Yellowjackets e as famílias de influencers
Esta é a MargeM 175 e ela vem um pouco diferente. Em vez de dividida em seções (ou editorias, como a Coisas Legais Por Aí), ela está mais, digamos, solta, num fluxo não muito linear de assuntos e ideias e coisas que vão pintando. Me conta se achou legal, se está ruim, o que quiser, em margemnewsletter@gmail.com.
Tenho visto muuuuuitas séries durante a pandemia. Muitas excelentes, como venho escrevendo por aqui (Águas do Norte, Succession, Only Murders in the Building, It's a Sin etc.). Uma que me pegou bem nesta semana foi Yellowjackets.
A primeira vez em que ouvi falar foi, acho, no Twitter, em que alguém fazia uma comparação com Lost. Tem a ver, mas nem tanto. 1) a trama envolve um acidente de avião com sobreviventes; 2) a história se desenrola em épocas diferentes. Mas só.
Yellowjackets é uma série de mistério. Vamos lá: em 1996, um time de futebol feminino do ensino médio de uma escola de Nova Jersey viaja para o outro lado dos EUA para jogar um campeonato nacional. Mas o avião em que estavam cai em algum lugar. Acompanhamos então o que ocorre nos 19 meses em que essas pessoas permanecem isoladas. E, também, como está a vida de algumas delas em 2021 e como era antes do acidente.
A trama é muito bem amarrada entre as diferentes épocas e cada um dos personagens carrega experiências bem particulares e que fogem de estereótipos. É uma série de mistério, mas com drama, um pouco de terror, um pouco de comédia, alguma violência e muita música dos anos 1990. E ficamos tentando entender e descobrir o que exatamente aconteceu nos 19 meses em que esses adolescentes (e um adulto) ficaram desaparecidos?
"Os termos instáveis da cosmologia do programa servem perfeitamente a um de seus interesses operacionais: por que as pessoas acreditam no que acreditam? Como essas crenças se impõem na vida de outras pessoas? A sobrevivência não é um evento singular, mas um ato contínuo de resistência", afirma a Atlantic.
A série, para o Wrap, "encontra maneiras convincentes de explorar questões como traumas e as fachadas que construímos para nós mesmos, que carregamos da juventude à idade adulta".
E o Ringer diz que "Yellowjackets é um jogo inteligente de nostalgia, memória e o que acontece quando o passado volta para assombrá-lo. Principalmente, porém, é um passeio rápido e esquisito. Coloque as máscaras de oxigênio; (você) está prestes a cair".
Se quisermos entender comportamento e tendências em redes sociais, temos de olhar para a China (claro) e para a Índia. Neste último, está aumentando um tipo bem particular de influenciadores: as famílias de influencers.
"O que começou no TikTok, que agora é proibido na Índia, mudou para o Instagram e o YouTube, onde parentes –irmãos e irmãs, mães e filhas e avós e netos– estão criando conteúdo juntos."
Nem tudo são flores. "Por trás dos rostos felizes nas mídias sociais, a realidade da criação de conteúdo envolvendo famílias, e principalmente crianças, pode ser complexa e repleta de riscos."
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Já passou aqui pela MargeM como as redes sociais são responsáveis por novas formas de relações parassociais (quando uma pessoa cria uma conexão com uma figura pública em que a primeiro sente que conhece a última como um(a) amigo(a) pessoal). E essa relação não precisa ter uma celebridade em uma das pontas –pode ser um personal trainer. Até porque, com a pandemia, esses profissionais estão virando celebridades.
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Depressão e redes sociais: os prós e os contras de falar abertamente sobre a doença. Para o Christian Dunker, há benefícios. "Nossas vulnerabilidades que antes precisavam ser escondidas na vida privada são uma matéria-prima para o laço com o outro. Porque pode ser de cuidado mútuo, pode ser de reflexão conjunta, pode ser de partilha de afetos."
Que o Spotify é uma plataforma de áudio e não de música sabemos há algum tempo. Tanto que essa mudança de rota está gerando uma "pressão" para que a companhia produza mais hits dentro do universo de podcasts. A Dawn Ostroff, CCO da empresa, está "incomodada porque sua empresa não está produzindo novos podcasts populares o suficiente e vem pressionando seus estúdios internos".
Continua a reportagem: "Isso não é específico do Spotify. Executivos de estúdios grandes e pequenos ecoaram esse sentimento. Enquanto o público geral para podcasting se expande, o público para novos programas individuais está diminuindo em geral. Nenhum dos 10 podcasts mais populares nos EUA no ano passado estreou nos últimos dois anos. Eles têm em média mais de 7 anos, e três dos cinco primeiros têm mais de uma década. Apenas alguns podcasts no top 50 têm menos de dois anos. E nenhum deles está no top 25."
Um achado delicioso deste início de ano foram as playlists do Teju Cole, escritor de origem nigeriana que publicou livros elogiados como este.
"Tenho feito playlists há um longo tempo, e mixtapes antes disso – por cerca de trinta anos ao todo, eu acho. Sou fascinado por seleção e justaposição", ele escreve.
