"Você deve ser vulnerável para ser sensível à realidade"
A desigualdade entre os influenciadores é uma realidade. A “investidora-guru” dos criadores digitais. A espetacular nova música da Juçara Marçal. O inclassificável Nelson D. Uma dica esperta da Gaía Passarelli. Aqui, na MargeM 165.
Como funciona o universo de influenciadores? Bem, é um mundo que, claro, reflete o que ocorre na sociedade como um todo.
"A desigualdade de riqueza também existe entre os influenciadores; lacunas no conhecimento, especialmente entre criadores de origens marginalizadas, podem igualar as lacunas nos salários", escreve Beatrice Forman na Vox.
"Criadores brancos estão mais bem preparados para navegar em um setor que mantém em segredo coisas como funcionamento de algoritmos de mídia social, pagamentos e acordos de patrocínio de influenciadores."
Continua: "Tentar trabalhar em tempo integral em redes sociais causa ansiedade até mesmo para os mais míticos criadores. Mas, para os criadores negros de conteúdo em busca da liberdade financeira em uma indústria que recompensa o privilégio, essa ansiedade pode se transformar em algo mais profundo: um medo auto-limitante".
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Saiu um belo perfil da Li Jin, que tem 31 anos e é "a investidora-guru dos criadores digitais".
"Se existe algo como uma It Girl do capital de risco, Jin é essa pessoa. Ela se encontra na interseção entre investimentos em startups e o ecossistema de rápido crescimento de criadores online. E apesar de ter formado a própria empresa e captado relativamente baixos US$ 13 milhões para um fundo, ela foi um dos primeiros investidores no Vale do Silício a levar os influenciadores a sério e escreveu sobre criadores por anos."
Por um bom tempo, um certo "estilo de vida millennial" foi sustentado por subsídios que eram encampados pelas empresas da gig economy para ganhar usuários para os seus serviços. Isso, parece, está chegando ao fim. (Um exemplo: a Uber vem, constantemente, aumentando o preço das tarifas.)
Consequência: em Nova York, está havendo uma procura enorme por táxis. Entre abril e julho, aumentou 152% o número de viagens de táxis na cidade.
Juçara Marçal - Crash
"Meu punho colide/ Com peso de um tanque/ Tem água na minha casa/ Mas me banho no sangue".
A voz de Juçara dispara com força e estilo a letra dura e áspera do rapper Rodrigo Ogi. Não sei se há uma música que resuma tão bem o Brasil 2021 como esta.
A Gaía Passarelli, que escreve a excelente newsletter Paulicéia, me convidou pra dar uma dica de coisa legal pra fazer em São Paulo. Aproveitei e chamei ela pra escrever na MargeM. Aqui:
Tem quem jure que a Vila Buarque, aquele trecho entre a República e a Santa Cecília, será o novo pedaço bacana-não-gentrificado de São Paulo no pós-pandemia. Tem quem jure que na verdade já é. De fato, se antes de 2020 o pedaço já contava com bons restaurantes e bares se misturando ao universo de botecos e boates mais tradicionais da área, de um ano pra cá viu mais endereços interessantes como novos cafés, lojas e livrarias. Uma dessas é a Gato Sem Rabo, aberta em março em plena Amaral Gurgel mirando o Elevado. A Gato Sem Rabo, que a proprietária Johanna Stein batizou inspirada pelo ensaio "Um teto todo seu" da Virginia Woolf, tem um acervo de cerca de 1500 livros, todos escritos por mulheres. Nos moldes de "livraria à moda antiga", com livros nas vitrines e livreiras à postos para conversar e dar indicações, o espaço é muito gostoso para entrar e perder um olhando os títulos das prateleiras e sentando no sofá para ler um pouco. Fica debaixo do ótimo Cora, mais um restaurante bom e novo da área.
“A sonoridade do álbum traz estilos musicais que nem eu sei a nomenclatura. É uma nova música dessa Amazônia afro-ribeirinha que está pensando daqui 50 anos. É pensar o futuro musical e mostrar para as pessoas tudo o que é fora do estereótipo. Porque quando a gente pensa em Amazônia, a gente pensa no pulmão do mundo, essa coisa da floresta, da região Norte, acha que a maioria das pessoas é indígena.”
Gaby Amarantos sobre Purekê, disco que lançou nesta semana.
"Give that address to your driver/ make it your destination/ ’Stead of just a post out of desperation."
Este verso, que tem Kanye West como alvo, é parte de 7am on Bridle Path, faixa que está no mais recente disco do Drake –disco que saiu apenas dias depois de Donda, do Kanye West.
O NYT publicou reportagem a respeito da rixa entre os dois rappers. "As provocações, em músicas e nas redes sociais, seguem um padrão de ofensas, feitas direta e indiretamente, entre os dois que começaram anos atrás, e a relação aparentemente ficou irrevogavelmente deteriorada com a briga musical de Drake e Pusha-T, apadrinhado por Kanye, em 2018".
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Sobre a capa do disco do Drake (feita pelo Damien Hirst).
"Você deve ser vulnerável para ser sensível à realidade. E, para mim, ser vulnerável é apenas outra maneira de dizer que não temos mais nada a perder. Eu não tenho nada a perder além da escuridão."
Bob Dylan.
