.
A série levou 39 episódios de cerca de uma hora de duração cada um para desenrolar uma trama que não se sustentava em ações, mas na dinâmica das relações que envolviam Logan Roy, o patriarca, e três de seus quatro filhos.
Mas como uma série que retrata uma família disfuncional de bilionários que beiram a sociopatia consegue atrair a atenção e movimentar discussões por tanto tempo?
Bem, por um lado, quem não gosta de assistir a super-ricos fazendo besteira e brigando entre si? Na última década, virou um gênero em si (lá fora, apelidou-se de "eat the rich"): O Menu (dirigido por Mark Mylod, o mesmo do último episódio de Succession), Triângulo da Tristeza, White Lotus, Glass Onion: Um Mistério Knives Out, Parasita e vários outros.
Depois, tem o fator comédia. Succession é um drama? Até é, mas é também uma comédia movida pelo ridículo dos personagens e pelo diálogo, afiadíssimo, dos melhores já vistos em uma série de TV.
Algumas coisas sobre Succession:
- Esta analista pontua que a quarta temporada de Succession "por vezes parecia girar no mesmo lugar", mas que a série "ainda era envolvente, e os diálogos, como sempre, um deleite ágil e niilista".
- Então temos uma série em que a trama não caminha necessariamente em torno de ações e é fusões, aquisições e interesses corporativos. A comediante Hannah Gadsby disse que não entende metade do que é falado em Succession, mas não consegue deixar de assistir.
- O crítico de teatro do Washington Post resume: "Sentir repulsa pela terrível personalidade dos personagens de Succession é uma coisa. Mas ela será lembrada como uma das séries de TV com melhor atuação e roteiro de todos os tempos".
- Para este escritor, Succession "foi simultaneamente trágica e cômica, divertida e horrível" e "embaralhou ficção e realidade de uma forma saborosa e divertida. Mas o motivo pelo qual ressoou tão profundamente foi que o embaralhamento de ficção e realidade no mundo em que os personagens habitam era um comentário devastador sobre o embaralhamento de ficção e realidade no mundo em que nós, telespectadores, habitamos".
- O personagem Kendall Roy é um caso à parte. Fui ver a primeira cena dele, no primeiro episódio da primeira temporada. A música An Open Letter to NYC, dos Beastie Boys, estoura no som do carro. Os socos no banco da frente. O motorista ouvindo Kendall cantar (sem os beats ao fundo). Na calçada, acender um cigarro e dar apenas um trago. A entrada no suntuoso prédio. Ali já estava escancarado o gestual caricato, a megalomania e a desconexão com a realidade à volta que iria permear todo o personagem durante a série. É ouro puro.
- "Ficou óbvio desde o início que Kendall é uma figura frágil. Ele está em constante combate edipiano com um pai que pairava sobre ele, enquanto também lutava (às vezes literalmente) com seus irmãos pelo controle do império Roy. No final da série, Kendall se mostrou disposto a fazer absolutamente qualquer coisa para governar Waystar Royco: encobrir um assassinato, trair familiares, facilitar o caminho de um candidato presidencial fascista ao poder", afirma a Vanity Fair nesta entrevista com Jeremy Strong.
- Na entrevista, Strong falou sobre o último episódio e o destino de Kendall : "Foi difícil para mim assistir (ao último episódio). É um desastre em câmera lenta para ele e é insuportável para mim ver tudo se desenrolar dessa maneira. Eu me vi desejando que as coisas acontecessem de maneira diferente".
- Brian Cox, o Logan Roy, disse acha que a morte de seu personagem (no terceiro ep desta última temporada) pode ter sido prematura. "No final das contas, fiquei bem com isso, mas me senti um pouco rejeitado. Sabe, senti um pouco, ah, todo o trabalho que eu fiz e, no final das contas, acabou sendo apenas um corpo no carpete de um avião."
