Uma série sobre o pior pesadelo para uma mãe e um pai
O que fazer quando uma criança tem uma doença incurável e o tratamento a faz sofrer; esta é a premissa da excelente Best Interests
Esta é o número 268 da MargeM, uma newsletter que nasceu em 2019 e se transformou em plataforma de conteúdo. Temos, por exemplo, mais uma playlist delícia, com Disclosure, Don L, Yma, Justin Bieber e maaaaaais.
Uma criança que nasceu com distrofia muscular tem o estado de saúde cada vez mais deteriorado, a ponto de a equipe médica recomendar à mãe e ao pai deixarem a menina apenas em cuidados paliativos, para que não sofra mais com o tratamento, bastante intrusivo.
O que podem fazer uma mãe e um pai num momento como esse? Deixar a filha morrer ou lutar para mantê-la viva, mesmo sabendo que ela está sofrendo?
Esta é a premissa de Best Interests, dilacerante minissérie exibida pela BBC em 2023 e que, infelizmente, ainda não chegou a nenhum streaming brasileiro (eu vi pelo Stremio).
A história fictícia, mas levemente inspirada em casos reais, é toda ela muito bem contada em apenas quatro episódios, com os pontos de vista da mãe (interpretada por Sharon Horgan), do pai (Michael Sheen) e da irmã (Alison Oliver).
Além de abordar muitas das complexidades que aparecem em uma situação como essa, a série acerta ao não colocar juízo de valor, ao não dividir a trama entre heróis e vilões – e entre os médicos, os familiares e setores da sociedade há diversas opiniões e ações controversas. E em tratar tudo com boa dose de humor.
Ao assistir Best Interests, na hora me veio à cabeça outra minissérie britânica, Adolescência, por também tocar em um tema sensível e difícil, mas que sabe desenrolar a história sem cair em clichês ou armadilhas moralistas.
O que já falaram sobre Best Interests:
New York Times: “Best Interests traz um olhar comovente sobre dois pais em uma situação impossível”;
Paste: “Best Interests é uma representação comovente e excepcionalmente bem interpretada do pior pesadelo de todo pai e mãe”;
Time: “Histórias humanas cotidianas como esta são cada vez mais raras na TV”.
Chrissie Hynde passou pelo Brasil em maio para show no C6 Fest (não consegui ver) e há algum tempo lançou uma autobiografia (já li e é boa). Agora ela aparece com um novo disco, chamado Duets Special, em que chama gente como Brandon Flowers (The Killers), Mark Lanegan, k.d. lang e Dave Gahan (Depeche Mode) para reinterpretar canções como It’s Only Love (Beatles), I’m Not In Love (da banda 10cc) e First of the Gang to Die (Morrissey), entre outras.
A versão que ela e Rufus Wainwright fizeram para Always on My Mind é espetacular.
Estamos ouvindo (além da playlist que acabamos de montar):
Aquecimento VHOOR e IDONTCARE
Set feito para a rádio online NTS com o produtor mineiro de funk e uma das metades do Deekapz.Mark Ernestus - RA. 1000
Ernestus é uma lenda viva do techno: foi um dos donos da loja Hard Wax, em Berlim, e uma das metades da ótima dupla Basic Channel. Aqui, ele monta um set só com faixas de amapiano, gênero criado na África do Sul no início dos anos 2010.Omoloko - Circoloco Radio 410
Classudo set de house que o talentoso DJ mineiro fez para o clube de Ibiza.
O lado financeiro de escrever um livro.
O texto (em inglês) em primeira pessoa é de uma autora que publicou uma não-ficção no Reino Unido, mas não é muito diferente do cenário brasileiro.
Trechos:
“Nada que publiquei em qualquer rede social fez diferença nas vendas. Nada que escrevi nesta newsletter provocou um aumento perceptível nas pré-vendas. As críticas? Bzzt. Nem um lampejo.”
“A maior parte da minha turnê de divulgação foi, essencialmente, trabalho improdutivo. Desde abril gravei mais de 32 horas de podcasts e entrevistas de rádio, escrevi um ensaio exclusivo baseado no livro (e supervisionei dois trechos publicados), e participei de 12 eventos presenciais, com mais meia dúzia ainda por vir. Todos os podcasts foram não pagos, e os eventos ao vivo tendem a pagar 150 libras e exigem várias horas de viagem.”
“A parte mais brutal do ensaio da Caroline (esse ensaio é citado anteriormente no texto dela) é a afirmação de que as redes sociais essencialmente nos enganaram, nos fizeram a criar conteúdo de graça para elas com a promessa de exposição: ‘Não duvido que os poucos que conseguem fazer essa equação funcionar sejam bem pagos depois de terem se tornado bem-sucedidos. Todo o resto, porém, está apenas publicando de graça para que haja conteúdo suficiente no app para manter os usuários ali, rolando para sempre. Rolagem infinita significa inventário de anúncios infinito’.”
A mídia tradicional corre atrás do novo jeito de comunicação que é feito por creators e influencers nas redes e plataformas.
Enquanto a Globo prepara o lançamento de um canal de esportes exclusivo no YouTube (e está contratando muita gente da concorrência), o Washington Post criou um núcleo especial de creators: “Esta nova unidade terá como foco criar conteúdo e franquias impulsionados por personalidade, em áreas temáticas de interesse para nossos públicos-alvo”.
Vamos esperar para ver como o WaPo vai monetizar o negócio, como será a divisão de lucros e com quem ficarão os direitos autorais dos conteúdos.
As fotos desta MargeM são de Rosa Gauditano. Ela já documentou tribos indígenas (como os yanomami e xavantes) e greves no ABC paulista, mas ficou muito conhecida por suas séries dos anos 1970 com lésbicas que frequentavam bares e boates paulistanos, como o Ferro's e o Dinossauros.
Rosa morreu no dia 7 deste mês, aos 70 anos. Ela fala um pouco sobre a carreira nesta entrevista para a Zum.
→ Um ranking com todos os 21 filmes de Daniel Day-Lewis.
→ Ana Lima Cecilio deixa curadoria literária da Flip e vai para o Grupo Record.
→ O YouTube está redesenhando as páginas de alguns perfis para que se pareçam com a maneira pela qual as séries são mostradas pela Netflix.
→ Brasil está entre os 3 países que mais usam o ChatGPT.
→ “Este filme não pode ser usado para treinar IA” é o aviso que a Universal está colocando nos créditos de produções como Jurassic World: Recomeço e Como Treinar o Seu Dragão.
→ O escândalo da água mineral Perrier (essa história diz muito sobre o poder do storytelling e o impacto das mudanças climáticas).
→ Até a embaixada do Reino Unido em Roma foi acionada depois que um site britânico publicou uma receita de cacio e pepe que leva manteiga.
→ França quer incentivar população a dormir mais: “Sono não é luxo”.
→ Parecer cansada é a nova trend de beleza do TikTok.
→ Uma escola para os filhos, uma estátua de mais de dois metros de altura da esposa e uma “bat caverna” de cerca de 650 metros quadrados: tudo isso está no complexo residencial de Mark Zuckerberg.
eu acompanho várias newsletters mas a MargeM tem a melhor curadoria de conteúdo. todas as edições são boas e os links são sempre interessantíssimos