A Era dos Fandoms e o futuro dos festivais
A relação, digamos, tóxica de fãs e popstars. Tem gente que aposta que o futuro dos festivais será liderado pelos artistas. A Substância. E mais, nesta MargeM 244
Um dos assuntos que mais tem ocupado o meu tempo recentemente é a relação de artistas e fãs. É uma relação que não é mais tão de cima para baixo como era antigamente. Os novos fãs são ainda mais atuantes – e querem ser reconhecidos por isso.
Estamos em uma Era dos Fandoms – este é o nome de um estudo feito por Monks + floatvibes que tenta entender como é esse comportamento dos fãs com seus ídolos aqui no Brasil e como “as comunidades de fãs estão transformando o mercado, a publicidade e a forma como consumimos”.
(Fandom vem da junção de fãs com kingdom, reino em inglês. O estudo pode ser obtido por aqui.)
Na MargeM passada, escrevi um pouco sobre o assunto. Mas ele continua quente. Tanto que o Alan Moore, o escritor-quadrinista que criou Watchmen, V de Vingança e a recente tour de force Jerusalém, escreveu um texto para o Guardian em que aborda o fandom e suas consequências:
“Acredito que o fandom é uma parte maravilhosa e vital da cultura contemporânea, sem a qual essa cultura acaba estagnada, atrofiada e morta. Ao mesmo tempo, estou certo de que o fandom é, por vezes, uma praga grotesca que envenena a sociedade ao seu redor com suas obsessões mesquinhas e um senso de direito ridículo e sem mérito”.
Mais. O New York Times foi a um recente show de Chappell Roan, após a cantora ter cancelado aparições em festivais e reclamado publicamente da relação com alguns fãs. O crítico Jon Caramanica, do NYT, escreveu o seguinte sobre Roan e seu fandom:
“Fandom deveria ser uma forma de obsessão, um registro dedicado de adoração, mas nesses vídeos, Roan estava perguntando, essencialmente, como você pode ser fã de Chappell Roan e entender tão pouco sobre Chappell Roan?”.
“A ideia de que um fã pode abandonar uma estrela é aceita; a noção de que uma estrela pode rejeitar um fã ainda é um território pouco explorado.”
Voltando um pouco ao estudo A Era dos Fandoms, há ali uma diferenciação entre os fãs de décadas atrás e os de agora. Se antigamente havia a figura dos fãs de bandas como Beatles que se acotovelavam e gritavam nas ruas pra ver seus músicos favoritos, nestes 2020 os fãs não querem mais estar em uma posição passiva; “querem ser servidos”. Querem a recompensa por tanta devoção e tempo que dedicam online e offline.
Além disso, diz o estudo, hoje os fandoms “se abrigam muito no dark social (grupos de WhatsApp. Facebook, Discord), é ali que os conteúdos recebem mais engajamento”.
A relação de fandom e popstars é tão quente que o cinema também está produzindo filmes sobre o tema.
E, como afirma o New York Times, em comentário sobre Sorria 2 e Armadilha: “Ser uma estrela pop no cinema parece muito mais aterrorizante. Filmes de horror centrados em estrelas pop estão super em alta atualmente”.
Há não muito tempo, estávamos discutindo, inclusive aqui na MargeM, uma certa crise dos festivais e grandes shows. Mas será que, em vez de crise, estamos assistindo a uma mudança de formato?
Porque, se os grandes eventos e shows não estão indo tão bem, tem gente apostando que o futuro dos festivais será “nichado e liderado pelos próprios artistas”.
Quando se fala em festivais comandados pelos próprios artistas, não significa que as grandes produtoras estarão de fora – mas que se juntarão a bandas e cantoras para montar os festivais.
Porque fica mais fácil (e lucrativo) chamar público ao associar o nome de um artista popular ao festival e montar uma, digamos, “experiência” que agrade a essas pessoas. Foi o que rolou no recente Knotfest, em que a banda Slipknot veio ao país e tocou ao lado de outras bandas.
Não é algo exatamente novo: outro exemplo é o Solid Sound, feito pela banda Wilco e que neste ano teve a oitava edição. Mas é algo que vem atraindo produtoras e nomes que vão de Deftones a Karol G.
Os festivais nichados são outra mina de ouro. Como mostra o When We Were Young, dedicado ao emo e punk-pop, que vai reunir Panic! At the Disco, Weezer, Avril Lavigne e mais um monte de gente em Las Vegas em 2025. Ou o All Things Go, voltado ao público queer, que foi criado em Baltimore e acabou de ser realizado pela primeira vez em Nova York.
No Brasil, um exemplo de sucesso de festival nichado é o Coala, feito só com artistas e bandas nascidas aqui.
“My Liked Songs”, “Cozy Fall Playlist”, “True Crime Podcast”, “Beatles Greatest Hits”, “Gym Bangers” e “Short Sad Songs”.
Esses são apenas os nomes de algumas das músicas de uma pessoa-artista que atende pelo pseudônimo Catbreath? e que está tentando manipular o algoritmo das plataformas de streaming de áudio, especialmente do Spotify, para ganhar audições.
→ Enquanto isso, o preço dos planos de assinatura nas plataformas de streaming de filmes e séries não para de subir, mas a satisfação dos clientes não para de cair.
Já viu A Substância? Eu adorei, não só por discutir um tema tão atual, como a obsessão da sociedade (especialmente em cima de mulheres) pela busca de um colágeno-eterno, um ideal de juventude irreal e perigoso, mas por tê-lo feito dentro de um filme tipo horror-B; esteticamente lembra coisas do Cronenberg e do John Carpenter.
Bem, esta escritora, artista e diretora parte de uma experiência pessoal para argumentar como o filme protagonizado pela Demi Moore lida com um assunto que afeta tantas mulheres.
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