- Roman foi o filho que mais sentiu a morte do pai, não aguentou vê-lo dentro de um caixão. Por estar com o rosto levemente machucado, tremeu só de pensar na ideia de ser visto por uma mulher com quem teve um pequeno caso (Gerry). No final, vai para um bar e bebe um dry martini (ainda não era nem hora do almoço) e abre um pequeno sorriso. Era o que sempre quis?
- E temos Shiv Roy. Uma figura shakespeariana da geração digital. "Shiv é uma salvadora ou uma Lady MacBeth?", explora este artigo. "A resposta é: ambos e nenhum dos dois. O fato de Shiv ser uma mulher não significa que ela precise ser um ícone feminista ou uma traidora de seu gênero."
- E com Tom como CEO, Shiv tirou Kendall do jogo e permaneceu próxima ao centro do poder.
- "Talvez ela (Shiv) não tenha escolhido Tom em vez de seus irmãos. Talvez ela simplesmente não aguente seu irmão mais velho. Não é uma escolha binária. Ela apenas olha para Kendall e pensa: 'Não posso'. Acho que ela não tomou uma decisão racional", argumenta Matthew Macfayden, que interpreta Tom Wambsgans, em entrevista ao lado de Nicholas Braun (o primo Greg).
- Criador da série, Jesse Armstrong especula que "Shiv ainda está no jogo, em um lugar emocionalmente gélido e aterrorizante. Ela está nesse tipo de não-vitória, não-derrota. Quero dizer, haverá algum movimento ali. Ainda há muito desse jogo para se desenrolar, mas é assim que deixamos".
- A questão central da série não estava na sucessão da cadeira de CEO, mas de quem herdaria o trono. Praticamente um regime monárquico. No último ep, Kendall abre o jogo: "Eu sou o menino mais velho". Em seguida, Roman joga no ar que os filhos de Kendall seriam de outro homem – ou seja, não seriam herdeiros naturais.
- Se Succession está entre as três melhores séries já feitas, é uma discussão interminável. Mas a trilha da série não se compara a nada já produzido. Composta por Nicholas Britell, a música-tema justapõe linhas de violino e piano com um beat de hip hop. Absurdo.
- Meio isso: "Ao longo das quatro temporadas, ele (Britell) escreveu algo incomum na televisão: uma trilha sonora expansiva, porém conceitualmente focada, que se desenvolveu, episódio após episódio, em uma obra clássica de tema-com-variações que seria tão adequada para a sala de concertos quanto é para a tela pequena."
- A trilha especial da temporada 4 está aqui, com uma espetacular versão orquestrada da música-tema.
- Não tinha notado como vários personagens falam apenas "uh-huh" em diversas cenas. Mas essas são "as duas sílabas mais significativas em todo o programa. Pode parecer um pouco bobo, mas 'uh-huh' funciona como uma espécie de reflexo sorrateiro da dinâmica de poder em Succession"
- Parte importantíssima para o desenvolvimento dos personagens, a figurinista da série conta que sempre começava a pensar o que eles iriam vestir "a partir dos sapatos". "Os sapatos são a peça de roupa mais importante no corpo de uma pessoa. Eles contam tudo. É como se você se apaixonasse por um cara, então visse os sapatos e percebesse 'Ah, isso não vai funcionar'."
- Mas Succession foi o que foi não apenas pelos Roys, mas porque reuniu figuras secundárias quase tão carismáticos quanto, como lembra esta ode a 27 desses personagens.
- Quem era a pior pessoa de Succession? Esta lista coloca Logan Roy em segundo lugar; em primeiro, alguém que surpreende.
muito boa seleção sobre succession!! já to com saudades da série, então passear pelos links relembrou o quentinho no coração contraditório de amar assistir os dramas dos personagens mais detestáveis hahaha. valeu!
Essa lista de links é absolutamente maravilhosa! E a música tema de succession é unanimidade, um personagem que protagoniza em vários momentos. Feliz de ter acompanhado essa série ♥️