"O computador não tem nada a ver com criatividade"
MargeM 187 na área. A história de que o TikTok pode representar o início do fim das redes sociais está rendendo. O Tinder como relacionamento. Karl Bartos e como a chegada do computador mudou o Kraftwerk. O Jorge Paulo Lemann tá investindo em uma nova empresa de mídia. E mais.
Na MargeM passada, escrevi a respeito da movimentação de redes como Facebook e Instagram em direção ao modelo TikTok e como isso poderia significar o "fim da era das redes sociais".
O assunto está rendendo. A New Yorker publicou uma reportagem extensa (e excelente) sob o título "TikTok e a queda dos gigantes das redes sociais".
O início da matéria tem aquilo que já vínhamos falando: o TikTok não é uma rede social clássica – está mais para uma plataforma de entretenimento baseada em vídeos curtos. E isso faz toda a diferença em relação ao modelo tradicional das rede sociais, em que o que importa, principalmente, são as conexões com os amigos.
O autor da matéria, acertadamente, escreve que o Facebook pode se dar muito mal se deixar de lado, na timeline do usuário, o componente social da rede para privilegiar conteúdos de qualquer pessoa ou marca.
Vale muito ler todo o texto, que contextualiza toda a questão, desde o início do Facebook, lá em 2004, passando por criações que mudaram a maneira como usamos as redes sociais (uma delas foi a implementação do retuíte no Twitter).
"A década passada foi boa para as gigantes das redes sociais, mas o repentino crescimento do TikTok pode ser a disrupção que finalmente encerrará os seus reinados."
Mas isso não significa que o TikTok necessariamente terá um futuro tranquilo pela frente. É uma plataforma que, até agora, vive muito de vídeos curtos engraçados e escapistas. Não à toa a empresa investe em convites para o TikTok gente que produz conteúdos, digamos, mais "sérios". Porque ninguém será adolescente para sempre.
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Em tentativa para aumentar ainda mais a quantidade de vídeos na rede, o Instagram, começou a pagar empresas de mídia para produzirem Reels.
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Como o TikTok conquistou a moda.
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O Triller, um app concorrente do TikTok, prometeu a criadores negros que investiria dinheiro para que eles produzissem conteúdo. Muitos desses criadores reclamam que não receberam e ficaram endividados.
Que delícia de artigo sobre o Tinder: "Como um aplicativo de namoro se tornou meu relacionamento mais antigo?".
"Eu já rejeitei pessoas por terem uma gramática ruim, por insultos raciais, por fazerem as primeiras perguntas chatas, por falar agressivamente e imediatamente de cosias sexuais, por conversas excessivamente sérias, por usarem GIFs, por se atrasarem em encontros ou por algum traço nojento, muitas vezes envolvendo sua escolha de calçados. Já esqueci que saí e dormi com alguém e depois dei um rematch."
Em 1986, o Kraftwerk lançava Electric Café. O Karl Bartos relembra a época não com muita alegria: "O problema começou quando o computador chegou ao estúdio. Um computador não tem nada a ver com criatividade, é apenas uma ferramenta, mas terceirizamos a criatividade para o computador. Esquecemos da nossa essência. Perdemos nosso sentimento físico, não mais nos olhando nos olhos, apenas olhando para o monitor. Na época, eu achava que inovação e progresso eram sinônimos. Já não tenho tanta certeza”.
É uma entrevista bem boa, e Bartos é bem crítico à ex-banda: "Eu amava ser man-machine. Mas nós perdemos o man".
A Netflix está mudando como o cinema é feito, distribuído e assistido. Nos EUA, no Brasil e na Nigéria. O país africano é um dos maiores produtores de film e do mundo. Este texto afirma: "A Netflix está comendo o almoço de Nollywood. O que vai acontecer agora?".
Por muitos anos, os filmes nigerianos eram basicamente vendidos para serem consumidos via video-cassete ou DVD. Isso mudou em 2014, diz a autora, quando alguns filmes muito bem produzidos viraram blockbusters nos cinemas do país. Em 2019, os longas nacionais representaram 40% da audiência das salas.
Em 2020, com a entrada da Netflix no país, a situação virou. Agora, em 2022, os longas nacionais abocanharam apenas 25,8% do mercado.
Sabe qual é, atualmente, a maior plataforma de podcasts? Não é Spotify nem Apple, mas o YouTube. E, como diz este artigo, está ficando "cada vez mais difícil distinguir qual é exatamente a diferença entre um podcast e um vídeo do YouTube".
A foto acima e as outras duas desta newsletter são parte da exposição A Feminist Avant-Garde: Photographs and performances from the 1970s from the Verbund Collection, Vienna.
Como a música, o cinema e a televisão, os quadrinhos também estão mudando por causa de um aparelho: o celular.
"Os quadrinhos da web explodiram em popularidade nos últimos anos, em parte por atingir um público que a indústria há muito ignorava: a geração Z e as mulheres millennials. As histórias que eles oferecem – de uma jovem lutando contra o sexismo no mundo dos esportes eletrônicos – são em sua maioria gratuitas e rolam verticalmente em smartphones, onde vivem leitores com menos de 25 anos", afirma esta reportagem.
Para ter uma ideia do tamanho do negócio: uma plataforma coreana de quadrinhos, a Webtoon, tem 82 milhões de usuários ativos e mais da metade são mulheres.
Saiu há pouco Vidas Rebeldes, Belos Experimentos, livro em que Saidiya Hartman coloca em primeiro plano jovens negras que desafiaram o machismo no início do século 20.
Em entrevista, ela diz: "Eu escrevo sobre desconhecidos, e Beyoncé é um ícone global do pop, algo parte de uma cultura capitalista de commodities. Ela é uma artista muito talentosa e uma figura complexa, mas no meu panteão de feministas, não é uma figura central, embora a música seja poderosa. Existem vários feminismos. Um deles está contente com o capitalismo, e esse não é o meu. Existem outras feministas, como Angela Davis, que focam de verdade as estruturas que tornam a ordem vigente possível".
Kamau - Aparte
O Kamau entrega muito. Aqui, faixa em parceria com o ótimo Parteum.
Ex-colunista do New York Times e um dos cabeças do BuzzFeed, o Ben Smith vai lançar, em outubro, um novo veículo de mídia, o Semafor. Um dos investidores é Jorge Paulo Lemann. "No primeiro ano, será de leitura gratuita, contando com publicidade e eventos ao vivo para gerar receita. Depois de um ou dois anos, o empreendimento deve implementar um paywall."
Puck e The Ankler são duas empresas de mídia baseadas em newsletters que estão se dando bem.
Tem podcaster que cobra até US$ 50 mil de alguém que queira participar do programa.
Podcasts estão testando formatos tradicionais de anúncios, como outdoors, para alcançar públicos mais amplos.
O Goethe-Institut tá exibindo a mostra de filmes New Directions: 20 Years of Young German Cinema. São 19 longas e dá pra ver todos, gratuitamente e com legenda, por aqui.
Quem é o nerd de hoje? As vozes da diversidade geek.
Por que a Beyoncé transcende a moda. ("O que diferencia a sua abordagem às roupas é que ela escolhe peças que preenchem sua identidade, o senso do que ela quer ser, incorporar e sentir, em vez do que ela entende como contemporânea.")
Britney Spears deixa sua tutela no passado para ser feliz nua na internet.
Cerca de 60% dos 5 milhões de habitantes da Finlândia ouvem heavy metal. O documentário A Heavy Metal Civilization, dirigido pela fino-brasileira e por Cristina Ornellas, retrata essa cena. Dá pra ver gratuitamente por aqui.
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