Todo mundo quer a sua atenção
Políticos, criadores, esportistas: quem está na internet quer capturar a sua atenção; a curadora do Spotify capaz de levantar a carreira de um jovem artista; e mais, nesta MargeM 250
O podcast do Ezra Klein é dos mais populares dos EUA. Ele fala bastante sobre política e sociedade de forma clara, explicativa e com argumentos, goste ou não deles, bem encadeados.
Em um dos últimos episódios, ele tenta entender a derrota dos democratas para Trump. Um ponto que ele coloca: o resultado das eleições presidenciais dos EUA também pode ser explicado a partir da disputa pela atenção dos eleitores.
Meu interesse aqui não é a política em si, mas a busca pela atenção. É o que todo mundo quer hoje: políticos, artistas pop, criadores, jornalistas, celebridades, marcas. A atenção é a moeda mais valiosa em uma realidade em que tudo é conteúdo.
E, se tudo é conteúdo, quando um criador produz um conteúdo e tenta capturar a atenção das pessoas esse criador está competindo não apenas com outros criadores que estão produzindo novos conteúdos mas também com todos os conteúdos já produzidos na história.
Apresentador da MSNBC e autor do livro The Sirens’ Call: How Attention Became the World’s Most Endangered Resource, Chris Hayes explicou no podcast do Ezra Klein:
“A cada momento em que você tenta captar a atenção de alguém hoje, está competindo com todo o conteúdo já feito pela humanidade.”
É por isso que tentar ganhar uma grana a partir da “criação de conteúdo” é difícil pra caramba. Porque não basta “criar”. Tem de fazer com que um número mínimo de pessoas preste atenção a esse conteúdo e, ainda, mesmo tendo todas as séries, filmes, músicas e podcasts disponíveis nas plataformas de streaming, mesmo com todo o esporte sendo transmitido e discutido, mesmo com todas as postagens nas redes sociais e todas as reportagens e entrevistas e colunas sendo publicadas por veículos de mídia, enfim, mesmo com tudo isso à disposição no ambiente online, o criador tem de produzir um conteúdo atraente e estimulante o suficiente para despertar nas pessoas o desejo de voltar a dedicar a valiosa atenção delas ao conteúdo que esse criador continuará produzindo.
Alguma dúvida de por que tem tanta gente com a saúde mental em frangalhos?
O livro do Chris Hayes, linkado acima, tá repercutindo bastante na imprensa dos EUA.
Ele escreveu dois bons artigos. Um deles, no New York Times:
“É fácil sentir que estamos presos em uma era que não nos deixa espaço para simplesmente sentar e pensar. Mas vale notar que, por mais que as formas atuais de capitalismo da atenção existam para capturar nossa atenção, há uma parte muito profunda de nós que deseja que ela seja capturada.”
“Cada aspecto da vida humana, em todas as amplas categorias de organização social, está sendo reorganizado em torno da busca por atenção. Ela é agora o recurso definidor da nossa era.”
Conhece a Sulinna Ong? Se você curte música pop, pode até não saber quem ela é, mas provavelmente já ouviu algum artista que foi bombado por ela.
Como explica esta matéria (ou por este link), “Ong supervisiona 130 funcionários do Spotify que fazem o que os poderosos algoritmos do serviço não conseguem: descobrir as melhores músicas novas e apresentá-las cuidadosamente em playlists para os ouvintes que irão devorá-las. Fazer com que uma música nova chegue aos ouvidos de Ong pode impulsionar a carreira de um artista”.
Seja no Spotify ou em outras plataformas, os algoritmos dão as cartas. Mas os curadores (na música, na cultura, no jornalismo etc.) ainda são bem importantes.
Sem etarismo no rock and roll:
“Alguns dos roadies e profissionais de som mais respeitados e constantemente ativos da indústria da música ao vivo estão trabalhando há mais de meio século.”
“Somos uma banda ao mesmo tempo abençoada e amaldiçoada.”
A frase é do Stuart Staples, fundador e vocalista do Tindersticks, banda que vem pela primeira vez ao Brasil. Ingressos aqui.
Fiz uma entrevista com ele para o UOL, em que falou sobre a relação da música com a classe trabalhadora e como é ser uma banda meio diferente na cena do rock.
“Henry Roy combina sonho, observação, imaginação e resistência poética.” É assim que a editora Loose Joints descreve o fotógrafo franco-haitiano, que lança livro com quatro décadas de trabalho. As imagens desta edição estão na obra.
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→ Para ganhar dinheiro no mundo da música, nada melhor do que ter uma faixa como tema de um seriado de TV.
→ A Netflix divulgou os resultados do quarto trimestre de 2024. A plataforma ultrapassou os 300 milhões de assinantes. Além disso, a audiência global chegou a 700 milhões de pessoas.
→ Para tentar entender como comem e vivem os locais de uma cidade, este cara argumenta que não há nada como ir a fast-foods.
→ O “século anti-social”. (“Os americanos estão passando menos tempo com outras pessoas do que em qualquer outro período para o qual temos dados confiáveis, desde 1965.”)
→ Os melhores momentos do Campeonato Mundial de Excel.
Vejo a atenção como a droga do século, somos o tempo todo bombardeados por conteúdos, via algoritmos, somos todos drogados e nem nos damos conta disto.
Eu percebi isto em 2024 quando desliguei o Instagram e fiquei mais tempo lendo. E mesmo assim ainda caio em tentação e abro o ditocujo. Uma drogaaaá
Tenho a impressão que essa matéria do WSJ sobre a curadora do Spotify é contenção de danos. Longe de discordar da importância de curadores humanos, muito pelo contrário, mas essa romantização aí da chefe dos curadores, no mesmo mês que saiu o artigo na Harpers ( https://archive.ph/nScZW ) sobre as tramóias do Spotify com curadoria, me parece bastante assessoria de imprensa. Se a tônica discursiva do momento é repensar a relação com as Big Tech, principalmente as monopolistas alinhadas ao governo Trump, vale lembrar que o Spotify é uma delas. ( https://pitchfork.com/news/spotify-hosts-trump-inauguration-brunch-and-makes-150000-donation-to-ceremony/ )