O streaming virou a crypto do entretenimento
A encruzilhada do modelo de negócio das plataformas de streaming. Marcas atrás de idosos no TikTok. E mais, nesta MargeM 212
Passamos pelo período dos sonhos das plataformas de streaming de séries e filmes:
- a empolgação com o surgimento de um novo modelo de negócios, digital como exige o século 21, que pulverizou o anterior, analógico e, por isso, ultrapassado;
- crescimento constante do número de assinantes;
- programas que atraíam grandes atores e diretores premiados.
Mas, apenas uma década e tanto depois que esse modelo ficou de pé, cristaliza-se a sensação, de muita gente da indústria, de que ele chegou ao ápice - agora, viria a queda e uma necessidade urgente de reestruturação, por várias razões:
- estagnação do número de assinantes;
- custos elevados;
- baixa remuneração das equipes (roteiristas, produção etc.);
- tem mais séries e filmes sendo feitos do que gente para assisti-los.
O streaming mudou a TV, o cinema e a maneira pela qual assistimos a TV e o cinema. E, se antes tínhamos estúdios e emissoras de televisão moldadas para criar produtos de entretenimento, hoje essas empresas funcionam mais como startups de tecnologia: a escala de produção e a busca incessante por assinantes importam mais do que a receita financeira que é gerada (o modelo da Netflix é basicamente o mesmo do do Uber: tudo bem ter prejuízo, o que vale é aumentar o número de usuários).
Esta reportagem vai fundo na história e ouve gente importante, como Steven Soderbergh, que compara o modelo das plataformas de streaming com uma "economia quântica":
"Você pode ter uma série que seja um grande sucesso em sua plataforma, mas na verdade não está ajudando em nada para aumentar a receita de sua plataforma. É absolutamente concebível que o modelo de assinatura de streaming seja a crypto do negócio de entretenimento".
Mike Schur, criador de The Good Place: "A Netflix revolucionou uma indústria de 100 anos de idade. Tudo mudou, e tudo mudou do jeito que eles mudaram.”
"Estamos vendo ideias que deveriam ser filmes sendo alongadas por oito episódios, e não há mecanismos narrativos para sustentá-las por tanto tempo", afirma Shawn Ryan (The Shield, The Night Agent).
E tem ainda outra questão: plataformas de streaming estão atraindo atores, diretores e roteiristas caros que muitas vezes criam séries e filmes que quase ninguém vê. Damon Lindelof (Lost, The Leftovers) diz:
"Estamos todos presos em nossas bolhas de atenção. Todo mundo que eu conheço está assistindo Enxame, mas minha mãe, meus sogros e meu cunhado jovem nem sequer sabem que ela existe. Então você se pergunta, por que eu sei que esse programa existe? A TV se tornou muito artesanal."
Um executivo aponta: "É difícil desenvolver sitcoms de sucesso quando as pessoas que criam, compram e fazem a programação (das plataformas) não parecem gostar delas. Elas não parecem gostar do que o público gosta. Quero dizer, desculpe, mas as pessoas realmente gostam de Two and a Half Men, e nenhum dos meus roteiristas quer escrever algo como isso. Todos querem escrever Barry. E sabe quem assiste Barry? Ninguém."
Sobre esse último ponto, tem outro lado, como aponta esta jornalista: "Atualmente, o entretenimento, o marketing, o entretenimento-marketing, seja lá o que for, tem TUDO a ver com alcançar uma massa de nichos". Massa de nichos.
O sistema de streaming precisa se reestruturar (já começou). Mas não será indolor.
A Netflix, sempre ela, está mudando a estratégia de atuação em diversos países do mundo. Se antes a ideia era fazer programas para atrair espectadores do mundo todo (local -> global), agora foca na produção de shows que sejam sucesso nos países em que são produzidos (local -> local). Está acontecendo no Brasil, na Coreia do Sul, em países de língua espanhola etc.
"Essa mudança na Netflix ressalta uma nova fase na evolução do streaming. A empresa não está apenas tentando ser a maior rede de TV do mundo; está tentando ser a rede de TV mais popular em todos os países."
O TikTok ainda é uma rede que atrai basicamente gente não tem idade para tirar carteira de motorista. Mas isso pode estar mudando - até por investimento da própria rede. Criadores idosos no TikTok estão sendo procurados por marcas.
