Saturação das redes, o poder do YouTube e o funk BR
Ainda aguentamos novas redes sociais? Os números do YouTube. O vício em games. O funk brasileiro ganha o mundo. Playlist do R.E.M. Sinéad O'Connor. Um lindo set do Omoloko. Tudo isso nesta Margem 219.
Será que estamos chegando a um ponto de saturação em relação às redes sociais e plataformas digitais?
É o que pergunta este artigo, motivado pelo lançamento do Threads, apenas mais um dos vários apps que tentam competir ou substituir o Twitter. Se quiser ir direto ao ponto, pode começar a leitura a partir do sétimo parágrafo. As redes sociais, segundo o autor, estão estagnadas, e a razão para isso é que a "nossa atenção não é infinita".
"Há uma quantidade limitada de horas por dia para navegar nas redes sociais, assistir às novas temporadas de Love Is Blind e folhear guias de viagem que parecem ter sido compostos por uma IA entediante (o que de fato foram). Sim, por um tempo, especialmente durante a Covid-19, parecia que nosso apetite por essas coisas era ilimitado. Mas, em algum momento, você realmente deseja sair para o mundo real."
O autor relembra um ponto curioso: em 2017, o então CEO da Netflix, Reed Hastings, foi perguntado se a Amazon Prime era um competidor que preocupava a Netflix. Hastings respondeu: "Nosso competidor é o sono".
O PornHub foi o 12º site mais visitado da web em junho. E, apesar de sofrer restrições de Visa e Mastercard, a plataforma é extremamente lucrativa: tem uma margem operacional de quase 30% (a margem operacional da Meta é de 25%).
O YouTube é, talvez, a plataforma que definiu o mundo digital como o conhecemos hoje.
"Se você quer entender como funcionam a economia dos criadores, a dinâmica da influência, a viralização de conteúdos, o nascimento de micro e macro celebridades, enfim, basicamente quase tudo o que envolve cultura digital, é preciso entender como funciona o YouTube", escrevi aqui na MargeM em outubro do ano passado, a respeito de um livro que conta a história do YouTube.
Relembro isso tudo porque o YouTube parece estar mais forte do que nunca. Alguns dados:
A plataforma teve receita de US$ 7,7 bilhões no segundo trimestre deste ano;
O YouTube Shorts é visto por 2 bilhões de usuários/mês;
O YouTube Music e o YouTube Premium (que são pagos) já têm mais de 80 milhões de assinantes;
A plataforma vai começar a transmitir jogos da NFL neste segundo semestre.
"Eles perderam seus filhos para o Fortnite", é o título de uma reportagem que investiga como alguns adolescentes no Canadá estão viciados em games.
"Um grupo de pais canadenses diz que seus filhos são tão viciados no videogame Fortnite que pararam de comer, dormir e tomar banho. Agora, esses pais querem responsabilizar a gigante empresa que criou o jogo."
A reportagem é bem extensa e vale a leitura porque, apesar do título meio apocalíptico, foi escrita por alguém que joga games há anos.
"Para mim e para milhões de jogadores como eu, os games são, na pior das hipóteses, um vício leve. Desfrutados com moderação, eles podem ser um passatempo inofensivo, até mesmo construtivo. O jogo desenvolve a coordenação mão-olho, o processamento visual-espacial e as habilidades de liderança. Os jogos cooperativos ensinam as crianças a trabalhar em equipe, e os educadores da área de saúde usam os jogos para treinar médicos e enfermeiros."
E:
"O problema é que os sentimentos eufóricos não duram. Os jogadores desenvolvem tolerâncias. Eles precisam jogar mais para alcançar a mesma sensação de euforia. Depois de sobrecarregar seus cérebros com sinais de felicidade, ocorre uma reação igual e oposta. Seu nível de dopamina diminui. Eles ficam irritados, tristes e apáticos. Quando perdem uma partida ou os pais os impedem de jogar, eles jogam seus controles de forma brusca, entram em um estado de abstinência e perdem a motivação para fazer praticamente qualquer outra coisa."
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Falando em vícios online:
"Antes checávamos todos os dias, agora é a cada minuto: como ficamos viciados em aplicativos meteorológicos".
Um subgênero do funk que mistura referências de rap, sintetizadores desconcertantes, criado na Praia Grande (litoral de São Paulo) por volta de 2016 e popularizado por bailes como o DZ7, de Paraisópolis, ganhou o mundo muito por culpa de desafios do TikTok e agora parece estar sendo reinventado (ou apropriado?) por um jovem norueguês.
