Como Game of Thrones explica a homogeneização da mídia
Quando os sites ficaram todos iguais. Mais festivias de música cancelados. Playlist nova. E mais, nesta MargeM 239
Se a gente quiser entender o que aconteceu de errado com os grandes veículos de mídia neste século, temos de olhar para Game of Thrones.
Um dos principais sucesso do streaming na década passada, seus episódios eram fartamente analisados e discutidos na internet.
Game of Thrones dava audiência não apenas para a HBO, mas para sites que produziam reportagens, críticas e recapitulações dos eps. Não apenas sites de cultura pop, mas publicações como New York Times, Guardian, NPR, BuzzFeed, New Yorker, Time, Atlantic, Business Insider.
E, quando todos vão atrás da mesma coisa, quando todos apostam no mesmo tipo de conteúdo, como diferenciar um do outro? Na corrida pelo tráfego gerado por GoT, todos os sites ficaram iguais.
(A matéria linkada acima traz um detalhe curioso: em 2016, o Facebook pagava sites noticiosos para usarem a ferramenta de vídeo Facebook Live. Em 2017, parou com a brincadeira. Pouco depois, descobriu-se que o Facebook tinha inflado as métricas do Live. Resultado: teve de pagar uma multa de US$ 40 milhões, valor que a companhia ganha em apenas três horas. O crime não compensa?)
Bem, outro detalhe que diz muito sobre como funcionam os sites: um social media da Atlantic falou sobre o desespero por cliques:
“Se havia uma semana ruim e todas as porcentagens caíam em termos de tráfego, eu recebia perguntas: ‘Para onde foi o tráfego?’. Eu tinha 22 anos e não fazia a menor ideia de para onde diabos o tráfego tinha ido”.
Ele relembra e analisa:
“Game of Thrones foi a primeira coisa para a qual não precisávamos fazer nada para gerar tráfego. Nós só precisávamos criar o conteúdo, e então as pessoas vinham até ele. (...) Todos os sites estão escrevendo sobre Game of Thrones e todo mundo está lendo. É a única coisa que tem para ler. (...) Vira uma cobra que come o próprio rabo. Realmente homogeneiza a mídia.”
Homogeneiza. Apaga a identidade. Desestimula a leitura.
Em uma MargeM não muito distante, escrevemos sobre uma tal crise na indústria da música. Principalmente em relação aos festivais.
Esta matéria relata que, só no Reino Unido, 50 festivais de música foram cancelados em 2024. O tradicional Melt, na Alemanha, terá a sua 27ª e última edição neste ano. A justificativa: “mudanças intransponíveis no cenário dos festivais”.
O Resumido, do Bruno Natal, é dos podcasts mais espertos sobre cultura digital e tecnologia. Recentemente, ele passou a soltar uma newsletter, a Futuro Explicado. Na última edição, contou a história de uma brasileira que foi apelidada de “rainha da máfia dos carros de aplicativos”. Pra assinar, siga por aqui.
Temos mais uma playlist aqui da MargeM. Tem coisas novas de gente nova e coisas novas de gente nem tão nova, como a Laurie Anderson. Dá uma ouvida e me diz se não ficou boa.
As fotos desta edição são parte do Latin American Foto Festival.
Funkeiros dos anos 1990 se dividem entre nostalgia e brigas em bailes retrô.
Uma lista com boas músicas que encerram discos.
“Geração Z não sabe usar mouse e Ctrl C + Ctrl V? Culpa não é dela.”
Usar uma fantasia da Elsa, de Frozen, durante o dia a dia virou um passatempo para muitas crianças, independentemente do gênero.
Fones de ouvido com cancelamento de ruídos são ruins?
Um perfil do Chopin, edifício que reúne artistas como Gilberto Gil e socialites do Rio de Janeiro.
Os 100 anos da caesar salad. (E aqui uma receita maravilhosa dessa salada.)
A memeficação de Anthony Bourdain.
E assim a gente se lembra que a mídia também é um negócio. Não somos bombardeados com as mesmas mensagens à toa.