A série The Bear e a crise do homem moderno
Esta é a MargeM 185. A ótima série The Bear, que é sobre comida, mas não só. Influenciadores e engajamento. Um texto sobre o preço que se paga por namorar um homem moderno. E mais.
"The Bear é a coisa mais estressante da TV. E também é ótima", crava, apropriadamente, a Rolling Stone.
Esse estresse todo aparece já nas primeiras cenas do primeiro episódio. Em um pequeno restaurante de Chicago, cozinheiros gritam, suam, esbarram uns nos outros. A sensação é a de que nenhum prato vai ficar pronto. Nada ali tem como dar certo.
Mas dá. Sempre dá. E essa sensação de estresse e tal não é permanente (nem teria como). E nem é o que mais interessa em The Bear. O que interessa aqui são os personagens que orbitam dentro e em volta do restaurante. Como Carmy (Jeremy Allen White), o chef, que herda o lugar depois da morte do irmão, e Sydney (Ayo Edebiri), jovem e talentosa cozinheira – e braço direito de Carmy). Tem bastante comida, claro, mas a série vai muito além: entram relações familiares; vícios; incapacidade de lidar com o passado; relações de poder.
São episódios de cerca de 30 minutos de duração em que humor e drama e um certo suspense são engenhosamente costurados.
Uma coisa: o sétimo episódio, filmado em plano-sequência, captura espetacularmente a tensão que explode naquele ambiente. Uma aula de roteiro e de direção.
Outra coisa: sem entregar muito, um dos pontos altos da série está no oitavo e último episódio desta primeira temporada. Envolve Let Down, do Radiohead. (“Por dentro da deliciosa trilha ‘dad rock’ de The Bear.”)
The Bear é uma produção Hulu, plataforma que ainda não está disponível no Brasil.
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Guardian: "A receita do sucesso - Como The Bear captura o clima de um restaurante".
Atlantic: "A melhor nova série da TV é um estudo da masculinidade em crise".
Vanity Fair: "Almoçando com Jeremy Allen White e Ayo Edebiri".
Se o final de The Bear traz um gancho forte para a futura segunda temporada, o final da segunda temporada de Hacks parece o final da série em si. Não que seja ruim (longe disso), mas é como eu imaginaria que fosse o encerramento da coisa toda.
Se você não viu, a história se desenrola a partir da relação entre Deborah Vance (Jean Smart), uma veterana e decadente comediante, e Ava (Hannah Eibinder), uma jovem roteirista que vai escrever piadas para Vance.
Gostei bem desta segunda temporada, que é um pouco menos sarcástica do que a primeira (e traz menos atritos entre as duas personagens principais).
Influenciadores brasileiros estão revoltados com o Instagram. Motivos: "queda no engajamento, reorganização sem critério do feed e constantes problemas técnicos".
E isso não é só no Brasil: "As taxas médias de engajamento para postagens no feed (como fotos, carrosséis e vídeos que não são do Reel) no Instagram diminuíram 44% desde 2019."
Tem um ponto: redes como TikTok e Kwai estão investindo dinheiro pesado para atrair criadores para suas redes. Então muito dessa movimentação também tem a ver com a grana que está saindo dos bolsos de outras redes.
(E isso fora o YouTube, que há anos tem uma postura forte em relação à retenção de criadores.)
A recente ascensão popular e comercial do TikTok é algo muito sério. A rede deve chegar a 1,5 bilhão de usuários ainda neste ano. E deve fechar 2022 com uma receita de mais de US$ 12 bilhões.
- Influenciadores têm de revelar quando um post é patrocinado. No TikTok, isso está virando uma guerra perdida.
- O Twitter está contratando vários profissionais que passaram por FBI e outras agências para trabalhar nas áreas de segurança, confiança e conteúdo.
- E aqui uma boa análise a respeito da briga Twitter x Elon Musk. (Spoiler: "Todo mundo associado a esse negócio está perdendo. Exceto os advogados".)
"O grafite desafia a noção do que é belo. Também joga luz em quem pode ficar com raiva em nossa cultura, bem como quem e o que são considerados ameaças."
Daqui.
A foto acima e a anterior são de um ensaio-reportagem de Pablo Albarenga sobre o Minhocão, em São Paulo, publicado no Guardian.