Esse subgênero é o Mandelão, que para muitos (principalmente lá fora) passou a ser chamado de Brazilian Phonk. A história levanta a questão: "Por que o funk de bailes de SP ganhou outro nome e se espalhou pela Europa?".
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E o Estadão continua a boa cobertura da nova música jovem brasileira - Quem é o DJ K: "Produtor nascido na periferia de Diadema e revelado em Heliópolis faz ‘funk bruxaria'".
The Bear é incrível, já falamos algumas vezes aqui na MargeM, e a música é parte importante da série. Faixas do REM, por exemplo, embalam várias cenas. Nesta segunda e mais recente temporada, a linda Strange Currencies aparece em diversas versões. A banda até fez novo clipe para a música, com imagens de The Bear (o clipe é um "The Bear edit". Chique).
Pois Michael Stipe & co. decidiram montar uma playlist com suas 40 melhores faixas do REM. Cada um dos quatro membros da banda escolheu 10 músicas (as primeiras 10 são de Stipe, depois vêm as de Peter Buck, Mike Mills e Bill Berry). Coisa linda, claro.
A morte de Sinéad O'Connor me levou a Nothing Compares, documentário em que a cantora toca em momentos ultrapessoais e complicados, como a relação abusiva que sofria da mãe (quando criança, ela chegou a passar duas semanas dormindo no jardim porque a mãe não a deixava entrar em casa).
O doc relembra momentos marcantes na vida da irlandesa, como a vez em que se recusava a entrar em um show se o hino dos EUA fosse tocado antes de sua apresentação. O gesto causou revolta e diversas rádios daquele país boicotaram músicas da irlandesa. Sinead O'Connor já mostrava, ali, que seria impossível dissociar a sua postura social e política de suas canções.
Algum tempo depois, viria a apresentação no Saturday Night Live em que rasgou uma foto do papa, ao vivo. Sua carreira nunca mais seria a mesma.
Uma cantora com rara força emotiva, Sinéad O'Connor prestava atenção em diversas cenas musicais e apoiava artistas que, segundo ela, eram injustiçados ou subvalorizados. Lançou uma versão de I Want Your (Hands on Me) com a MC Lyte em 1988, época em que o hip hop estava longe do alcance e da aceitação que tem hoje. E, em 1989, ela se apresentou no Grammy com o logo do Public Enemy pintado na cabeça (o PE havia boicotado o Grammy porque a premiação se recusava a considerar o hip-hop como um "gênero legítimo").
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E uma lista com 10 grandes músicas da cantora.
De Belo Horizonte, Omoloko é um talentoso DJ que sabe criar sets vibrantes e deliciosos que misturam house, disco, coisas mais novas, outras mais antigas.
Se não acredita, ouça este set gravado em uma recente Selvagem.
As imagens desta newsletter são de Intimate Strangers, uma expo de "fotografias e vídeos poderosos e altamente pessoais, criados por artistas visuais que colocaram um ou ambos os pais como assuntos centrais em uma série de trabalhos".
→ Como o inventor do primeiro chatbot se voltou contra a IA.
→ "Por que a inteligência artificial generativa não vai desestabilizar a cultura dos livros."
→ Como Larry Gagosian reformulou o mundo da arte.
→ A história de Regal86, o "audacioso DJ e produtor mexicano que está rasgando o livro de regras do techno e reescrevendo-o em seus próprios termos".
→ Os 30 anos de Siamese Dream.
→ Uma playlist enorme: A história da acid house.
→ Um gráfico com as 100 marcas mais valiosas do mundo.
→ Por que muitas jovens estão congelando seus óvulos. ("#CongelamentoDeÓvulos para menores de 25 anos está bombando no TikTok.")
→ Em meio ao avanço da tecnologia e após uma dolorosa pandemia, como os avós vêm participando da vida dos netos?
→ Figurinista de Barbie explica o que define o Barbiecore.
→ Há uma ligação curiosa entre nossa mente e nossos pés: "Por que caminhar nos ajuda a pensar".
→ Hoodmaps. (Um mapa de cidades do mundo com anotações feitas por turistas e locais. Em São Paulo, tem local descrito como "pseudo europeus"; no Recife, um bairro classificado como "maconha e comunistas".)
Esse clipe com essa música e as imagens de The Bear mexeu com as minhas estruturas.