Uma raposa procura carcaças de salmão em uma pequena ilha no Alasca. A foto de Jonny Armstrong está entre as melhores de um concurso mundial de fotografia de vida selvagem.
"Escritora reinventou o romance de amor oitocentista na era da hiperconectividade, é best-seller da geração millennial e disseca com precisão as relações sentimentais e eróticas em um mundo sem modelos e que se move a toda velocidade."
É assim que o El País (em português) descreve a Sally Rooney, que lança Belo Mundo, Onde Você Está, seu terceiro livro.
Em entrevista, a escritora irlandesa diz:
"Os protagonistas do meu último livro se perguntam o que temos para substituir os velhos costumes, porque estes estão desaparecendo sem que tenhamos encontrado substitutos. Não quero cair na nostalgia. Não defendo os modos de vida que dominaram o século 20, mas meus personagens se perguntam como viver sem modelos. Não sabemos o que nos sustenta. No mundo que deixamos para trás, havia um senso de comunidade. E também muita repressão, é claro, mas agora estamos sem modelos. E isso ocorre também nos relacionamentos. Costumava haver normas não escritas sobre como fazê-los prosperar, e agora isso está desmoronando".
Esta sendo publicado no Brasil Pequenas Resistências, livro em que a canadense Rivka Galchen "cria mosaico literário ao buscar por bebês na arte após ser mãe”, diz a Folha. Ela escreve coisas como “Na literatura há mais cachorros do que bebês, e também mais abortos.”
Segundo a Folha, o livro "reúne pequenos capítulos, às vezes compostos só de uma ou duas frases, com registros de pensamentos sobre arte e literatura, considerações sobre a maternidade, histórias engraçadas de perrengues burocráticos e colocações espirituosas sobre os descolados de Nova York".
"A onipresença do excesso de trabalho é um sério obstáculo para muitas das ideias a respeito de como poderemos reformular a nossa vida profissional nos próximos meses."
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E se as pessoas não quiserem mais construir uma carreira?
O Charlie Warzel escreve que "a ideia não se limita a uma faixa etária específica, mas uma melhor articulação dela vem dos jovens da geração Y e da geração Z em idade ativa. Muitos deles estão fartos de seus empregos e desistindo em massa".
Coisas legais por aí
Very Well - Offshore Projects. Como ocorreu com o pós-punk do início dos anos 1980, que foi reinventado, atualizado, dissecado e desconstruído por bandas recentes (Black Midi, Dry Cleaning, Squid) e nem tão recentes (Franz Ferdinand, LCD Soundsystem etc.), o shoegaze do final dos 1980/início dos 1990 está virando inspiração para uma série de boas bandas novas. Uma das melhores é esta australiana, Offshore Projects, que acaba de lançar um EP com cinco músicas que são alegria pura –especialmente a faixa 90.
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Anga - Nelson D. Das coisas mais inclassificáveis e originais que ouço dentro do pop brasileiro recente. Cantor e produtor de origem indígena, nascido no Amazonas e criado na Itália, Nelson D faz músicas que passeiam entre o electro, ritmos africanos, trip hop e beats experimentais.
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Secos & Molhados. Podcast sobre jornalismo e assuntos relacionados. Nesta edição, o entrevistado é o jornalista Flavio V.M. Costa., que fala sobre cultura, diversidade e mais.
Yebba - Boomerang
Música pop redonda, produzida pelo Mark Ronson.
Rádio que só toca Roberto Carlos agoniza para sobreviver.
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Ex-editora da Vogue britânica, Jo Ellison escreve que Anna Wintour "atingiu um status de semideusa como uma juíza de estilo. Mas seu poder é exercido em um palco que está ficando cada vez menor. E apesar de sua influência poderosa, não consigo imaginar muitas pessoas com menos de 40 anos que ainda procuram o ponto de vista dela. Os maiores influenciadores hoje estão no Instagram ou no TikTok, plataformas nas quais a Vogue ainda tem comparativamente poucos seguidores".
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"A nova zona de combate da beleza: velocidade e conveniência", diz reportagem da Vogue Business a respeito da tendência de associação de marcas de produtos de beleza com empresas como Uber e Instacart.
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Um ótimo texto sobre um hábito dos ricos norte-americanos: o de "esconder" a geladeira na cozinha.
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Economia da maconha: "Colômbia ganha força no mercado de cannabis medicinal e põe Canadá em alerta; país tem potencial para se tornar o maior exportador mundial da planta e já atrai investimentos de mais de 2,6 bilhões de reais".
E a Amazon está "incentivando fumantes de maconha a buscar empregos como entregadores".
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Um app quer ser o "TikTok para games".
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E o Kwai, concorrente do TikTok, é o novo patrocinador da CBF.
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Plataforma digital conecta chefs e agricultores de São Paulo.
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Artigo que saiu há três anos, mas não envelhece: Por que você deve parar de gritas com seus filhos.
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Como terminar com um mau amigo.
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No norte da Groenlândia, cientistas descobriram uma ilha –é o pedaço de terra mais próximo do Pólo Norte.
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Os jardins circulares criados no deserto do Saara.
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Uma "casa invisível" no meio de um deserto.
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Quando o caiaque de uma argentina encontra duas baleias (em vídeo).
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Um site que "transforma os lugares mais bonitos e interessantes do planeta em adoráveis miniaturas".
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