Tem tanta coisa nas playlists: de música pop contemporânea a peças de Bach, de música brasileira a dubstep.
Bruce Springsteen. Bob Dylan. David Bowie. Nos últimos meses, pipocaram notícias de grandes nomes do pop que venderam seu catálogo para fundos de investimento. No Brasil, tem artista vendendo não as canções, mas turnês.
Um fundo paga ao artista uma grana para ter o direito de comerciar uma turnê. O lucro depende do sucesso dos shows.
A foto acima é de Sabine Weiss, que morreu há pouco, aos 97 anos. Foi uma grande fotógrafa das ruas.
"O rap serve, de forma consistente, contagiosa, às vezes apesar de suas próprias afirmações em contrário, como um mecanismo de entrega para o uso mais estimulante, astuto e inspirador da linguagem na cultura americana contemporânea. Isso é verdade em vários níveis, desde o político e o conceitual até o fonológico e o sintático, mas estou particularmente preocupado com a semântica: com a criação e o controle do sentido." A retórica do rap na Paris Review.
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Adoro Earl Sweatshirt e como ele coloca na letras questões como ansiedade, frustração e sentimentos que não costumam aparecer por aí. Aqui, um ótimo perfil sobre o cara.
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E uma ótima conversa em que B Negão fala sobre Planet Hemp. Mano Negra, Dorival Caymmi e conta algumas histórias.
Gostei bem de A Garota do Moletom Amarelo, thriller filmado em Uganda. Tem influência de Scorsese e Tarantino. E também de O Mar da Tranquilidade, minissérie sul-coreana em oito episódios sobre uma missão que vai à Lua para resgatar alguns artefatos pedidos em uma estação em que, poucos anos antes, todos os habitantes foram mortos.
Uma delícia este Tribute to Robbie, um mix de quatro horas de duração feito pelo excelente DJ francês François Kevorkian em homenagem a Robbie Shakespeare. Morto em dezembro do ano passado, Robbie foi um baixista que tocou com meio mundo (de Peter Tosh a Grace Jones) e fazia parte da dupla Sly and Robbie, que soltou pelo menos dois discos sensacionais: Rhythm Killers (1987) e Silent Assassin (1989).
Um pequeno grande livro: O Lugar.
Amiri em Tudo Eu. Novo r&b brasileiro.
Nos últimos anos, estamos (ainda bem) testemunhando o ressurgimento de pesquisas e estudos envolvendo psicodélicos. Aqui na MargeM, entrevistei há algum tempo o Marcelo Leite, que escreveu Psiconautas, ótimo livro que aborda o tema.
Mas, em um mundo techno-espiritual-hipercapitalista, era esperado que, mais cedo ou mais tarde, isso iria acontecer: a gentrificação da consciência.
"A gentrificação da consciência muitas vezes envolve despojar as viagens para estados alterados de todo o seu significado histórico, cultural e religioso e mercantilizá-las no moinho do consumo de massa. Também envolve apagar as pessoas de sua própria história de ocupação desse espaço espiritual, uma história que precisa ser esquecida se houver alguma chance de algo parecido com um democracia psicodélica."
Mais: "“Em um mundo perfeito, eu adoraria fazer uma viagem guiada e passar por um psicólogo ou um xamã ou alguém que tenha muito mais conhecimento. Mas os únicos que podem pagar são os ricos que vivem em condomínios de milhões de dólares. Não nós. Temos de encontrar formas de fazer a medicina. Temos que confiar no underground.”
Jonny Greenwood passará a ser conhecido não como guitarrista do Radiohead, mas como compositor de excelentes trilhas.
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Saiu uma coletânea, Embrazado Hits, com nomes novos da música pop brasileira, do brega funk ao pagode baiano.
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E um disco em que bandas novas regravam faixas do Lulu Santos.
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O Matthew Weiner, criador de Mad Men e escritor recém-lançado no Brasil, deu boa entrevista à Folha. ("'A Crônica Francesa’ é o filme mais Wes Anderson do mundo, ‘Licorice Pizza’ é o mais Paul Thomas Anderson do mundo. É quase como se o público se acalentasse com essa repetição de estilo. Num momento em que é tão difícil conseguir distribuição, ter uma voz como Aaron Sorkin, por exemplo, é um ativo tremendo.")
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"As mais mordazes resenhas de livros de 2021."
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Como é o trabalho de quem limpa reputações online.
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Quem está voltando? O cigarro.
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Chegou o "slow email".
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"Com milhões de views, vídeos de 'faxina sensual' se espalham pelo YouTube." ("Mulheres de faixas etárias diversas usam a plataforma como amostra grátis do que vendem em seus canais de outras redes, como o OnlyFans.")
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As tecnologias que invadirão as nossas vidas em 2022.
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Os pôsteres de filmes pintados a mão em Gana.
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Truques que os profissionais de marketing usam ao filmar anúncios de alimentos.
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Adorei esse novo formato mais fluido da MargeM ;-)
Parabéns pela Newsletter Thiago!!! Adoro a informação que vc proporciona!!!abs