"O terrível preço de estar em um relacionamento com um homem moderno."
Como é legal ler um texto escrito com tanto bom humor e sagacidade. Trecho:
"Olha, não é que eu não aprecie todo o amor, compreensão e apoio emocional que estou recebendo do meu parceiro.
Eu aprecio. Mais ou menos.
Porque é muito bom não ter que lembrá-lo quando é o meu aniversário ou o aniversário da nossa relação. É lindo receber flores sem nenhum motivo específico.
Namorar um homem moderno certamente tem suas vantagens. Mas nem tudo são banhos de espuma e buquês de flores, sabe.
Ele expressa as emoções. Tipo, muito. Quase todos os dias. Ele é aberto comigo. E vulnerável. E me conta todas as suas dúvidas e medos e coisas assim. Eca.
Ele até fez terapia. Não uma vez – mas duas.
Uau. Começo a pensar que os homens são seres humanos capazes de ter o mesmo alcance emocional que as mulheres.
Estranho, hein?".
Está inteiro aqui.
A maquiadora Rafaela França tem três filhos. Um deles, Maria, foi diagnosticada com autismo. Em vez de passar pelo tratamento tradicional, decidiu investigar alternativas. Chegou ao canabidiol.
Começou a dar o óleo da maconha a Maria, hoje com três anos. O problema é que cada vidro custa cerca de R$ 1,7 mil. Arrecadou o valor através de uma vaquinha na comunidade. Tornou-se, assim, "uma das primeiras moradoras do lugar a levar óleo de cannabis importado para dentro da favela", como revela esta reportagem.
Mas, se a legislação fosse outra, Rafaela não precisaria ter de importar (e pagar caro) pelo produto.
Adrian Quesada e Tita Moreno - El Muchacho De Los Ojos Tristes
Que coisa linda esse cover. A original é da espanhola Jeanette e saiu em 1981.
Uma ótima e curiosa lista: "12 livros que mudaram a forma como eu ouço música. Mas nenhum desses livros é sobre música". (Vários dos livros ganharam edição no Brasil.)
Bem legal esta lista comentada de músicas que inspiraram o MV Bill.
Um infográfico interativo explica como é a distribuição de grana das plataformas de streaming de música para os artistas.
Barbara Kruger nunca é demais.
O Wordle vai virar jogo de tabuleiro.
Se você curtiu as imagens do telescópio James Webb, este vídeo coloca em perspectiva o tamanho delas em relação ao universo.
Torrent é crime? Entenda os direitos autorais e quem paga.
Cinco dicas para equilibrar vida e trabalho e evitar o burnout.
Fazer cerâmica virou moda.
Como (e por que é importante) admitir que você está errado(a). (Na mesma linha: Como não julgar tanto os outros. "Ser crítico o tempo todo cansa.")
Seances. Que projeto legal feito pelo National Film Board do Canadá. Você entra no site e vê um vídeo único, que só será visto daquela maneira por você, naquele momento. É uma "narrativa cinematográfica baseada em dados", em que "os filmes são montados dinamicamente em configurações que nunca serão repetidas". Depois, desaparece.
G.U.C.C.I. Que ideia: não tem a ver com a Gucci, mas também tem. O Genuine Unauthorized Clothing Clone Institute "é um projeto nascido do desejo e da alienação. Desenvolvido pela artista e designer Abigail Glaum-Lathbury, as roupas do projeto, padrões para download gratuito e vídeos instrutivos são uma cartilha visual a respeito de direitos autorais e leis de propriedade intelectual e ilustram sistemas de exclusão e hegemonia."
Dá uma olhada antes que tirem do ar.
Metroverse. Site desenvolvido por um laboratório de Harvard que compara dados e infos de milhares de cidades do mundo. ("Como uma ferramenta dinâmica, ela está em constante evolução com novos dados e recursos para ajudar a responder perguntas como: Qual é a composição econômica da minha cidade? Como a minha cidade se compara às cidades ao redor do mundo? Quais cidades se parecem mais com a minha?")
O principal personagem do TikTok hoje é uma ema.
Mas muito obrigada pela dica de série, Thiago! The Bear melhorou meu domingo e agora sinto que preciso de um mês de férias pra me recuperar desse restaurante insalubre. Amei.