"O TikTok está ganhando força entre usuários mais velhos, então as marcas estão seguindo-os até lá. (...) Esses criadores têm obtido sucesso compartilhando lições de vida e dicas de moda, cozinhando, interagindo com os netos ou apenas sendo engraçados - enquanto também promovem produtos."
O ChatGPT e outras inteligências artificiais são um caminho sem volta. Mas ainda há questões para resolver, como:
- o custo de operação;
- a energia que utiliza para funcionar;
Em uma MargeM passada, escrevi sobre como algumas cidades (tipo Medellín e Rio) estavam lidando (para o bem e para o mal) com os nômades digitais. Os argentinos também estão encarando essa questão: o governo criou uma operação cambial que favorece os estrangeiros.
"Como titulares de contas bancárias internacionais, agora eles (os nômades digitais) podem acessar uma taxa de conversão melhor ao trocar dólares americanos por pesos argentinos, usando o que o governo chamou de 'dólar turista estrangeiro'. Aos argentinos não são oferecidos termos tão generosos. Os moradores locais recebem cerca de 250.000 pesos argentinos para cada US$ 1.000, enquanto os titulares de contas bancárias internacionais recebem mais do que o dobro - 500.100 pesos."
As fotos desta newsletter estão na expo Fotografia Habitada, Antologia de Helena Almeida, 1969-2018, no IMS São Paulo.
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Começa nesta quarta (14 de junho) o excelente In-Edit Brasil, festival dedicado a exibir documentários que têm a música como assunto central. Parte da programação será exclusiva para cinemas de São Paulo, mas vários dos docs poderão ser vistos online.
Tem muita coisa legal nesta edição (programação completa aqui), como a noite de 17/6, na Cinemateca de São Paulo, com a exibição de Chic Show, sobre o núcleo que organizava festas nas décadas de 70 e 80 - Tim Maia e James Brown passaram por ali, quando o baile era feito no ginásio do Palmeiras.
E a sessão será seguida por um baile Chic Show. Imperdível para quem estiver na capital paulista.
Fabio Massari e Gastão Moreira lançaram financiamento coletivo para produzir uma série de quatro programas em que vão resgatar histórias que protagonizaram na MTV Brasil.
Um ranking com as 30 melhores músicas dos Pet Shop Boys. (Na primeira posição não tinha como estar outra. E eu trocaria a terceira e a segunda de lugar.)
O Anton Corbijn fez um doc sobre o estúdio Hipgnosis, que criou capas de discos como The Dark Side of the Moon.
“Snowden e eu: como o vazamento do século foi publicado.”
Um dos responsáveis pela popularização do drum’n’bass no Brasil, o DJ Patife virou caminhoneiro em Portugal.
"A maior aposta da Apple não é o Vision Pro - é a Índia."
Quais línguas dominam a internet? (Spoiler: o inglês é a língua de 55,6% dos sites da web; português aparece na oitava posição.)
Realizado em Detroit, o festival Movement é uma "celebração do passado, presente e futuro do techno".
"Livros como 'Sapiens' deseducam sobre evolução humana." Quem diz isso é David Wengrow, que, ao lado de David Graeber, escreveu o elogiado O Despertar de Tudo.
Uma ótima resenha de Aos Prantos no Mercado, livro da Michelle Zauner (vocalista da banda Japanese Breakfast) que já apareceu aqui na MargeM.
Os 25 sites mais visitados em 2023.
"Confusa, 'uncool' e sem nenhum lugar para navegar: a internet se tornou um lugar hostil para millennials como eu."
Por que viajar de avião está tão caro no Brasil.
Não conhecia esse novo site, Hotel Slash, que faz buscas em preços de diárias de hoteis e monitora as mudanças de valores. (Vi nesta matéria.)
o patife caminhoneiro eu não esperava! achei que era mais uma história de "o Brasil maltrata seus artistas" mas ele parece feliz e segue tocando.
sobre o cambio na Argentina, afeta até quem recebe em reais. Eu fui ano passado e queria trocar no western union na fronteira e era impossível pq todos os outros brasileiros chegaram antes e acabaram com o dinheiro. Acho q qdo consegui tirar os 2mil reais q tinha depositado, quase acabei com o dinheiro da agência.
Mas todos hoteis lá bem mais baratos do que no Brasil justamente pelo cambio. A idéia da viagem era passar um tempo no Chile também, mas a Argentina estava tão mais em conta q preferimos voltar lá depois de 24horas no Chile. Esse ano teve mais vantagem pagar hospedagem com cartão pq hoteis não cobram imposto para estrangeiros pagando com cartão.