A crise na música e a importância dos curadores online
Na internet, os curadores estão mais vitais do que nunca. Por que todo mundo está falando de uma crise na música? A morte do Facebook? E mais, nesta MargeM 236
Tem muita coisa horrorosa, estúpida, enganosa e prejudicial na internet e nas redes sociais. Mas também tem muita coisa legal, informativa, curiosa e
E muitas dessas coisas a gente acha nas redes por meio de outras pessoas, em conteúdos que nos indicam gadgets de tech, produtos de beleza, músicas, exposições, explicam assuntos de ciência etc.
Pessoas que agem como curadores. Um trabalho que é mais importante do que nunca.
“Em uma era anterior da internet, poderíamos ter pensado em figuras como essas simplesmente como influenciadores, cuja capacidade de atrair grandes seguidores online lhes confere um poder que às vezes ultrapassa o das publicações tradicionais. Mas a ideia de um influenciador tornou-se (algo que denota) conteúdo superficial, desinformado, até mesmo enganoso, ditado por patrocinadores. (...) O influenciador arquetípico (...) destaca o glamour aspiracional de sua própria casa, refeições ou férias. A nova onda de curadores é mais voltada para fora, emprestando algumas regras dos influenciadores e se aproveitando da interação íntima das redes sociais com os seguidores para abordar um corpo de cultura além de si mesmos.”
Estamos em meio a uma crise no setor de grandes shows e festivais do Brasil? Aparentemente, sim, já que o assunto foi esquadrinhado por piauí, UOL, G1, Mapa dos Festivais (muito por causa do cancelamento das turnês de Ludmilla e Ivete Sangalo; já o Mapa dos Festivais conta que, neste ano, “oito (festivais) foram cancelados, nove adiados e um teve 1 dos seus 2 dias de evento cancelado”.)
Nos EUA, a coisa também está pegando. No Reino Unido, também.
Há pouco, o Black Keys cancelou uma grande turnê que faria em grandes espaços e ginásios. O preço dos ingressos estava lá em cima. A banda não disse abertamente quais foram as causas da decisão, apenas que a turnê será redesenhada em outros lugares -- menores, claro.
No Reino Unido, a conversa está rolando desde o meio do ano passado, quando esta reportagem mostrou que muitas bandas médias e pequenas já não conseguem excursionar devido aos custos logístico e operacional.
Esta outra reportagem afirma que o setor de shows do Reino Unido está quente e que o preço médio dos ingressos já chega a mais de R$ 600.
As duas matérias se complementam: enquanto pequenos e médios artistas sofrem para alugar uma van, pagar diária de hotel, se alimentar e receber número bom de gente em seus shows, bandas bem grandes ainda conseguem atrair muita gente, o que inflaciona o preço dos ingressos.
Por isso, a conversa agora nos EUA discute “por que os ingressos para shows estão tão caros?”.
Bem uma das razões é o tamanho da Live Nation, conglomerado que agencia artistas, controla diversas casas de shows pelo mundo, é dona da Ticketmaster (maior tiqueteira do planeta) e é proprietária de festivais como Lollapalooza (e os brasileiros Rock in Rio e The Town). A empresa tem tanta força no mercado que o governo dos EUA quer desmembrá-la.
Mas não é só isso. Outros fatores: artistas pedindo cachês altos, custos logísticos e demanda.
Mas se a demanda existe e é alta, por que gente como Black Keys, Ludmilla e Ivete Sangalo estão cancelando turnês?
Bem, porque há demanda para determinados artistas (superstars globais e nomes que não aparecem a toda hora na mídia) e para grandes festivais, que têm o poder e a estrutura para reunir dezenas de artistas em um único dia ou final de semana. Por que pagar centenas de reais para ver um show da Ludmilla se a pessoa já viu um show da Ludmilla no The Town ou na turnê Numanice há não muito tempo atrás?
Mais:
- O Wall Street Journal fez uma matéria explicativa para mostrar para onde vai a grana gasta em um show. Como o WSJ tem um dos paywalls mais rigorosos do mundo, coloco aqui uma imagem que resume a questão.
- Esta matéria explica por que o cambismo é quase impossível de ser eliminado.
Dá pra confiar nos números de audiência fornecidos pelas plataformas de streaming e redes sociais? Vamos pegar o caso da Meta. A companhia parou de divulgar o tamanho dos “usuários diários ativos”. Agora, a métrica é em relação aos "usuários da família de aplicativos".
Na tradução: agora a Meta soma todos os usuários de suas plataformas: Facebook, Instagram, Threads, WhatsApp, Oculus e Messenger. Diz que são, ao todo, 3 bilhões por dia.
Parece (e é mesmo) um número impressionante, mas que mascara a “morte lenta do Facebook”, como argumenta este artigo. “O Facebook perdeu 25,2% dos seus visitantes únicos mensais desde 2021, caindo de um pico de 1,456 bilhão em maio de 2021 para uma baixa de 1,042 bilhão em fevereiro, aumentando ligeiramente para 1,059 bilhão em abril de 2024 — uma perda de 397 milhões de visitantes únicos.”
Com um paywall amigável (bem diferente do muro intransponível erguido por várias publicações), a Atlantic é uma história de sucesso: já ultrapassou o milhão de assinantes e coleciona prêmios jornalísticos.
“Inteligência artificial deve ser usada para criatividade, não para cortar custos”. É o que diz a Amy Webb, futurista mais conhecida do mundo, que desembarca no Brasil em junho, para o Febraban Tech.
Ela deu entrevista à Folha, em que afirmou ser "um erro” as empresas de mídia licenciarem conteúdos para treinamento de inteligências artificiais.
As fotos desta edição são de shows do C6 Fest clicados por Alexandre Charro. A cobertura do festival pela MargeM pode ser vista aqui.
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Thiago, meu caro. Trabalhei no Caderno 2 numa época que você cobria música pela Ilustrada. Estou passando aqui para dizer que a sua newsletter é foda. Salvo ela para reler e ler todos os links depois, sempre. Estou lendo um livro chamado Filterworld, de um jornalista da New Yorker <Kyle Chaka, acho) que aborda o estrago que o algoritmo faz na cultura contemporânea. Lembro sempre de você e do Ted Gioia, um outro substack excelente que leio. Obrigado por fazer esse garimpo essencial. Receber recomendações de um outro ser humano que conhece o seu campo e tem uma posição quanto mais idiossincrática melhor, me traz alegria. Até porque eu adoro descordar dos outros, inclusive de alguns discos que você elencou como melhores do ano aqui. Valha-me deus! Se tivesse num bar a conversa ia longe. Mas enfim, a curadoria já é um ato subversivo. Não pare!
os preços dos shows são proibitivos para a maior parte da população, assim como de outros bens culturais, como livros, teatro e exposições.